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postado em 03/11/2021

Um guia da produção musical brasileira

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Em Álbum 1 - 1950 a 1972: saudade, bossa nova e as revoluções dos anos 1960, Pedro Alexandre Sanches faz um passeio sem preconceitos entre estilos e artistas para mostrar a consolidação dos LPs


Pode-se dizer que boa parte da identidade do brasileiro está gravada em músicas que atravessam o tempo e contam, cada qual no seu estilo e na sua época, uma parte da história do país. Essa linha de pensamento pode ser clara para quem vivenciou momentos marcantes sob trilhas sonoras que dialogavam com os acontecimentos de um determinado período, mas entender como ocorreu a chegada até ali não é tão fácil. Essa é a missão do jornalista Pedro Alexandre Sanches, autor do e-book Álbum 1 - 1950 a 1972: saudade, bossa nova e as revoluções dos anos 1960, que destrincha, nesse primeiro dos quatro volumes previstos para a coleção Álbum: a história da música brasileira por seus discos, a transição da produção fonográfica para o padrão do long-play (LP) desde os anos 1950, passando por períodos de domínio de estilos como o samba, a bossa nova e a tropicália, até chegar à onda black power que dominou as paradas no começo dos 1970.

A indústria fonográfica brasileira estabeleceu-se, pouco após a sua “fundação”, no final do século XIX, sob o modelo de singles, ou seja, a oferta de canções avulsas em compactos de duas ou quatro composições. Nesse cenário, nomes, como o de Carmen Miranda, seguido por gente do quilate de Pixinguinha, Donga e Orlando Silva, sustentaram sucessos em sequência. Os “bolachões” de 12 polegadas trouxeram o modelo do long-play, álbuns de maior duração que compunham uma narrativa, um recorte de períodos em que influências musicais e um determinado sentimento davam a tônica à vida de intérpretes e compositores.

O real estabelecimento do modelo de álbum veio no final dos anos 1950 e teve um grande aliado: a bossa nova. João Gilberto crava o nome na história com Chega de saudade e alguns primeiros nomes do rock aparecem aqui, representados por Roberto Carlos. No decorrer daquele período, muitos artistas de peso gravaram grandes discos, com domínio desses gêneros musicais, mas com abertura para a formatação da MPB sob a batuta de Nara Leão, Wilson Simonal e outros.

 


Ícones: Chega de saudade estabelece o conceito de álbum e Tropicália ou Panis et circensis é definidor de um movimento

 

Esse cenário abriu as portas para mais um dos aclamados movimentos artísticos brasileiros do século, com grande influência na música: a tropicália. Se um álbum pode representar a abertura dessa nova fase, esse é Tropicália ou Panis et circensis (1968), que bota pra fora toda a repressão exercida pelo governo militar no auge de sua atuação. Estoura nesse período o alcance dos festivais, que consagrou nomes como Geraldo Vandré e seu Canto geral, que culminaria, mais tarde, na sua messiânica canção "Pra não dizer que não falei das flores".

O livro avança para o período em que a música brasileira entrou de cabeça no black power, com a ascensão de figuras como Tim Maia, além da miscelânea proposta pelo Clube da Esquina, de Milton Nascimento e cia. Mais adiante, a obra resvala na moda, entre 1970 e 1972, do estilo conhecido como “samba joia”, encabeçado pelos Originais do Samba.

Álbum 1 - 1950 a 1972: saudade, bossa nova e as revoluções dos anos 1960 faz um passeio sem preconceitos entre estilos e artistas que não são unânimes. Entre as figuras marcantes do mainstream aparecem nomes como Cascatinha e Inhana, Tião Carreiro e Pardinho, Teixeirinha, Waldik Soriano, Odair José, entre muitos outros.

 


Sem preconceitos: Nomes como Inezita Barroso e Waldik Soriano são lembrados pelo autor

 

O livro ainda conta com registro das artes de capa dos principais LPs lançados no período, dando vazão à nostalgia de uma época tão inspirada. A coleção Álbum será lançada, num primeiro momento, apenas no formato digital. Pedro Alexandre Sanches, que mantém atualizados um blog e uma playlist baseados no livro, falou com exclusidade sobre este trabalho. Acompanhe a seguir: