Para viver mais e melhor
Textos de Esporte para idosos: uma abordagem inclusiva discutem os conceitos de atividade física e qualidade de vida.
Segundo dados do IBGE e do IPEA, o crescimento da participação dos idosos na população brasileira ao longo da segunda metade do século XX duplicou, saltando de 4,3%, em 1950, para 8,6% na virada do século. Ainda de acordo com as mesmas fontes, em 2020, haverá, em números absolutos, 30,9 milhões de idosos no país. E, em 2040, eles serão 55 milhões – treze dos quais com mais de oitenta anos. Em relação à expectativa de vida, entre 1991 e 2007, o Brasil transitou de uma média de 67 anos para uma idade em torno de 72,5 anos, devendo chegar em 2015 à média aproximada de 75 anos de vida. Nessa progressão, a população brasileira viverá mais de 80 anos no início da década de 2050.
Uma vez que as conquistas científicas e tecnológicas estão fazendo as pessoas viverem mais, alargando os limites da terceira idade, o grande desafio das nações do mundo globalizado nas próximas décadas será o de promover políticas públicas adequadas às necessidades sociais da população idosa. A experiência da longevidade certamente está redefinindo o sentido da vida. Assim, viver mais implicará obrigatoriamente a ideia de viver melhor, para a qual as noções de dignidade, respeito e bem-estar social são essenciais. A questão, portanto, aponta para a importância de nos prepararmos adequadamente para os desafios que o envelhecimento tem colocado em pauta no que se refere ao emprego do tempo livre e aos cuidados com a saúde, em caráter estrito, e à busca da qualidade de vida de modo geral.
As atividades físicas realizadas, individual e coletivamente, colaboram com a autoestima do idoso, fazendo-o adquirir (ou mesmo refinar) sua consciência corporal e interagir melhor com o mundo. Atrelado aos conceitos de performance e de espetáculo, o esporte pode ser excludente para a maioria dos idosos. Contudo, examinado pelo viés do lazer e da cultura, ele pode representar um benefício educativo e social para eles, desde que respeitados interesses, necessidades e condições individuais.
O Programa de Atividades Físicas para Idosos do Sesc São Paulo teve início em 1974, pautado nas experiências bem-sucedidas da própria instituição e em estudos publicados nos Estados Unidos, França e Alemanha a respeito da função educativa da prática de atividades físicas para o público da terceira idade e de seus inúmeros benefícios. Desde então, tal trabalho ganhou impulso em parceria com os demais programas socioculturais e físico-esportivos da instituição, constituindo uma proposta integrada de ação orientada pelo acompanhamento diligente das mais modernas pesquisas científicas.
Já o Programa Esporte para Idosos do Sesc São Paulo teve início na década de 1980, quando a entidade promoveu um encontro entre os profissionais de educação física que atuam nela para debater as implicações da prática esportiva para idosos. A partir de discussões garantidas por um consistente embasamento teórico, foram elaboradas as primeiras propostas de desenvolvimento de modalidades esportivas adaptadas ao público da terceira idade.
Tomando por base não somente esse longo histórico de atuação como também muitos referenciais práticos e teóricos debatidos em encontros de capacitação profissional que o Sesc São Paulo promoveu durante o ano de 2002 para professores de atividades físicas e recreativas da instituição, as Edições Sesc SP lançaram Esporte para idosos: uma abordagem inclusiva, cujo intuito é contribuir para o trabalho prático na área de esportes com esta faixa etária, almejando, além da definição de conceitos, objetivos e metodologia, a elaboração de um conjunto de propostas efetivas de ação.
Solidamente fundamentados nas relações entre atividade física, qualidade de vida e envelhecimento, os textos da obra renovam o conceito de prática esportiva, propondo ao leitor – seja ele jovem ou velho – inúmeras reflexões. Esporte para idosos: uma abordagem inclusiva desloca o enfoque do esporte da esfera do rendimento e da competição (nem sempre comprometidos com a promoção da saúde) para o âmbito da atividade sociocultural, que implica os conceitos de participação, liberdade, autonomia e inclusão. Tal abordagem é coerente com a filosofia do Sesc, para o qual a atividade esportiva é um direito de todo e qualquer cidadão, antes de configurar um privilégio destinado a um grupo restrito de indivíduos capacitados.
Organizado por Maria Aparecida Ceciliano de Souza, Esporte para idosos: uma abordagem inclusiva apresenta de maneira didática a sistematização das atividades físicas realizadas nos últimos anos nos centros culturais, desportivos e de saúde do Sesc São Paulo. Fartamente exemplificado com fotos e ilustrações, o livro está dividido em duas partes. A primeira delas reúne quatro capítulos teóricos, nos quais se discutem os conceitos de atividade física, atividade esportiva, qualidade de vida e envelhecimento. O grande mérito desta parte é de ordem metodológica. A fim de atender aos mais variados níveis de leitura, os autores dos capítulos transitam tranquilamente pelo terreno das definições e sínteses, dos dados históricos e científicos, dos exemplos e relatos, concebendo textos altamente estimulantes para o leitor.
A segunda parte do livro apresenta um guia de modalidades esportivas que relaciona trinta práticas nas quais se incluem tanto aquelas consideradas tradicionais (como esportes com raquetes, atletismo, esportes aquáticos, esportes de salão e esportes de quadra e campo) quanto as chamadas “atividades diferenciadas” como frisbee, gateball, keimagol, quimbol, ramerbol, shuffleboard, sinucabol e tamboréu. Os objetivos e a metodologia de cada um deles são didaticamente descritos e relacionados aos conceitos de motivação, integração, adequação, acessibilidade, progressividade, adaptação, inclusão, intervenção não diretiva e desenvolvimento integral. Os textos ainda descrevem as principais regras das atividades e suas possíveis variações, identificando os equipamentos e os espaços necessários à realização de todas elas.
Com a publicação de Esporte para idosos: uma abordagem inclusiva, o Sesc São Paulo, coerente com seu pioneirismo na área do bem-estar social, promove o conhecimento técnico e apresenta estratégias de ações voltadas ao incremento da qualidade de vida, concebendo uma obra cuja grande contribuição será a de nortear programas, estimular pesquisas e fomentar a troca de informações.