Sesc SP

postado em 29/06/2014

Eder: da inquietação, vem a arte

 eder

      


Por Cris Lisboa e Marília Pozzobom*

 

No Brasil, a crítica fotográfica é escassa, ou quase inexistente. Paradoxalmente, nosso país é uma grande incubadora de novos fotógrafos. São esses que Eder Chiodetto lembra em seu livro, Geração 00: a nova fotografia brasileira. A publicação de 272 páginas, lançada pelas Edições Sesc São Paulo, é um documento do que esses novos nomes produziram entre os anos 2001 e 2010. É essa geração que se atreveu a documentar o imaginário de uma forma que nenhuma outra foi capaz. Que usou da tecnologia para transformar o que sentia em imagens.

Eder Chiodetto é insatisfeito com a acomodação alheia. Reflete sobre os ensaios fotográficos jornalísticos, que se transformaram em arte nas paredes das bienais pelo mundo inteiro. Sobre o papel do fotojornalista, que agora luta contra o mingau frio que lhe é servido quando as pautas quentes são fotografadas em telefones celulares. E talvez por isso tenha optado por imortalizar a obra daqueles que, como a si mesmo, quebraram tabus e revolucionaram a forma como se registra o mundo. Da inquietação, vem a arte.

Um coração quebrado. Na maneira mais humana de sentir dor, Eder descobriu que era fotógrafo. Ao encontro das obviedades da vida, buscou no trabalho um motivo para deixar para trás o seu futuro, que agora era passado. Pegou uma câmera, foi ver o mundo e nunca mais voltou. A sua curiosidade e ânsia o transformaram de repórter fotográfico a crítico de fotografia em pouco mais de quatro anos de carreira em um dos maiores jornais do país. E ao invés de curioso, ele passou a ser pioneiro.

Mesmo que fora dos padrões, ele deixa bem claro que o seu título não é uma lista definitiva dos artistas que “prometem” nesse momento. Não há a prepotência de dizer quem é bom ou ruim, quem vai ser famoso ou não. Há apenas a ideia de documentar um momento da fotografia brasileira. É uma obra para o futuro, como ele mesmo diz. “Esse livro não é tão bom agora do que espero que fique em 20, 30 anos”, afirma.

Em um dos livros favoritos de Eder, uma história chama atenção. Fernando, personagem de Suicídios exemplares, de Enrique Vila-Matas, tira a própria vida após ter o coração despedaçado por um amor não correspondido. A vontade de retomar as rédeas, perdidas na falta de amor próprio, empurram-no para um abismo onde todas as decisões são radicais. E foi assim com Éder, que no desespero achou a calma necessária para o seu trabalho atual. É como se o amor não correspondido, que o levou à beira do mesmo abismo, tivesse servido para ensiná-lo a ter calma. A aprender a observar e a preferir a companhia do silêncio. 

 


* Cris Lisboa e Marília Pozzobom são jornalistas e parceiras em projetos de conteúdo (ambas com matérias publicadas em revistas como a Rolling Stone, Trip e Noize).

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