Sesc SP

postado em 19/02/2013

Teatro brasileiro de A a Z

Dicionário do teatro 2 edição

      


Resultado de uma parceria entre a Editora Perspectiva e as Edições SESC São Paulo, dicionário inédito no país trata de temas, formas e conceitos ligados ao teatro brasileiro

 

Organizar e dar à luz um conjunto temático de linguagem corrente no teatro brasileiro é sinal do estágio de plena maturidade que alcançou a arte teatral no país nos últimos anos. Somente uma década após o professor francês Patrice Pavis ter publicado seu famoso Dicionário de teatro – reunindo 560 verbetes que sintetizam e discutem as grandes questões da dramaturgia, da encenação, da estética, da semiologia e da antropologia da arte dramática no Ocidente –, o público leitor do Brasil já pode ter acesso a uma seleção de vocábulos em língua vernácula que circulam por nossos meios cênicos e dramatúrgicos, modelando uma teatralidade essencialmente brasileira.

Organizado por um trio de pesquisadores a quem os estudos sobre teatro em língua portuguesa devem grandes iniciativas editoriais – Jacob Guinsburg, João Roberto Faria e Mariângela Alves de Lima –, o Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos (Editora Perspectiva/Edições Sesc São Paulo) não se resume a uma coletânea de termos técnicos, críticos e artísticos, aos moldes dos glossários que costumam acompanhar certas obras de caráter didático, expondo para o leitor significados que podem ser os mesmos em diferentes contextos idiomáticos e culturais. A publicação, na diversidade ordenada de seus verbetes, veicula um vasto conjunto de palavras e expressões que vem balizando a experiência teatral moderna e contemporânea, procurando compreendê-la pela ótica da originalidade e pela amplitude das manifestações de sua criatividade.

Trinta e nove estudiosos do teatro brasileiro e especialistas em diversas áreas do saber teatral foram convidados a integrar este projeto editorial coletivo (ou seria colaborativo? – como um dos verbetes da obra se propõe a discutir) cujo grande objetivo é reunir e organizar a terminologia e o temário da linguagem do teatro moderno em sua versão e uso nos palcos do país. O Dicionário do teatro brasileiro está focado – como o subtítulo já imputa a ele – em temas, formas e conceitos que dão conta do nosso fazer teatral, na perspectiva do presente, mas também de seu passado, no que diz respeito tanto à dramaturgia quanto à encenação. Sem examinar os verbetes à luz de sua evolução histórica, o compêndio explora, sempre que necessário, a perspectiva histórica em algumas acepções, a fim de melhor acompanhar as modulações de um determinado conceito ao longo do tempo.

Vale ressaltar a natureza desafiadora de um dicionário que congrega termos artísticos e estéticos (de validade universal) usados em um país de experiência sociocultural tão sui generis como o nosso. O leitor não tem à sua disposição uma conceituação muito extensa do que seja, por exemplo, o “teatro da contracultura”, mas um verbete no qual são privilegiadas as apropriações da contracultura por parte dos nossos dramaturgos, artistas e encenadores, a partir da década de 1960. O mesmo raciocínio vale para os demais verbetes em que são apresentadas questões relativas à estética teatral, às formas dramáticas e ao universo da encenação. Se, ao longo de sua história, o teatro brasileiro estabeleceu um diálogo bastante proveitoso com modelos estrangeiros que serviram de base para muitas criações originais, não se pode esquecer também que alguns conceitos examinados na obra são comprovadamente autóctones, isto é, nasceram e se desenvolveram em solo brasileiro. Assim, em nenhum outro dicionário de teatro o leitor encontrará verbetes como “teatro essencial” nos termos empregados pela atriz Denise Stoklos, ou “teatro e antropofagia”, conceito desenvolvido por Oswald de Andrade, em 1928, e retomado por José Celso Martinez Corrêa em O rei da vela (1967) e Antunes Filho em Macunaíma (1978).

Uma vez que o objetivo da obra é oferecer um léxico do teatro brasileiro, tal qual ele se apresenta contemporaneamente para os que o estudam, convém esclarecer que não há entradas por nomes de dramaturgos, encenadores, artistas ou títulos de peças e espetáculos. Nomes de criadores e títulos de criações aparecem sempre que as questões de estética teatral os demandem.

O Dicionário do teatro brasileiro representa uma conquista acadêmica e editorial muito relevante com implicações sobre os terrenos da arte, da cultura e da educação no país. Academicamente, ele celebra a grande contribuição que as pesquisas e os estudos universitários estão proporcionando ao teatro brasileiro – histórica, estética e criticamente. No âmbito editorial, ele reforça os laços entre a Editora Perspectiva (cujo interesse pela arte cênica e particularmente pela produção teatral brasileira já se expressou em quase duzentos títulos dedicados aos diferentes aspectos e enfoques deste gênero de criação) e as Edições Sesc São Paulo (cuja firmeza no intuito de proporcionar ao leitor momentos de reflexão sobre as mais variadas áreas do conhecimento pode ser comprovada na amplitude e consistência de seu catálogo) – duas casas editoriais que tratam tanto os livros como os leitores com a sensibilidade e a inteligência que eles merecem.

O Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos representa o primeiro esforço coletivo de especialistas brasileiros para sintetizar, num repertório específico, o estudo e a reflexão sobre nosso teatro a partir de um ponto de vista moderno e contemporâneo. Ao mesmo tempo, ele incentiva pesquisas, contribui para a capacitação profissional, incrementa a formação de plateias e divulga novos modos de apropriação do fazer teatral.

A definição estimulante e prazerosa dos verbetes, redigidos de forma clara, mas rigorosa, convida ao estudo sistemático e ao aprofundamento de certas questões. Na realização da empreitada, sobressaem o consistente conhecimento do assunto, a adequação metodológica, a pesquisa incansável e a exposição precisa e didática. Que a obra mereça sucessivas edições que lhe permitam o aperfeiçoamento de seu complexo conjunto temático e a incorporação de acréscimos.

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