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postado em 23/11/2016

Dramaturgia do clown

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Entradas clownescas, de Tristan Rémy, é fonte inédita e, até o momento, única dos primórdios do clown europeu e dos textos que originaram as entradas que aqui se tornaram tradicionais

Por Caco Mattos e Carolina Gonzalez*

 

Para a criação deste livro, Tristan Rémy pesquisou, registrou e transcreveu sessenta entradas de clowns europeus, sendo que muitas lhes foram transmitidas oralmente e algumas foram transcritas a partir de sua observação durante as apresentações dos grandes cômicos de sua época, entre eles Rhum, Pipo, Porto, Dario, Bario, Loriot, os Fratellini, entre outros. Isso revela o valor imaterial da obra, que ganha sua primeira edição brasileira mais de cinquenta anos depois de sua publicação na França.

Nele estão registrados cem anos de uma dramaturgia típica do circo que, entre o século XIX e meados do século XX, os clowns foram aperfeiçoando, com seus saberes, imaginação e interpretação, por meio da pesquisa empírica e transmitindo de geração em geração. Rémy nos deixa um registro detalhado dos jogos de cena, interpretação e relação de hierarquia entre o clown branco, o augusto e o diretor, muitas vezes denominado Monsieur Loyal, autoridade máxima no picadeiro.

Entradas clownescas possui ainda um texto introdutório em que o autor retraça a origem do clown na França, partindo da pantomima sem diálogo feita por artistas de circo (equilibristas e malabaristas) no início do século XIX; passando pelos números mudos que se transformaram em dialogados, por influência do clown inglês; chegando ao clown dos grandes circos itinerantes, que se tornaram um fenômeno mundial; e, finalmente, elencando os fatores que determinaram o declínio dessa dramaturgia.

No Brasil, Entradas clownescas serve a artistas e pesquisadores de circo e de teatro como fonte inédita e, até o momento, única dos primórdios do clown europeu e dos textos que originaram as entradas que aqui se tornaram tradicionais. Conhecer e constatar as transformações que ocorreram nesse processo é uma maneira de compreender as nossas próprias qualidades e tornar possível uma gênese da arte do clown no Brasil.

Mas o livro não se restringe somente à área de pesquisa, servindo também como material de cena para artistas aprendizes, amadores e profissionais de teatros, escolas e circos.

 


*Caco Mattos é ator, palhaço, pesquisador iconográfico e tradutor de textos do francês relacionados à dramaturgia do clown. Carolina Gonzalez é atriz, mestre em teatro pela Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 e tradutora de textos teatrais. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

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