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postado em 17/02/2017

O espaço onde vivemos

Foto: pxhere.com | CC Public Domain
Foto: pxhere.com | CC Public Domain

      


Desde a ocupação inicial do hábitat, até as distintas formas de organização desse espaço, a relação do homem com o ambiente construído é revista em Antropologia do espaço, obra de Marion Segaud

Por José Geraldo Simões Junior*

 

A obra de Marion Segaud é cativante. Há mais de trinta anos, dedica-se ao estudo das relações entre arquitetura e antropologia, e nos remete à compreensão das distintas formas de morar e as conexões deste universo com o espaço social.

O espaço habitado obviamente é uma construção social: essa é a premissa a partir do qual a autora inicia a abordagem deste livro. Isso significa que cada sociedade, em cada época, define uma forma de organização de seu espaço quotidiano em função de aspectos culturais, econômicos e políticos. Desde o espaço comunal das sociedades primitivas até as formas mais recentes de espaço urbano globalizado.

Para tanto, é preciso conhecer melhor os atores desse processo – os usuários, os moradores, os construtores, os arquitetos – e estudar como acontecem os princípios básicos dessa relação do homem com o espaço. Desde o ato fundacional, de ocupação inicial e construção do hábitat, até as distintas formas de organização desse espaço e seu funcionamento. Na cidade contemporânea, esses arranjos se expressam, por exemplo, pela diversidade cultural e morfológica observada em cada bairro. E também pela segregação socioespacial, cuja origem – econômica, étnica ou religiosa – é geradora de muitos conflitos.  Ou ainda, pela hierarquização dos espaços no interior da moradia.

É através do espaço territorial que cada ser humano (ou grupo) expressa sua individualidade e que reafirma sua identidade enquanto ator social. Trabalhando com essa relação, Marion Segaud, define quatro temas, de expressão universal, para a sua abordagem neste livro: habitar, fundar, distribuir e transformar.

Em Habitar, a autora apresenta como este conceito foi se definindo com precisão ao longo do século XX, extrapolando o entendimento tradicional de um simples artefato construtivo voltado à moradia, para uma noção mais ampliada – a do habitar como sendo também a expressão de uma cultura –permitindo assim a integração entre os campos disciplinares da arquitetura e o da antropologia social.

Fundar remete a uma ação de nossos ancestrais, com sentido cósmico. Significa o ato simbólico da posse e da demarcação do território a ser ocupado. O que nos faz lembrar Brasília, quando o urbanista Lúcio Costa desenhou uma cruz para demarcar o marco zero de fundação da cidade, em 1956.

Distribuir refere-se às formas de ocupação de cada indivíduo ou grupo no espaço. Está relacionado com uma atitude de ordenar, hierarquizar ou até mesmo segregar, o que pode acontecer tanto no espaço doméstico do interior da moradia, como no espaço urbano.

Por fim, o tema Transformar está relacionado às mudanças no espaço associado à sociedade contemporânea, aos fluxos globais da economia e às grandes migrações, onde distintas culturas se mesclam para definir uma nova concepção de apropriação e utilização do espaço arquitetônico e urbano – o “choque de civilizações”, segundo expressão da própria autora.

Este livro é indicado para o público interessado em conhecer melhor o espaço onde vivemos – o espaço social e suas relações com o ambiente construído. Arquitetos, urbanistas, antropólogos e cientistas sociais poderão encontrar valiosas referências conceituais para seus estudos e projetos.

 


* José Geraldo Simões Junior é pós-doutorado em urbanismo pela Technische Universität Wien (Austria) e atua nas áreas história do urbanismo, projetos urbanos, patrimônio cultural e assentamentos informais. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

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