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postado em 24/05/2017

Trem-circo-mineiro

<i>Sua Incelença, Ricardo III</i>. Foto: Rafael Telles
Sua Incelença, Ricardo III. Foto: Rafael Telles

      


Os organizadores de Imaginai! O teatro de Gabriel Villela souberam tecer uma colcha de retalhos com muitas fotos, depoimentos e comentários do próprio diretor sobre cada uma de suas peças

 

No palco de Gabriel Villela o espectador presencia, entre cores e formas vibrantes, um teatro que se abre para o mundo ao mesmo tempo em que evoca o clima nostálgico de montanhas e quintais mineiros. Contraste parece ser uma palavra que ajuda a definir seu modus operandi: a doçura e o rigor; o apreço pelo simples e o afinco laborioso em tudo o que se põe a fazer; a disposição para fazer uma arte coletiva e a atenção disciplinada a cada detalhe; a intensidade barroca e a vibração circense; o gosto pelo arcaico e a habilidade de falar ao público contemporâneo como poucos.

Para aqueles que o conhecem de perto e tiveram a oportunidade de participar do processo que se inicia no momento da escolha do texto – e dos incansáveis estudos sobre tudo que diz respeito a ele – até o fechar das cortinas, o método de Gabriel Villela é muito mais que uma “farra teatral”, como ele próprio declara; é resultado de pesquisa, erudição, técnica e envolvimento tanto nos aspectos operacionais como intelectuais, sem compartimentar saberes. Por isso tornou-se conhecido, reconhecido e premiado como diretor, figurinista e cenógrafo.

Considerado um dos expoentes da geração de diretores que, nos anos 1990, conquistou seu espaço “com gramática própria e sintaxe pessoal”, de acordo com Macksen Luiz. Sua peça de estreia, Você vai ver o que você vai ver, já chamou a atenção de críticos da envergadura de um Alberto Guzik. No ano seguinte, estava dirigindo ninguém menos que a grande atriz Ruth Escobar em Relações perigosas. Daí em diante, sua profícua produção colecionaria sucessos e marcos históricos, como a apresentação, junto com o Grupo Tapa, de Romeu e Julieta no Globe Theatre: foi a primeira vez que um grupo brasileiro se apresentava nos palcos do lendário teatro londrino.

Outra palavra que colabora para descrever o trabalho desse filho de Carmo do Rio Claro é diversidade. No repertório musical de suas peças, cabe o cancioneiro popular brasileiro, a música de câmara, as modas de viola, o rock and roll, a música iugoslava; tudo isso embalando Shakespeare, Calderón de la Barca, Beckett, João Cabral, Artur Azevedo, Chico Buarque etc. Mas tal ecletismo nunca descamba em excessos: como diz Fernando Neves nas considerações sobre esse trem-circo-mineiro,  “o condutor sabe a classe de cada um, não está equivocado, e tem habilidade e coerência para fazer com que todos tenham uma viagem maravilhosa”.

Neste Imaginai! – título que retoma o bordão shakespeariano predileto de Gabriel Villela –, a narrativa dos quase trinta anos de história a partir de sua estreia profissional vai sendo construída por belíssimas imagens de espetáculos e shows musicais, por depoimentos/causos ora cômicos, ora dramáticos, e por textos de companheiros de profissão e críticos, como Eduardo Moreira, Walderez de Barros, Fausto Viana e Macksen Luiz, entre outros. Os organizadores, Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi, souberam tecer essa colcha de retalhos à moda mineira de Gabriel Villela: um tanto de esmero, outro tanto de sensibilidade.    

 


Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: O Estado de S. Paulo | Livro detalha a instigante obra teatral de Gabriel Villela

:: Folha de S. Paulo | Diretor, cenógrafo e figurinista Gabriel Villela tem obra revista em livro

:: O Globo | Gabriel Villela narra cada etapa de sua vida no livro Imaginai!

:: Vídeo

:: Trecho do livro

 

 

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