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postado em 30/06/2017

O que mantém a arte viva?

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Em Uma nova introdução à arte do século XX, autor revê as principais postulações estéticas das artes moderna e contemporânea, desconfiando do processo de mitificação que lhes dá sustentação

 

O ato de leitura atravessado pela reflexão crítica acerca da experiência do contemporâneo: assim podemos definir o movimento que nos convida à fruição das páginas de Uma nova introdução à arte do século XX, de Jean-Philippe Domecq, obra cuja natureza entrelaça com sensibilidade e inteligência ímpares, sem se furtar à polêmica e ao debate, os principais temas ligados à história da arte e à crítica cultural do último século e meio, se entendermos que muitas das bases das principais manifestações artísticas que tomaram corpo no Novecento começaram a se desenvolver, por sua vez, na segunda metade do século XIX.

Hoje, para todos os interessados em arte, cultura e educação – seja em âmbito profissional, universitário ou por puro diletantismo –, uma questão incontornável se apresenta: como estudar, em plena pós-modernidade, um conjunto de eventos e de criações tratado como canônico pela historiografia oficial e já devidamente pasteurizado para consumo seguro, e inócuo, por parte dos meios de comunicação de massa e da indústria cultural? Ao risco de nos tornarmos deferentes demais ao futurismo, ao dadaísmo, ao surrealismo, à body art, à performance e à videoarte, por exemplo, dentre tantas outras experiências de vanguarda que se propuseram a revolucionar o século que presenciou a eclosão de duas guerras mundiais e a chegada do homem à Lua, corresponde a atitude de não termos mais nada a dizer sobre elas, ou pior, a tratá-las por meio de uma fraseologia a meio caminho entre o senso comum e a obtusidade. 

Daí a importância da perspectiva crítica adotada por Domecq sobre o vasto material que se propõe a examinar. Diante da grande segurança com a qual o autor revê, escrutina e reavalia as principais postulações estéticas das artes moderna e contemporânea, desconfiando do processo de mitificação que lhes dá sustentação, somos convidados, no aqui-agora, não somente a pensar em novas tensões a respeito daqueles modos de sensibilidade, como também a ressignificar o regime de percepção por meio do qual procuramos compreendê-los. 

O que mantém a arte viva? é o tipo de indagação subliminar que faz com que um livro dedicado ao século XX acabe também falando muito de nós, coetâneos do século XXI. Vale notar a esse respeito a quase obrigatória publicação do ensaio “A Arte do Contemporâneo acabou”, ao fim do presente volume, a título de posfácio. Nele, fazendo uso de uma prosa elíptica, repleta de marcas de subjetividade e cujo estilo contrasta com a sóbria elegância vazada no texto de introdução, Domecq se propõe a encenar uma impagável “comédia da crítica”, por meio da qual o leitor adentra o terreno do “fascínio da heresia” (a expressão cunhada por Peter Gay para sintetizar a aventura modernista) a fim de chegar a tempo de assistir às exéquias da crítica cultural contemporânea, atividade sem a qual (nunca é demais lembrar) não se pode interromper o moto-perpétuo alienante que há muito tempo, pautando nossas vidas, segue seu curso.              

 


Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: Trecho do livro

 

 

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