1917: o ano que abalou o mundo
Reunindo artigos sobre diversos aspectos da Revolução Russa, obra é lançada durante seminário internacional no Sesc Pinheiros, entre 26 e 29 de setembro
O novo lançamento das Edições Sesc São Paulo e da Boitempo Editorial, 1917: o ano que abalou o mundo, reflete sobre os aspectos culturais, político-econômicos e filosóficos inaugurados na Revolução Russa de 1917. A obra é lançada durante o seminário internacional homônimo realizado no Sesc Pinheiros, entre 26 e 29 de setembro, que reúne mais de trinta conferencistas nacionais e estrangeiros para discorrer sobre o tema durante quatro dias de cursos, palestras, debates, filmes e lançamentos de livros.
No livro, autores como Michael Löwy, Domenico Losurdo, Wendy Goldman, Adilson Mendes e Arlete Cavaliere analisam em profundidade tópicos como a influência e a herança do movimento no Brasil, as relações entre pensamento filosófico e revolução, a participação das mulheres revolucionárias, o legado da Revolução, o cinema soviético e o teatro russo. Todos os textos são seguidos por fotografias e cartazes de época, que discutem e representam o legado e o processo da Revolução.
O pensador Michael Löwy revisita os ideais e sonhos da Revolução Russa considerando os atuais dilemas e conflitos que vêm eclodindo em diversos países envolvendo movimentos nacionalistas, “limpezas étnicas”, guerras religiosas, entre outros. Löwy resgata como foi elaborada a reflexão dos bolcheviques sobre a questão nacional e em que medida sua prática, nos primeiros anos da União Soviética, esteve à altura dos princípios expressos.
O totalitarismo e o conceito de colonialismo são temas do ensaio do filósofo italiano Domenico Losurdo, que pretende demonstrar que os líderes do nazismo alemão e da União Soviética tinham posições políticas antagônicas. “A guerra de Hitler foi uma guerra colonial, de base racial, bastante semelhante à política de conquistas dos Estados Unidos. A União Soviética de Stálin se opôs de forma vigorosa e bem-sucedida a essa guerra. Ou seja: Stálin e Hitler não são irmãos gêmeos, e sim inimigos mortais”, afirma.
Wendy Goldman assina o artigo "A libertação das mulheres e a Revolução Russa", que conta a história da participação feminina na sociedade e na política soviética à luz dos quatro elementos que compunham o projeto bolchevique de transformação social e jurídica: a socialização do trabalho doméstico, a plena igualdade entre gêneros, a livre união e o definhamento da família.
“A Revolução Russa foi a primeira a incluir as mulheres e seus interesses como parte integrante da coalizão e do programa revolucionários”.
Wendy Goldman
O cinema, por sua vez, é analisado no texto de Adilson Mendes, que expõe que os filmes produzidos naquele período permitem não apenas compreender a sociedade soviética, mas contribuem para redefinir completamente o gosto cinematográfico ao redor do mundo, chamando a atenção da crítica atualizada, interessada na potencialidade da nova arte e em seus aportes estéticos e políticos.
O artigo de Arlete Cavaliere, por exemplo, trata do experimentalismo e vanguarda do teatro russo a partir do movimento denominado Vanguardas Russas, gerado à época da Revolução. De acordo com a autora, “tanto no plano da dramaturgia como em sua expressão cênica, a arte teatral produziu a mais audaciosa simbiose de variadas tendências estéticas e artísticas, fomentando uma profusão de experiências cênicas inusitadas, que criaram uma nova concepção do fenômeno do teatro”.
“Todo o teatro russo de vanguarda, especialmente aquele que explodiu com a Revolução de 1917, estava orientado para uma concepção abstratizante da arte, impressa também na pintura e na literatura russas desde inícios do século XX”.
Arlete Cavalieri
1917: o ano que abalou o mundo traz ainda o prefácio "Aprendizados de Outubro", de José Luís Del Roio; e os artigos "Soviete: dentro e além do ‘século breve’", de Antonio Negri; "As revolucionárias de Outubro", de Tariq Ali; "O construtivismo russo: história, estética e política", de Clara Figueiredo; "A Revolução Russa e a fundação do PCB", de Anita Leocádia Prestes; "Reflexões não muito ortodoxas", de Luis Fernandes; "Do socialismo soviético ao novo capitalismo russo", de Lenina Pomeranz; e "Depois de Outubro", de China Miéville.
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