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postado em 20/10/2017

Entre o texto e a cena

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Em sua atividade de crítico teatral no Jornal do Brasil (1982-2010), Macksen Luiz capturou em palavras o que de mais importante acontecia nos palcos cariocas, registros agora reunidos em livro

Por Welington Andrade*

 

A palavra “crítica” advém da forma latina “criticus”. Esta se originou, por sua vez, do vocábulo grego “kritikós”, cujo amplo campo lexical não somente abrange as noções de separação, seleção, julgamento e interpretação (ações, vale notar, realizadas a partir do estabelecimento de certos “critérios”) como também se relaciona com a forma grega “krisis” – entendida a partir de quatro traços semânticos diversos, mas complementares: ação ou faculdade de separar, de discernir; luta, litígio, processo; decisão, juízo, sentença; resultado, desenlace, crise. Assim é que compete a um crítico julgar determinado objeto de sua contemplação sem, entretanto, deixar de entrar em crise com os modos de expressão desse mesmo objeto, com a maneira como ele os percebe, com os critérios que irão orientar sua interpretação e com seus próprios valores estéticos e pessoais.

O que chama a atenção na coletânea de críticas Macksen Luiz et alii – um belo título, aliás, para representar o gregarismo inerente à arte do teatro e sua inegável prontidão para com a ideia de alteridade – é a capacidade de discernimento do crítico, que cuidadosa e diletantemente se põe a serviço da fruição e da compreensão do fenômeno teatral, avaliando, sem ser arbitrário; arbitrando, sem soar idiossincrático. Ao separar muitas vezes o joio do trigo, ele faz que o texto crítico, por nunca se furtar à controvérsia e ao debate, entre em legítimo processo de investigação litigiosa com o complexo espectro de elementos flagrados em cena, de modo que o resultado, o desenlace, para além da observação pontual de determinados espetáculos, constitua um exercício epistemológico de maior envergadura, voltado ao exame atento de uma arte ancestral, desde sempre comprometida em radiografar a presença do homem no mundo e as sucessivas crises que o atravessam.

Um livro disposto a cobrir um arco temporal tão vasto – no qual se registra a pujante (embora quixotesca) criação teatral brasileira das últimas três décadas – é também um testemunho de como Macksen Luiz ama o teatro. Não como um juiz severo e sim como um defensor público de sua potencialidade e de suas virtudes.     

 


*Welington Andrade é doutor em literatura brasileira pela USP na área de dramaturgia, crítico de teatro e editor da revista Cult. Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: Trecho do livro

 

 

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