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postado em 05/04/2018

Música para ler

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Abismo de rosas: vida e obra de Canhoto, de Sérgio Estephan, traça a trajetória pessoal e artística de um dos maiores instrumentistas e compositores brasileiros de todos os tempos

 

Graças à iniciativa não somente de certos amantes e estudiosos da cultura brasileira como também de algumas editoras cujo perfil é fazer chegar ao público leitor obras de qualidade, que não estejam única e exclusivamente preocupadas em seguir o padrão da última moda ditada pela indústria cultural, o amplo e riquíssimo universo da música popular concebida no país desde fins do século XIX vem sendo registrado em livros escritos com a pena do apuro e do rigor informativos e a tinta da memória social, nos quais arte e história caminham de mãos dadas, procurando revelar um Brasil que hoje, infelizmente, talvez poucos brasileiros de fato conheçam ou por ele se interessem.   

Abismo de rosas: vida e obra de Canhoto, de Sérgio Estephan, é um desses livros. Especial pelo tema sobre o qual se debruça – a trajetória pessoal e artística de um dos maiores instrumentistas e compositores brasileiros de todos os tempos, o violonista Américo Jacomino ou, simplesmente, Canhoto (1889-1928) – e também pela metodologia adotada em suas páginas: um alinhavo absolutamente coerente e estimulante entre o particular e o universal, que convida o leitor a acompanhar de perto a vida do artista e a compreendê-la melhor pelo prisma do contexto sociocultural mais amplo que lhe serviu de moldura.         

Professor e pesquisador nas áreas de história, música e cultura do Brasil da primeira metade do século XX, em particular sobre o violão instrumental brasileiro, Sérgio Estephan organizou uma densa e espessa massa de informações e reflexões no livro, fruto de uma tese de doutorado defendida em história, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sob a orientação do Prof. Antonio Rago Filho. Aparadas as arestas que poderiam levar a obra a ser usufruída apenas por aqueles iniciados nos meandros acadêmicos, Sérgio escreveu um livro que irá interessar desde o leitor comum, curioso por conhecer melhor a história de nossa cultura, até aquele leitor mais especializado, ávido por se abastecer de informações reunidas pelo viés da sensibilidade e da inteligência.

Paulistano, filho de imigrantes italianos, pintor de painéis, compositor, instrumentista, professor de violão e funcionário público, Canhoto tornou-se uma das principais referências do violão instrumental brasileiro, convertendo-se também em uma espécie de mito que o apelido, tal como o dos jogadores de futebol do passado, só fez difundir e consagrar. Se o país teve e ainda tem inúmeros craques com alegria nos pés, não menos verdade é o fato de que ele seja também um celeiro de bambas que deixam escorrer virtuosismo e sensibilidade entre os dedos.

Do time em que jogam Garoto (1915-1955), Dilermando Reis (1916-1977), Dino 7 Cordas (1918-2006), Paulinho Nogueira (1929-2003), Baden Powell (1937-2000), Sebastião Tapajós (1943), Turibio Santos (1943), Rafael Rabello (1962-1995) e Yamandu Costa (1980), Canhoto é o capitão. O decano. O pioneiro. Que fez com que um instrumento marginalizado, coadjuvante na execução de modinhas e lundus, se transformasse em protagonista de concertos e shows. Com Canhoto, a música popular brasileira ganhou um companheiro inestimável: a voz ora contente, ora plangente, de um inseparável violão.    

 


Este texto foi originalmente publicado na orelha do livro.

 

Veja também:

:: Abismo de rosas: vida e obra de Canhoto | Resultado da pesquisa acadêmica do historiador Sérgio Estephan, livro apresenta a trajetória de uma das principais referências do violão instrumental brasileiro

:: vídeo

:: trecho do livro

 

 

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