Sesc SP

postado em 09/08/2018

A leitura só não basta

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Mestre em literatura e participante da programação da Edições Sesc na Bienal do Livro, Cristiane Tavares diz que a preocupação com a educação de base precisa vir primeiro

Por Gustavo Ranieri*

 

Os números não são novidade e nem agradam muito: de modo geral, a população brasileira não lê, ou então, lê muito pouco. E não são poucas as que defendem a ideia de que a leitura salvaria as pessoas, transformaria o cenário cultural no Brasil. Mas essa não é a opinião de Cristiane Tavares, mestre em literatura e crítica literária. Para ela, simplesmente ler não salva, não resolve, não sana os problemas.

“É preciso tirar esse poder que a leitura tem. Com o nível de desigualdade social que a gente vive, com o difícil acesso à educação, à cultura, a leitura só tem seu lugar se ela vem acompanhada de medidas de longo prazo. Mas não temos esse investimento na cultura, os professores não leram muitas vezes o quanto precisavam e nem tempo lhes foi dado para isso. Há toda uma questão histórica e cultural”, afirma ela, que ao lado de Sandra Medrano, pedagoga e mestre em didática da língua portuguesa, faz nesta quinta-feira, às 18h, um bate-papo no estande Edições Sesc, durante a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo (Aproveite para ver a programação completa aqui). O encontro gira em torno do livro A leitura, outra revolução, da argentina María Teresa Andruetto.

Para Tavares, mudar o cenário da leitura no país é uma consequência de ações mais importantes que precisam ser tomadas, como investimento na educação básica e em uma verdadeira formação de professores. Contudo, ela garante que há motivos para sermos otimistas. “Não coloco todos os políticos no mesmo saco. Por isso, digo que há, sim, vontade de vários para se mudar isso. Quando se investe em políticas afirmativas de inclusão nas faculdades, por exemplo, gera resultado, assim como na educação básica. Porque são políticas que vão mexer a médio e curto prazo.”

Também na opinião da especialista, boa parte desse otimismo está na cultura que vem sendo produzida nas periferias brasileiras, em movimentos como os saraus e o slam. “É uma produção contemporânea, pessoas que estão se expressando por meio da literatura. Acredito muito nessa juventude que vem de lugares que nem todo mundo está vendo.”

 

Veja também:

Além do encontro "A leitura, outra revolução", na sexta-feira, 10 de agosto, outra atividade coloca o cenário da leitura no Brasil em foco. Trata-se do bate-papo Literatura em revista, a qual reunirá o jornalista e editor Paulo Werneck e a editora Dolores Prades. Juntos, eles falam sobre o panorama da leitura no Brasil e a resistência de publicações, mantidas muitas vezes de forma independente. O encontro acontece também durante a Bienal, às 13h, no Salão de Ideias.

 

*Gustavo Ranieri é escritor e jornalista.
 

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