Sesc SP

postado em 11/08/2018

Precisamos falar sobre censura

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Em pleno século XXI, o cerceamento à liberdade de expressão artística no Brasil ainda paira como sombra de um passado tenebroso e é tema de mesa na Bienal do Livro SP

 

Desejávamos que fosse diferente, mas não é. A censura da arte, em pleno século XXI, é uma realidade que vem deixando suas marcas e ramificações no Brasil. No final de 2017, quase que ao mesmo tempo, quatro instituições se viram frente a manifestações que visavam o boicote e censura a exposições que estavam sendo exibidas.

No Museu de Arte Moderna, em São Paulo, durante a abertura da 35º Panorama da Arte Brasileira, uma menina de 4 anos, que estava acompanhada da mãe, interagiu com o artista Wagner Schwartz, que apresentou nu a performance La Bête. A cena, que foi filmada e publicada na rede, causou a indignação de grupos conservadores, gerando acusações de pedofilia. No Masp, também na capital paulista, a censura veio com a proibição de menores de idade acessarem a exposição Histórias da sexualidade, fato que foi revertido depois.

Enquanto isso, em Porto Alegre, o Santander Cultural acatou a pressão de grupos que pediam o encerramento da exposição Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira, acusando-a de "incentivo à pedofilia, zoofilia e contra os bons costumes". Já em Belo Horizonte, o alvo dos ataques na época foi a exposição Faça você mesmo sua Capela Sistina, com obras de Pedro Moraleida. Um grupo de evangélicos, liderado pelo vereador Jair de Gregório, alegou que as cento e trinta obras expostas colocavam as crianças em contato com a pornografia e pedofilia.

É justamente esse cerceamento de liberdade de expressão artística no Brasil que motivou um dos encontros neste sábado, 11 de agosto, na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Às 15h, no Salão de Ideias, acontece o bate-papo intitulado Arte e censura, o qual reunirá o historiador Francisco Alambert e a dramaturga Renata Pallottini. (Confira a programação completa aqui.)

“Esses tipos de manifestações reacionárias nos ligam àquilo que para nós foi tão brutalmente traumático, nos vinte anos de ditadura militar, que foi a censura, e que foi se espalhando de maneira absurda, quase irracional”, alerta Alambert. “A censura voltou com uma espécie de legitimidade aparente nas ruas. Só que agora, e isso tem a ver com a maneira que a mídia repercute essas coisas, qualquer manifestação de meia dúzia de birutas vira a aparência de uma grande manifestação, quando na verdade não é. E dessa forma esses grupos conseguem “legitimidade”, impondo violência e intolerância.”
 

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