Sesc SP

postado em 06/09/2018

O fim da história, do patrimônio e da memória

Foto: Tania Rego | Agência Brasil
Foto: Tania Rego | Agência Brasil

      


Após o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a discussão em torno da preservação efetiva dos bens culturais materiais e imateriais torna-se ainda mais necessária

 

A tragédia aconteceu. No dia 2 de setembro, quando um incêndio destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e 90% dos 20 milhões de itens que faziam parte de seu acervo, ninguém sabia expressar perfeitamente o sentimento provocado por esse dano irrecuperável. Ninguém ainda sabe.

O que se viu nas redes sociais foi a polarização política, com grupos partidários trocando acusações em torno de quem seria a responsabilidade pela instituição não ter a verba necessária para sua manutenção adequada, assim como políticos que se posicionaram para defender suas bandeiras.

Também descobriu-se que o prédio não tinha alvará dos bombeiros para funcionar. E que o número de brasileiros que, em 2017, visitaram o Louvre, em Paris, foi 50,5% superior à visitação total da instituição brasileira no mesmo ano.

“Era uma tragédia que já estava prevista. Primeiro, já se vê isso pelo sistema de recursos repassados. A câmara gasta mais dinheiro limpando os carros dos deputados do que o orçamento do museu; são coisas díspares. E, na universidade, como esse é apenas um dos setores dela, o dinheiro se dilui e se torna insuficiente”, afirma arrasado o artista plástico, pesquisador e professor Percival Tirapeli, autor do recém-lançado Patrimônio colonial latino-americano. “O que aconteceu no Rio é um problema escandaloso. A instituição tinha um uso muito concreto, muito pleno, de servir de museu com acervo diversificado em termos de objetos e como centro de pesquisa. É preciso que se conheça o orçamento, as demandas que foram feitas e não foram atendidas e lamentar”, opina também o sociólogo José Carlos Durand, autor do livro Política cultural e economia da cultura.

O especialista lembra que o edifício em si já havia sofrido inúmeras reformas desde que abrigou a família imperial quando da vinda de Dom João VI, em 1808. E que. por ter piso e divisórias praticamente só de madeira, não poderia abrigar tantos objetos como era o caso. “Não adianta jogar a culpa em um só, pois a culpa é de todos. Foi muita negligência. Construímos um novo Maracanã, gastou-se uma fortuna com edifícios para a Olimpíada, e ali do lado nenhum ministro foi quando o museu completou duzentos anos. Estive lá há cinco anos e já estava em estado lastimável, com muitas partes fechadas. E com uma ala fechada, ela se deteriora ainda mais e vira uma estufa com o calor do Rio de Janeiro. O problema é que era um local inadequado para se ter tudo aquilo. Era museu, laboratório, sala de aula, era um espaço multicultural e por isso mesmo é que deveria ter mais segurança. A história ruiu.”

O acontecido também reacende uma preocupação crescente e necessária no país: o olhar ao patrimônio histórico e cultural, atitude que necessita de mais políticas e estratégias de educação patrimonial, assim como fortalecer a economia da cultura. Para fomentar as discussões em torno do tema, dois títulos publicados pela Edições Sesc abordam questões pertinentes a quem quer que se interesse pela pela preservação do patrimônio cultural.

No livro Bens culturais e direitos humanos, as organizadoras Inês Virgínia Prado Soares  e Sandra Cureau procuram definir a natureza e o alcance dos direitos culturais, discutindo o patrimônio natural e o conhecimento tradicional, a importância da memória e da preservação de vestígios materiais para a investigação da verdade histórica, e como promover o acesso a esses bens.

Já em Economia do patrimônio cultural, a autora francesa Françoise Benhamou, professora em ciências sociais e ciências econômicas, discute a administração econômica do patrimônio cultural, ampliando a discussão acerca da sua manutenção e gestão e analisando políticas e ações de preservação do patrimônio cultural.

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