A viagem nos livros
Conheça cinco obras que levam o leitor a embarcar na descoberta de culturas e personagens fascinantes
Por Gustavo Ranieri*
Livros e viagens estão intimamente ligados. Certamente, para algum destino que um dia você tenha ido, um livro foi o grande companheiro. Ou ainda, tenha sido ele o guia de ruas e curiosidades do lado A e do lado B de uma cidade. Mas a relação mais fascinante é quando as histórias de publicações, aquelas sem qualquer caráter turístico, fazem o leitor embarcar no tempo e espaço de inúmeras culturas diferentes, capaz até de sentir os cheiros e ver as paisagens que as personagens relatam. Essa viagem avança capítulos e mais capítulos e não necessita que seu corpo físico esteja em um local específico.
Há 18 anos, o arquiteto Argus Caruso Saturnino realizou um desejo que surgiu tempos antes e que, de impraticável, se tornou realidade: dar a volta ao mundo de bicicleta. O feito terminou em 2005 e, anos depois, o livro Caminhos: volta ao mundo de bicicleta foi lançado, fazendo enorme sucesso e ganhando outra edição, em 2015.
Ele conta que a experiência de conhecer e vivenciar diferentes culturas é o ponto forte da publicação, a qual, até hoje, continua inspirando viajantes diversos, tenham eles subido na bike da imaginação ou mesmo encarado uma empreitada parecida na vida real. “A maior inspiração da minha própria viagem foram os livros. Posso dizer que a viagem veio dos livros e voltou a ser um. Caminhos convida o leitor à viagem. As fotos possuem legendas apenas no final, para que elas fiquem livres de vínculos e permitam essa viagem imagética”, enfatiza. “E o livro já cumpriu a missão mais nobre que poderia ter: foi inspiração para diversos ciclistas que me contam terem partido para longas viagens inspirados nele”, continua.
Mas caso você tenha em mãos Civilização islâmica em trinta biografias: os primeiros mil anos, do historiador norte-americano Chase F. Robinson, a viagem será diferente: dessa vez no tempo e na riqueza dessa civilização, adentrando a vida de nomes como o do profeta Maomé ou do sultão otomano Mehmed II. “A viagem nesse sentido é uma espécie de sair de si mesmo, no tempo e no espaço, mergulhar em outra civilização, em outro tempo e em outro mundo. E a Civilização islâmica permite isso”, conta o tradutor e professor livre-docente da USP, Mamede Mustafa Jarouche, que já foi um dos convidados de bate-papo em torno desta publicação.
As Edições Sesc tem mais três importantes livros que proporcionam ao leitor viagens extraordinárias por diferentes culturas. Um deles é o célebre Arte africana, do antropólogo britânico Frank Willett. Lançado originalmente em 1971, foi apenas em 2017 que a obra ganhou uma edição brasileira, apoiada na última revisão do autor. Em suas trezentas e vinte páginas, o leitor é convidado a conhecer uma África livre de estereótipos por meio da produção artística, o que inclui pintura, escultura e arquitetura, por exemplo.
Outro destaque é o recém-lançado China: uma história em objetos, da pesquisadora britânica Jessica Harrison-Hall. Chefe da área dedicada à China no British Museum, ela se vale de mais de seiscentos objetos – da cerâmica e da porcelana, dos jades e dos bronzes, da pintura e da caligrafia, dos tecidos e das artes decorativas – para destrinchar os últimos sete mil anos do gigante asiático, conhecido tanto pela icônica Grande Muralha quanto por abrigar importantes vestígios da evolução dos homo erectus e dos sapiens.
Por sua vez, com o olhar voltado ao Brasil, a viagem continua com uma vasta imersão na região amazônica, seguindo os passos do fotógrafo João Farkas, cujas fotos de dez incursões, realizadas por essa parte do território brasileiro, entre 1985 e 1999, estão no livro Amazônia ocupada. Justamente pela cultura dessa parte do país ser pouco conhecida por boa parte dos próprios brasileiros, esse livro promove uma incrível descoberta dos diversos grupos sociais que vivem na região e doa ao leitor os olhos de Farkas por uma íntima viagem.
*Gustavo Ranieri é escritor e jornalista.
