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postado em 29/04/2019

Ainda a lama, ainda o caos

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Coleção de e-books sobre álbuns que fizeram história na cena musical do país estreia com Da lama ao caos, livro que revela os bastidores do disco antológico de Chico Science & Nação Zumbi

Por Gustavo Ranieri*

 

Convenhamos, não é tarefa fácil escolher álbuns antológicos da música brasileira e que, de quebra, também tiveram importância histórica, que romperam ou apresentaram novos caminhos artísticos. Essa missão ficou para o jornalista e crítico Lauro Lisboa Garcia, organizador da coleção Discos da Música Brasileira, série de livros escritos para o formato e-book e que, em sua primeira fase, irá contar as histórias por trás de cinco discos-ícones nacionais.

“Não há compromisso com ordem cronológica, nem gênero musical, nem origem dos artistas. A proposta da coleção é contar histórias sobre os bastidores dos discos selecionados, mas, a partir disso, também dar uma panorâmica do momento em que eles surgiram e apontar a importância histórica que tais trabalhos tiveram no mercado e na estética musical, mas principalmente mostrar a influência que eles têm ainda hoje. Por isso são títulos de peso e que não ficaram datados, soam atemporais, sempre modernos”, enfatiza Garcia.

O primeiro e-book, que acaba de chegar ao público, é Da lama ao caos: que som é esse que vem de Pernambuco?, escrito por José Teles, jornalista paraibano que ancorou em Recife nos anos 1960. “O José é o homem de imprensa mais indicado para escrever sobre Chico Science & Nação Zumbi, porque estava dentro da cena. Começamos muito bem, porque o livro tem grandes revelações musicais que acredito que até quem é recifense pode se surpreender”, aponta o organizador da coleção, ressaltando que em abril, mesmo mês do lançamento do e-book, também foram celebrados os 25 anos do disco.

José Teles conta que o e-book não é somente inédito para o público de modo geral, mas, de alguma forma, também para ele, que descobriu mais coisas em torno daquele momento e de suas personagens. “Estou olhando de outros ângulos, hoje tenho acesso a todo um universo digital para pesquisas”, aponta ele, que também ressalta que as músicas do movimento manguebeat permanecem renovadas. “As letras criticavam aspectos locais, como as questões de oligarquias e outras coisas paradas com o início da ditadura e que não tinham voltado mais. Agora, as críticas locais se tornaram nacionais, a crítica sobre a cidade virou sobre o país todo, as músicas ganharam um novo significado.”

Lauro Lisboa Garcia explica que os títulos da primeira etapa da coleção são todos pós-tropicalistas, os quais, em sua opinião, só foram possíveis justamente pelo tropicalismo ter aberto as “portas para as fusões sonoras e experimentações no final da década de 1960”. A respeito dos próximos títulos, o organizador comenta ainda: “a coleção vai ter discos fundamentais em diversos estilos, mas evitamos abordar títulos já bastante explorados como Tropicália ou panis et circencis e Clube da esquina”. Justificando a escolha do livro inicial, Garcia explica que “candidatos não faltaram, mas esse [Da lama ao caos] é um dos mais fortes, porque é interessante como a semente plantada pelo pessoal do manguebeat rende muitos frutos até hoje”.

 

*Gustavo Ranieri é jornalista e escritor.