Sesc SP

postado em 27/02/2020

3X Shakespeare

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Depois de publicar Peter Brook e Ron Daniels, as Edições Sesc têm uma involuntária, mas muito bem-vinda coleção para se compreender a cena contemporânea sob a influência do bardo inglês

 

Ao longo de mais de quatro séculos desde o seu nascimento, em 1564, William Shakespeare alcançou um posto que, em outros tempos, poderia ser o de um Deus. De Romeu e Julieta a Macbeth; de Rei Lear a Hamlet; de Otelo a Sonho de uma noite de verão, ninguém antes, nem depois, conseguiria representar na dramaturgia mundial a natureza humana com toda a sua variedade e complexidade. Para o crítico norte-americano Harold Bloom (1930-2019), por exemplo, o teatro, qualquer que seja, ainda está sob a égide do bardo inglês. Entretanto, tudo o que é sagrado também é cercado de mistérios e dúvidas. Daí o porquê das inúmeras teorias e estudos que tentam comprovar se Shakespeare realmente existiu da maneira que o imaginamos.

Controversas à parte, o mais importante é adentrar o universo enigmático do dramaturgo e o quanto ele continua sendo o motor de propulsão de tantos outros criadores, em especial do diretor inglês de teatro e cinema Peter Brook, 94 anos, e do ator e diretor Ron Daniels, 77 anos – dois dos mais respeitados diretores de teatro quando o assunto é Shakespeare. O primeiro, com o livro Reflexões sobre Shakespeare e o recém-lançado Na ponta da língua: reflexões sobre linguagem e sentido; e o segundo com o Encontros com Shakespeare, propiciam uma involuntária, mas muito bem vinda coleção para se compreender a cena contemporânea sob a influência do bardo inglês.

Reflexões sobre Shakespeare reúne em cento e vinte páginas a essência do conhecimento adquirido por Brook ao longo de uma vida dedicada a investigar, encenar e atualizar as montagens dos espetáculos shakespearianos. Mais do que isso, discute a atemporalidade dos textos, o desenrolar do trabalho cênico e a reverência pelas palavras do bardo.

 


Trecho do livro

 

Encontros com Shakespeare tem um forte parentesco com o livro acima. Dessa vez, porém, ele surge da igualmente extensa e profunda experiência e estudo do brasileiro Ron Daniels, radicado na Inglaterra desde a década de 1960. Nascido em Niterói e um dos fundadores do Teatro Oficina, o criador foi diretor artístico do teatro The Other Place Theatre da Royal Shakespeare Company e permanece um dos diretores honorários da Royal Shakespeare Company. Foi na Royal, inclusive, que ele trabalhou por longo período com Peter Brook.

Daniels, em seu livro, narra sua trajetória, mas, principalmente, traz um olhar generoso voltado aos que se iniciam ou desejam aprofundar o mergulho na vasta obra de Shakespeare. Para isso, escreveu um guia para uma melhor compreensão do trabalho do bardo, assim como publicou a tradução feita por ele mesmo de algumas das mais célebres peças. Para Daniels, o modo tão preciso como Shakespeare construiu em seus textos os laços familiares seria o ponto de partida e o de chegada de cada uma das peças. Seriam nessas relações tão íntimas que, como público, continuamos a nos identificar.

 


Trecho do livro

 

Por fim, Na ponta da língua: reflexões sobre linguagem e sentido parte de um outro estudo de Brook: o de esmiuçar o real significado por detrás de uma palavra, valendo-se também, claro, dos textos de Shakespeare como substrato de seu livro. São três capítulos nos quais o diretor mostra “a misteriosa relação entre uma palavra e seu verdadeiro sentido” e como as sílabas e suas ressonâncias nos instrui a “navegar no mundo cotidiano”.

 


Trecho do livro

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