Sesc SP

postado em 30/07/2020

Lições de resistência

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Livro reúne textos de Luiz Gama – negro, ex-escravizado e autodidata – publicados na imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro entre as décadas de 1860 e 1880, contextualizados e atualizados para os leitores do século XXI

 

Um dos mais proeminentes pensadores e ativistas do século XIX, Luiz Gama (1830-1882) foi também um dos primeiros jornalistas negros brasileiros. Autodidata, o poeta, advogado dos escravos e maçom tinha em sua palavra a defesa aguerrida do movimento abolicionista e republicano, sendo pioneiro ao abordar esses temas mais de vinte anos antes do fim da escravatura e da Proclamação da República no Brasil. Um aspecto valioso, mas pouco conhecido, do seu legado está na coletânea Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, das Edições Sesc, organizada por Ligia Fonseca Ferreira, especialista na obra do autor.

Com prefácio do historiador Luiz Felipe de Alencastro, o livro traz introdução e notas elaboradas pela pesquisadora, elementos fundamentais para a compreensão dos 61 artigos de reconhecida autoria de Luiz Gama, sendo 42 deles inéditos, publicados em importantes órgãos da imprensa paulista e carioca entre 1864 e 1882. O recorte temporal enfoca um período determinante da história brasileira, cujas turbulências atravessaram a vida e a carreira do ex-escravizado que se tornou uma liderança incontestável e uma voz influente. Sob a perspectiva singular do negro que rompeu barreiras, conquistou o saber e firmou-se no universo letrado exclusivo de brancos, os textos reunidos neste livro têm como eixo central os temas: escravidão, liberdade, república, racismo, direitos humanos, liberdade de imprensa.

 

Fruto de três anos de pesquisa da organizadora, Lições de resistência resgata a figura de um profissional de grande audiência em seu tempo, e busca preencher uma lacuna na história da imprensa brasileira. Luiz Gama colaborou para a fundação dos primeiros periódicos ilustrados da província de São Paulo, Diabo Coxo (1864-1865) e Cabrião (1866-1867), ao lado do artista gráfico Ângelo Agostini. Daí por diante, sua carreira nesse campo nunca mais cessaria, chegando a fundar em 1876 o semanário humorístico O Polichinelo, ilustrado por Huáscar de Vergara.

Como define Ligia Fonseca Ferreira, “além da habilidade retórica e das agudas análises político-jurídicas, Luiz Gama revela-se um mestre da narrativa jornalística, à qual imprime seu estilo pessoal, quase sempre em primeira pessoa, colocando-se ele mesmo em cena ao lado de seus outros personagens reais, dos escravizados aos seus algozes, dos pobres desprotegidos da lei às elites imperiais. A leitura de seus escritos é de surpreendente atualidade. Ele escreveu artigos até seus últimos dias, razão pela qual, poucos depois de morrer, foi saudado como um ‘trabalhador incansável do jornalismo’.”
 


Trecho do livro

 

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