Sesc SP

postado em 29/10/2020

Consciência e igualdade

Manifestação do Movimento Negro Unificado em São Paulo, no dia 20/11/1979 | Jesus Carlos ©
Manifestação do Movimento Negro Unificado em São Paulo, no dia 20/11/1979 | Jesus Carlos ©

      


20 de novembro está aí para nos lembrar de que a realidade das populações afrodescendentes precisa mudar 

 

De acordo com o Atlas da Violência, divulgado no final de agosto, entre 2008 e 2018 os assassinatos de negros no Brasil cresceram 11,5%. Somente no último ano deste período, o relatório – feito com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde – registrou que 75,7% das vítimas eram negras, entre eles 30.873 jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos, quantidade que equivale a 53,3% dos homicídios. Casos de assassinato como os de João Pedro, no Brasil, e George Floyd, nos Estados Unidos, são apenas as faces mais conhecidas de um problema que há séculos acompanha o cotidiano das populações afrodescendentes.

A falta de sensibilidade que acomete boa parte da população brasileira tem raízes históricas. Aqui, o racismo estrutural ajuda a explicar boa parte dos números descritos acima. Justamente por este motivo, iniciativas que procuram valorizar a história vivida por negros e negras, revelar o papel protagonista que desempenharam em diferentes frentes do tecido social, mostrar como resistiram e ainda resistem a toda e qualquer forma de opressão, são ações indispensáveis para transformar esta realidade. Os títulos publicados pelas Edições Sesc contribuem não só para despertar esse tipo consciência, mas, em última análise, tratam também da busca por igualdade, condição sem a qual a cor da pele jamais deixará de ser índice para essas tristes estatísticas.

 

Quatro livros para celebrar o Dia da Consciência Negra


Reserva Extrativista do Quilombo do Frechal. Foto: Christine Leidgens

 

Publicado em 2018, Frechal, quilombo pioneiro no Brasil: da escravidão ao reconhecimento de uma comunidade afrodescendente narra a experiência vivida pela fotógrafa belga Christine Leidgens durante os seis anos vividos por ela na comunidade negra de Frechal, no Maranhão. Os textos abordam o tráfico negreiro do século XVI ao XIX, a formação do quilombo, a memória oral de seus habitantes contemporâneos e a transformação das terras da comunidade em unidade de conservação pelo governo federal, em 20 de maio de 1992, quando passou a ser chamada de Reserva Extrativista do Quilombo do Frechal, tornando-se referência para o movimento de reconhecimento das terras ocupadas por remanescentes de quilombos no Brasil.

No fim de 2019, foi impresso Protagonismo negro em São Paulo: história e historiografia, de Petrônio Domingues, livro que narra a experiência negra em São Paulo no decurso pós-abolicionista, quando as relações hierárquicas entre senhores e escravos deixa de existir. Domingues procura mapear o protagonismo negro paulista no século XX e fazer um balanço dessa produção histórica. São diversos elementos de análise: biografias, vida associativa, ações políticas, agenciamentos sociais, práticas culturais, relações de gênero, conexões afrodiaspóricas, concepções ideológicas, invenções identitárias e narrativas no campo da memória, dos direitos, da cidadania e igualdade.

 


Luiz Gama à frente dos Liberais Dissidentes. Ilustração de Ângelo Agostini, 1867 

 

No começo de 2020, saiu da gráfica o livro Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, organizado por Ligia Fonseca Ferreira. A obra traz 61 artigos de reconhecida autoria de Luiz Gama, sendo 42 deles inéditos, publicados entre 1864 e 1882. Contextualizados e atualizados para os leitores do século XXI, esses artigos revelam as múltiplas facetas de Luiz Gama: negro, ex-escravo, autodidata, poeta, maçom e advogado daqueles que permaneceram em cativeiro mesmo após a aprovação da Lei do Ventre Livre, ele despontou como um dos personagens centrais da luta pela liberdade e pela proclamação da República no Brasil.

E, ainda em novembro deste ano, chega às livrarias Movimento Negro Unificado: a resistência nas ruas, organizado por Gevanilda Santos, José Adão de Oliveira e Ennio Brauns. Coedição com a Fundação Perseu Abramo, este livro celebra os quarenta anos do Movimento Negro Unificado e representa a militância de um conjunto de grupos e organizações em São Paulo que atuaram (e ainda atuam) na luta e no combate ao racismo. Uma narrativa inédita, construída a partir dos testemunhos de alguns dos protagonistas que politizaram a ação desses grupos e de um farto acervo iconográfico e documental, reunido tanto por militantes do MNU como por movimentos e institutos de pesquisa nacionais e internacionais.

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