Três livros colocam-se a serviço de quem se propõe a conhecer e valorizar o passado, atitude imprescindível para a construção do futuro
O Brasil ainda padece da valorização e do conhecimento de sua própria história. A dificuldade em lidar com o passado e com as próprias identidades são entraves ao desenvolvimento de uma sociedade com mais equidade, em que as diferenças sejam toleradas e a convivência, harmoniosa. Por este motivo, as iniciativas que visam resgatar nossas memórias chegam em boa hora, como é o caso de três títulos recentemente publicados pelas Edições Sesc.
Acaba de chegar nas livrarias Mercados e feiras livres em São Paulo (1867-1933), livro do historiador Francis Manzoni que revela como a Pauliceia moderna é tributária de uma São Paulo caipira. Marcada por tensões entre o campo e a cidade, por sérios embates com o poder público e pela disputa de espaços de comércio, a mudança apresentada no livro teve por base, sobretudo, a força de trabalho envolvida no suprimento das demandas alimentares de uma população que crescia vertiginosamente.
Artista e pesquisadora, Giselle Beiguelman reúne em Memória da amnésia: políticas do esquecimento ensaios textuais e visuais sobre as estéticas e as políticas de preservação da memória pensadas, também, como políticas do esquecimento. A autora se interessa pelos monumentos públicos ao mesmo tempo em que estuda as relações da arte contemporânea com esses mesmos símbolos. Essas abordagens dizem respeito às disputas pela visibilidade no campo da memória e acompanham os propósitos e esforços daqueles que constroem determinadas narrativas e analisam suas consequências nos espaços das cidades – e, por extensão, na vida de quem vive nelas.
Foto: Giselle Beiguelman | Foto: Memória da amnésia
Por sua vez, o sociólogo e filósofo Paulo Sérgio do Carmo apresenta nas quase quatrocentas páginas de Prazeres e pecados do sexo na história do Brasil um panorama da sexualidade no país desde a chegada dos europeus até os dias atuais, quando a discussão sobre gênero alcança dimensões políticas e sociais de proporções semelhantes às da revolução sexual dos anos 1960. Tais questões permitem ao leitor pensar sobre os mecanismos sociais de poder ao longo da história e indagar a natureza daquilo que nos constitui como sujeitos sociais.
À medida que analisam, refletem e estimulam o conhecimento e a preservação da história nacional (isto é, ajudam a compreender a nossa própria identidade), estes livros colocam-se a serviço de quem se propõe a conhecer e valorizar o passado, atitude imprescindível para a construção do futuro.