Sesc SP

postado em 07/12/2016

Festival Música Nova

capa música nova

O mais longevo e importante festival de música experimental da América Latina agora tem um registro a altura - e duplo! Conheça o projeto, uma homenagem ao grande e agora saudoso Gilberto Mendes! O lançamento aconteceu no dia 20 de janeiro de 2017, no Sesc Santos!

 

 


MÚSICA NOVA ATEMPORÂNEA: UM ENSEMBLE DO FESTIVAL
Gil Nuno Vaz


Antes de escrever este texto, decidi consultar todos os programas do Festival Música Nova, que acompanho desde a 5ª edição, em 1969. Para reavivar as lembranças. Foi uma imersão profunda no que pode ser chamado o “espírito” do Festival: uma concepção atemporal da Música Nova. Não apenas o conceito da Neue Musik que protagonizou o cenário musical na época em que o evento foi criado. A música nova de todos os tempos, um diálogo do contemporâneo com a invenção de outros séculos. Aliás, a minha estreia no Festival se deu num concerto que misturava nomes da atualidade com autores da Idade Média e da Renascença. É algo que me marcou desde que dele participo, e com o que convivo desde então. E que prefiro pensar como música nova atemporânea, numa descontextualização verbal do contemporâneo e da vanguarda.

Nesse percurso revivi a valorização da música latino-americana, o contato permanente com os principais centros musicais da Europa, o período especial que ficou caracterizado como a Conexão Flamenga, os contatos com os russos, o intercâmbio com correntes acadêmicas dos Estados Unidos, além da presença constante dos quatro ventos musicais do Brasil. Amplitude de horizontes musicais e conceituais.

E agora, passado mais de meio século de existência, e considerado o mais importante e longevo evento de música experimental no Brasil e em toda a América Latina, o Festival Música Nova ganha o seu primeiro registro fonográfico oficial, em iniciativa do Sesc SP.

É um significativo ensemble de 13 peças, escritas por 12 autores, formando um painel que, se não chega a dar conta de toda a diversidade criativa que o Festival vem mostrando há décadas, cumpre satisfatoriamente a função de representar esse “espírito” do evento idealizado por Gilberto Mendes. Nove dessas peças foram apresentadas no concerto realizado em 26/09/2014 (48ª edição), a cargo do Ensemble Música Nova, um grupo umbilicalmente ligado ao Festival. Regido pelo maestro e compositor Jack Fortner que, desde 2000, mantém estreito contato com o evento, o conjunto completa o repertório com mais quatro peças de autores fortemente ligados ao Festival.

Nada mais natural que desejar seja esta iniciativa o marco inaugural de uma empreitada em que o Ensemble Música Nova venha a registrar e resgatar, sistematicamente, uma bem-vinda memória sonora do Festival Música Nova.

 

 

ALGUÉM CHAMADO GILBERTO MENDES
Gil Nuno Vaz


Esse é o título da publicação que talvez seja a primeira iniciativa editorial biográfica sobre Gilberto Mendes, escrita em 1988 pelo jornalista e poeta Fausto José. A convite do autor, participei com uma breve apresentação, em que observei como Gilberto sabia “dar valor à dimensão humana que envolve cada música, cada tela, cada poema”.

Palavras que escolhi para repercutir o exato contraponto entre os dois sentidos, aparentemente paradoxais, da palavra “alguém”, usada para referir tanto uma pessoa qualquer, indefinida, quanto uma pessoa especial, renomada. Como não descobrir nesse título a intenção de sinalizar a harmoniosa convivência, em Gilberto, entre o distanciamento mítico do qual se costuma revestir a genialidade e a sua imensa receptividade, que franqueava a quem se chegasse para uma conversa, por mais casual que fosse!

Foi a partir daí, penso, que, de modo mais espontâneo do que refletido, passei a tratá-lo, em conversas reservadas, pelos seus nomes do meio: Ambrósio Garcia. Um pequeno truque que afinal me ajudou a enfrentar o afastamento físico a nós imposto no primeiro entardecer do ano de 2016. Tornou-se mais fácil constatar que perdemos apenas “alguém chamado Ambrósio Garcia”. E é por isso que escrevo aqui em tom pessoal, como um gesto de despedida entre amigos.

Mas “alguém chamado Gilberto Mendes”, definitivamente, não nos deixou. Continua e continuará presente não apenas para as pessoas com quem dividiu generosamente a convivência, como também para as futuras gerações, por sua obra artística ímpar e pelos resultados e desdobramentos de seu incansável ativismo cultural.  

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