Sesc SP

postado em 08/01/2018

O gênero musical que mais vende no Brasil é tema da Zumbido #2

Ilustração de Catarina Bessell, para a segunda edição da Zumbido
Ilustração de Catarina Bessell, para a segunda edição da Zumbido

Basta uma pequena olhada na compilação feita pela consultoria Crowley no ano de 2017 para redescobrir o que muita gente já sabe, mas reluta a acreditar: o sertanejo é a música que mais vende no Brasil. Apesar do burburinho causado por Anitta, Pabllo Vitar e outras figuras que povoaram o mainstream no ano, sobretudo na internet - terreno fértil para manutenção da hegemonia do pop nas paradas - quem mais figurou entre as 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras foram os cowboys e as patroas, estas últimas representadas principalmente pelas cantoras Maiara e Maraisa, Marilia Mendonça e Simone e Simaria.

Apesar disso, esta nem sempre foi a história do gênero. A mistura que fundou o país e também ocorre na música, seja ela popular ou erudita. De Villa-Lobos a João Neto e Frederico, sempre houve o atrito entre a tradição e o novo que chega de diferentes maneiras, fruto das mudanças frequentes que vivemos no país. Com o sertanejo não poderia ser diferente: o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, demonstrou resistência ao lidar com o boom do estilo, tanto em festivais como o Rock in Rio, que tradicionalmente abraça fenômenos da música popular em sua programação, bem como nas programações culturais da capital carioca. “O Rio de Janeiro sempre foi o último lugar que a música sertaneja atingiu no Brasil. Para se ter uma ideia da dimensão do que significa para um sertanejo tocar no Rio convém lembrar de um fato histórico. Quando Michel Teló conseguiu sucesso internacional com a canção “Ai se eu te pego” em 2012, programou uma turnê internacional. Antes de partir para o exterior, Teló fez um show no Píer Mauá, na região portuária da capital carioca, em 27 de janeiro de 2012. Foi seu primeiro show na cidade. O Rio de Janeiro ainda era um “país estrangeiro” para os sertanejos.”, relata o pesquisador e escritor Gustavo Alonso.

Animação de Catarina Bessell para Zumbido #2

Com a manutenção do gênero no topo das paradas brasileiras a pelo menos cinco anos e seu constante crescimento na discussão da indústria cultural, a segunda edição da Zumbido, publicação digital do Selo Sesc, propõe a seguinte discussão: o que acontece com a música sertaneja no Brasil? Os mitos fundantes, as misturas e o que acontece hoje com o gênero musical que mais vende no país, são alguns dos tópicos da publicação.

Para dar conta deste universo tão amplo, no tradicional Textão de abertura, equivalente à matéria de capa, Gustavo Alonso, pesquisador e autor do livro “Cowboys do Asfalto: música sertaneja e modernização brasileira” reflete sobre a antropofagia sertaneja, com todas as suas limitações e possibilidades numa esfera cultural tão massificada no Brasil. Junto ao Textão, a escritora Seane Melo, autora do livro “Ao Vivo em Goiânia: Quatro Contos de Patroa” versa sobre um outro fenômeno que povoou completamente as paradas, seja no rádio ou nas plataformas de streaming: o feminejo. É claro que a presença das mulheres no sertanejo não é novidade, mas elas tem liderado cada vez mais as listas de mais ouvidas e cantam temas antes só “permitidos aos homens”.

Essa relação com o sertanejo universitário tem um efeito maior que a localização em um cenário musical específico, indica o tempo em que o feminejo desponta: o século XXI e toda a sua fluidez, diversidade e consumismo.”, completa Seane.

Finalizam as seções da revista: Angélica Freitas, poetisa gaúcha autora de “um útero é do tamanho de um punho”, com um Perfil da dupla sertaneja Alvarenga & Ranchinho, dois ases das sátiras musicais recheadas de humor ácido em pleno Brasil pré-ditadura; o videoartista Edu Varallo, com sua versão audiovisual para o álbum Diálogos Interiores, do duo A Arte do Instante: Dimos Goudarolis e Eduardo Contrera (Selo Sesc), na seção Contemplativa e o jornalista Alexandre Matias, lista uma série de shows inesquecíveis que assistiu no Sesc em São Paulo no Baú.

Fechando a lista, a revista também traz uma galeria fotográfica de shows realizados no Sesc em São Paulo em 2017, na seção Ao Vivo. Já o Ruído Interno, seção que dá vazão a produção dos artistas que trabalham na instituição, tem seu espaço dedicado a intervenção gráfica de Bruno Corrente.

E mais uma vez, celebrando o lançamento da publicação, no dia 2/2 no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, ocorre um bate-papo com os colaboradores Gustavo Alonso e Seane Melo, sobre seus respectivos textos e essa onda sertaneja que está banhando o mainstream nacional nos últimos anos.  Pra não perder nada, baixe o aplicativo do Sesc em São Paulo para poder ler a sua Zumbido onde estiver - Android aqui, Apple por aqui.

Também dá pra ler o conteúdo da Zumbido no Medium, por aqui.