Música sem fronteiras
Um fenômeno de grande envergadura no mundo contemporâneo é, sem dúvida, os fluxos migratórios intensificando-se ao longo dos últimos anos e redesenhando as paisagens sociais e culturais de várias localidades. É neste cenário que nasceu a Orquestra Mundana Refugi, na cosmopolita São Paulo, através do projeto Refugi ocorrido no Sesc Consolação, passando pela gravação e disponibilização do show através do Sessões Selo Sesc #1, inaugurando o projeto e agora, finalmente, no lançamento do CD físico para coroar o esforço e dedicação dos que, através da música, reencontram-se com sua identidade diante dos deslocamentos da vida.
Leia abaixo o texto de Miguel Pachioni que estampa o encarte do álbum e, logo em seguida no vídeo, conheça os músicos que compõem a orquestra.
Enquanto a música traz em si um universo de arranjos e sonoridades,
A busca por refúgio se faz pela restrição de direitos e da liberdade.
A composição de uma música pode ser vista como uma leitura ritmada das temporalidades e do território nos quais está inserida. Este mesmo tempo e espaço, ao serem violados em seus princípios, deixam de ser harmônicos em si para se tornarem ruídos inaudíveis, inaceitáveis.
O que o projeto Orquestra Mundana Refugi representa é um mergulho nas raízes do passado e no cotidiano das tradições para narrar um presente que não deixa esquecer quem se é, atrelado a lembranças e perspectivas futuras.
Esta autêntica identidade Refugi traz em si influências que permitem reconhecer no outro um reflexo de si mesmo, um espaço acolhedor do sentimento de humanidade.
Pelas interpretações musicais que a Orquestra Mundana Refugi promove, toda a multiplicidade existente na cultura de seus componentes é um estímulo para que as diferenças sejam vistas como partes que se complementam, como notas de uma composição plural, diversa e profunda.
Como resultado deste processo, fruto de muita dedicação e amor pelo que se faz, nada mais natural que a integração entre os músicos e suas trajetórias, entre os diferentes lugares e momentos, entre o que era um sonho e passa a ser uma realidade.
Enquanto estar refugiado é a última possibilidade de assegurar sua existência, a Orquestra Mundana Refugi é um recomeço digno para a continuidade de uma vida de muitos talentos.
Miguel Pachioni
Assistente Sênior de Informação do ACNUR - Agência da ONU para Refugiados
