Sesc SP

postado em 27/03/2019

A Bondade do tempo

grupo rumo capa

O Universo + Um Plano! 

A volta do Rumo, um dos maiores nomes da vanguarda paulista, com um álbum só de inéditas é comemorada no Selo Sesc com a estreia do quadro Um Plano. A premissa é muito simples, um estúdio e um plano sequência dão conta da performance impecável do Rumo que se reúne novamente (com as devidas atualizações tecnológicas) 45 anos após ter sido formado em 1974 na cidade de São Paulo por Luiz Tatit, Ná Ozzetti, Hélio Ziskind, Geraldo Leite, Akira Ueno, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Gal Oppido, Ciça Tuccori - única integrante que partiu, em 2003 - e Zécarlos Ribeiro. 

Universo chega as Lojas Sesc (física e digital) a partir de 12/4, mas enquanto isso o single Universo, faixa-título do álbum, está disponível em todas as plataformas digitais. A prova de que o Rumo influenciou e ainda influencia muita gente está atestada em quem ainda dedica-se a escrever sobre o grupo e as memórias que revelam histórias. Lauro Lisboa deixou seu relato ao Estadão e Zélia Duncan assina o texto do encarte (leia abaixo, após o vídeo).

 

 

O Grupo Rumo nasceu para abrir caminhos

Foi a primeira frase que me veio, ao começar essa audição. Sempre tiveram como comissão de frente no olhar e no fazer, o novo. Então, na segunda canção, quando a voz de Ná Ozzetti atravessa a caixa de som pra dizer que “dengo tem sabores” e que ” dengo ninguém vive sem”, quero escrever também que o Grupo Rumo tem “aquilo”, um borogodó, um “flow”, que sai voando ali na frente e nós queremos é correr atrás, ficar perto, espertos e não perder a viagem de jeito nenhum. A viagem do Rumo.

Esses artistas juntos, transformam o que está ao redor, a partir de tudo que devoram e que os transforma também. Deixaram de se apresentar no começo dos anos 90 e em 2004, completos, comemoraram no palco, 30 anos de existência, para sorte de quem, como eu, estava na plateia. Com exceção de Ciça Tuccori, que partiu em 2003, a formação original se mantém intacta. Ná Ozzetti, Luiz Tatit, Geraldo Leite, Akira Ueno, Paulo Tatit, Gal Oppido, Zecarlos Ribeiro, Pedro Mourão e Hélio Ziskind. 

 

Grupo-Rumo-ft-Gal-Oppido

 

 

É delicioso presenciar o vigor do grupo nas 14 faixas inéditas

Como não poderia deixar de ser: a linguagem sempre foi o maior trunfo do Rumo, os jogos de palavras e acordes surpreendentes, somados a assuntos desconcertantemente cotidianos ao mesmo tempo, continuam sendo uma marca forte. As personalidades todas vão se apresentando em parcerias e sonoridades de instrumentos e palavras. Hélio Ziskind canta a música adorável de ZéCarlos Ribeiro, “Não Esqueça” e soa como se escrita por ele mesmo.

Na canção “Paulista” de Akira e Pedro, tem um pouco de “ladeira da memória” na rua movimentada. Geraldo canta a divertida “Senha”, também de Zecarlos. “Estaca”, dos irmãos Paulo e Luiz nos transporta Rumo aos 80, imediatamente, o passaporte é a voz de Ná. Entregue-se, satisfação garantida.

Ná e Luiz assinam “Livro Aberto” e alcançaram uma simbiose artística ao longo do tempo, que só se confirma e que respira junto às cordas vocais e instrumentais de cada um. Ná, a eterna voz feminina da trupe, o cristal que clareia e ilumina, sempre tinindo no canto-fala-canto, inventado por eles. Tá tudo aqui. A abertura soa visual, a composição de Ziskind vai deslizando cinematográfica, recheada de citações e desemboca até num verso antigo de Tatit, como se tudo nos mostrasse como chegaram até este momento.

 

“Cê acha que vai até ali e já volta, não volta, não controla”

É tudo tão incontrolável, que eles voltaram ao estúdio! Gênero musical nunca foi questão, tem de tudo um tanto. Marcha, samba, moda, balada, bolero, choro e até a doce e melancólica “Único Legado", com sua viola caipira. A produção de Marcio Arantes é cuidadosa e brilha, nas inúmeras contribuições musicais que acrescenta também como instrumentista, ao conceito do álbum. Tudo a serviço do assunto das canções e da personalidade do sempre singular Grupo Rumo. Sentem-se mais espaços nas faixas, um respiro mais longo nos arranjos, que acredito ter feito muito bem ao resultado final.

Existe uma irresistível reflexão nessas inéditas canções, nesse presente, nessa necessidade de registrar , nesse “pendor para percutir, para barulhar, para alguém ouvir, para não parar. Então, por que parou?” Pois é, o Rumo nunca parou. Afinal, silêncio é música e o tambor de que fala a canção de Luiz Tatit, é o coração do grupo, que enquanto pulsa no peito, pensa e canta. Em tempos sombrios, onde pensar vale pouco e ouvir saiu do cardápio, o que já era ouro puro, é hoje diamante pras nossas vidas.

Toquem o tambor, Grupo Rumo, a bondade do tempo nos manteve exatamente aqui, de ouvidos abertos pra vocês, outra e outra vez, como sempre foi.

Zélia Duncan

01. Toque o Tambor

02. Universo

03. Quando Abri

04. Dengo

05. Paulista

06. Estrela Solitária

07. Não se esqueça

08. História da História

09. Senha

10. Cada Dia

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