Sesc SP

postado em 17/06/2019

Dança do Tempo

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Resta apenas uma dúvida: por que não aconteceu antes?

Sabe aquelas duas pessoas tão legais que você conhece, e de repente fica sabendo que estão namorando? Puxa, era tão óbvio que eram feitos um para o outro, só não dá para entender por que demorou tanto para acontecer.

Respeitadas as devidas proporções, é o mesmo que acontece com este trio – é inacreditável que não tenham se juntado há mais tempo.

Além daquele ingrediente inexplicável que chamamos de talento natural, todos os três compartilham características comuns em suas personalidades artísticas: muitos anos das mais variadas experiências (das absolutamente extasiantes até as que merecem ser rapidamente esquecidas), viagens pelos mais diversos universos musicais desaguando num profundo sentimento de brasilidade, a facilidade invejável de criar bonitezas e, principalmente, uma enorme generosidade.

É muito fácil perceber essa cumplicidade entre os três, é só ouvir o CD - a música flui entre eles com uma naturalidade que normalmente leva anos para ser amadurecida.

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Conheci Swami no final dos anos 80, depois de seus quatro anos de Paris, no saudoso grupo de gafieira Mexe com Tudo, e depois tocando com Chico César e Ná Ozetti. Já era um caso sério, mas sua parceria com a cubana Omara Portuondo pelo mundo afora superou seu recato natural e trouxe o mais que merecido reconhecimento. Não há violonista que não morra de inveja de seu bom gosto harmônico, sonoridade e fluência em qualquer circunstância.

Tenho o privilégio de conviver com o Teco como parceiro por mais de trinta anos, primeiramente no Pau Brasil e mais tarde em nosso trio com Mônica Salmaso. E faz mais de trinta anos que me espanto com sua consistência, originalidade e domínio dos muitos instrumentos a que ele se dedica. De vez em quando trocamos receitas, também – as dele costumam ser bem melhores. O compositor demorou um pouco para se manifestar, é um capítulo mais recente em sua biografia, mas chegou cheio de maturidade, cada nova composição trazendo seu sabor único e peculiar.  

O Sr. Alessandro, popularmente conhecido como Bebê, é um caso problemático. Ninguém consegue passar mais de 10 minutos perto dele sem dar risada até passar mal – poucos humoristas profissionais chegam perto de seu nível nesse departamento. E poucos músicos no mundo chegam perto da fluidez melódica de sua sanfona, onde o fraseado sempre assume um contorno totalmente inesperado, cheio de sutilezas. É o cruzamento perfeito das coxilhas gaúchas com os subúrbios cariocas complementado por forte dose de DNA nordestino.

Mas o que é mais bonito de ver é a soma dos três. Não é um resultado aritmético. Tem hora que parecem ser um instrumento só, tem hora que parece uma orquestra, tem hora que estão na roça e tem hora que estão no Central Park, cada momento é único, é leve, é grandioso e singelo ao mesmo tempo.

Acham que estou exagerando? Então ouçam com atenção, embarquem e boa viagem.


Nelson Ayres
 

 

01. Xamã

02. Da Bahia ao Ceará

03. Choro Esperança

04. Virou Fumaça

05. Dança do Tempo

06. Theozinho na Flauta

07. Dois

08. Sete de Ouro

09. Paladino

10. Angulosa

11. Côco Pitôco

12. Jurupari

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