BROOKZILL! - Throwback To The Future
O que vem a sua cabeça quando você pensa em sample brasileiro?
Há um tempo, Arthur Verocai resolveu agora ir atrás de todos os artistas que usaram os arranjos do seu álbum para samples de hip-hop. Na última década, seu disco de 1972 havia se tornado uma relíquia, sendo sampleado na mesma medida que foi se tornando cultuado no exterior. Nele há trechos usados por músicos da Hungria, da Áustria, da Itália, do Canadá e, principalmente, dos EUA. Do mesmo sucesso inesperado padeceram outros brasileiros, pode ser bossa nova de Stan Getz e Luis Bonfá que J. Dilla cortou em Runnin’, do Pharcyde; pode ser funk, que o Maroons (Chief XL, do Blackalicious + Lateef The Truth Speaker) usou de Estrelar de Marcos Valle, ou samba, vide Rappin’ Hood, Xis, De Leve, Marcelo D2 e outros. Fato é que os beatmakers sempre encontram na música brasileira um ambiente fértil para construção de elementos que humanizem sua criação musical, o que é muito importante quando se trabalha com sampling.
Mas onde as raízes da música brasileira entram nessa história? Como traduzir para um disco essa energia musical brasileira que nem sempre é captada pelos cortes curtos de uma MPC?
Se a resposta é botar a galera no estúdio, já é meio caminho andado!
Aí que começa a história do BROOKZILL! Um projeto musical que uniu Brasil e Estados Unidos em um super grupo formado por lendas como Prince Paul (produtor dos primeiros discos do De La Soul), Ladybug Mecca (do Digable Planets), Don Newkirk, além de Rodrigo Brandão (Mamelo Sound System), que uniu as pontas que conectam o rap da costa-leste norte-americana e a tradição musical afro-brasileira.
Vamos passear por 2016. Já fazia tempo que Rodrigo Brandão queria colocar em evidência a relação entre os cantos de terreiro e a essência do rap no mesmo balaio. Numa performance de seu grupo, o Mamelo Sound System, ele foi apresentado a Prince Paul, conhecido mais notavelmente desde seu trabalho seminal no álbum de estúdio de estréia de De La Soul, 3 Feet High e Rising. Utilizar elementos de culturas musicais tão distintas já era uma especialidade do produtor, seu trabalho com o Gravediggaz trouxe, por exemplo, tremolo e os skronks do free-jazz, bem como a percussão do samba nas faixas em algumas faixas do Wu-Tang Clan. Prince Paul com sua grande capacidade de conotação do hip-hop e de mistura com outros gêneros, estilos e formas de arte, então convidou Brandão para embarcar num projeto de hip-hop com influências brasileiras.
"Desde o começo, alguns parâmetros foram estabelecidos: que a gente deveria sempre estar na mesma sala pra criar, ao invés de trocar arquivos pela net; nada de hierarquia e sim parceiros de igual pra igual; e que a pegada é One Nation Under A Groove, transcende o núcleo central." explica Brandão a Daniel Tamempi do blog Só Pedrada Musical, à época do lançamento.
O que temos é Throwback To The Future, uma mistura exuberante de hip-hop old school, jazz funk e funk e pop brasileiros que capturam os melhores aspectos de todos os ingredientes separados e que finalmente chega ao Brasil com o lançamento em CD pelo Selo Sesc. Com convidados a bordo que vão desde o colaborador de Brian Scott-Heron, Brian Jackson, Del Funky Homosapien e uma série de brasileiros que receberam a missão de abarcar a ponte entre esses dois mundos aparentemente diferentes como Elo da Corrente, Pequeno Cidadão, Fafá de Belém, Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Thiago França, Thaíde, Xis, Espião, Lucio Maia, Gustavo da Lua, M. Takara, Guilherme Granado, Marcelo Cabral, Samba San, Rogério Martins e Rodrigo Ogi.
Throwback é uma festa de rua onde o álcool flui e as pessoas dançam como se o final de semana nunca terminasse. Paul mantém os toca-discos, colocando samples e travando batidas de hip-hop e rolando ritmos brasileiros, enquanto Ladybug lança rimas como se fosse 1993, e seus doces vocais adicionam um pouco de mel à mistura. O sutil teclado de Newkirk floresce e os sintetizadores vibrantes colorem os cantos e o flow de Brandão que adicionam um pouco de coragem ao processo. Uma bela mistura de culturas e sons, praticamente ininterrupta, para os ouvidos de quem pende tanto pro hip-hop quanto para a música brasileira ou tá ali no meio fio só esperando o sinal abrir.
E como a música fala por si só, deixamos o clipe (até então inédito) de Mad Dog In Yoruba, ao melhor estilo Yo! Raps (da MTV) com participação de Fafá de Belém e Kiko Dinucci (saca só o violão no fundo) pro baile ficar completo.