Lançado em 21/08/2015, no Jazz na Fábrica, Coisa Fina é um sucesso desde então! Confira os bastidores e uma amostra do disco nesta matéria ;)
Você dá o play e uma melodia sinistra, meio quebrada, um ostinato do baixo e do piano te perguntando - "Você está atento? Você está ouvindo com atenção?" - e, antes que seja possível responder, uma big band inteira ataca e leva para outro lugar essa sua cabeça cansada de ouvir aquele sonzinho achatado de mp3 e correlatos. Está tocando uma bela bolacha, amigo. Dificilmente, você ficará imune a ela.
Coisa Fina, segundo disco do Projeto Coisa Fina, abre com Alforria, de Henrique Band. Um passo quase diferente para a big band que nasceu com o intuito de dar vistas à obra do maestro Moacir Santos, pernambucano porreta, famoso pelo disco "Coisas", de 1965: uma estreia que chapou a música brasileira dali em diante, não sendo diferente com Daniel Nogueira, um dos fundadores do Projeto Coisa Fina.
"O grande lance, quando a gente começou a tocar Moacir Santos, é que a consideramos ele um compositor muito acima, a ponto de achar um absurdo ele não ser mais conhecido no Brasil. Naturalmente, na pesquisa por coisas do Moacir, você vai conhecendo outros caminhos e referências apontados pelas pessoas, 'ah, você gosta de Moacir? Vai gostar de Mozar Terra'", explica.
Assim, a banda se desprendeu do cancioneiro do maestro - mas nem tanto, "Amalgamation", que fecha o disco, é composição de Santos -, avançando no desbravamento da música instrumental brasileira, carregando, junto com um time de 13 músicos, compositores consagrados e em busca de reconhecimento, todos devotos dos ritmos e harmonias que compõem o cenário musical deste país quase continente, dando peso às palavras de Benjamin Taubkin no texto de apresentação do disco, "a Big Band é o futebol de várzea da música brasileira: um lugar de paixão e doação em que a arte está preservada" - quer ler o texto na íntegra? É só clicar no encarte abaixo.
Juntar essa tropa para gravar um disco não é das tarefas mais simples, ainda mais se pensarmos na dinâmica particular que as cidades costumam impor a seus habitantes - você não chega no seu trabalho em menos de 40 minutos, chega? Se chegar, sorte sua. O Projeto Coisa Fina então, se isolou no estúdio Gargolândia, a duas horas de São Paulo e lá montou acampamento - bacana, não? Se você der o play no making of, além de aprender de fato como as coisas funcionam numa big band, irá desfrutar do clima da música no sítio: tranquilidade criativa que dá gosto de ver!
Cada faixa é, de fato, uma surpresa. Talvez, a maior delas, seja o que o pessoal fez com o hino nacional (ainda citando Taubkin), Asa Branca. Uma construção em modo menor para uma música executada e conhecida no modo maior. É possível extrair daí o desenho de uma big band mergulhada nas entranhas da música de Gonzagão e Humberto Teixeira, saindo de lá com uma nova costura, um jeito diferente de juntar as partes que já conhecemos, ao novo - no fim do post, uma amostra da música para ilustrar e dar razão a este parágrafo amalucado.
Formado em 2005, o Projeto Coisa Fina apareceu num momento em que as big bands estavam retomando um espaço na cena cultural paulistana. Daniel Nogueira e Vinícius Pereira - também fundador da banda - estão ligados ao início do Movimento Elefantes, um coletivo de big bands que iniciou as atividades em 2008, ocupando o Teatro da Vila. Foi um período intenso e interessante, todavia, pouco perene, conta Daniel.
"Houve um boom em 2008 [de big bands em São Paulo]. Conseguimos algumas coisas legais, as pessoas se interessavam, era possível vender projetos, mas, no fundo, infelizmente, a onda passou como uma moda. De todo jeito, para formar público é preciso continuar tocando. A gente conseguiu formar público no "Cedo e Sentado" que rolava no Studio SP e era de graça: durante uns 2 ou 3 anos a gente tocou lá direto. Hoje, você tem internet, redes sociais a seu favor, etc, mas é preciso continuar tocando".
Para acompanhar a banda, fique ligado na programação da Terça Open House, no Mundo Pensante, segundo Daniel, "tem ajudado bastante" no quesito formação de público para big bands.
De qualquer jeito, aproveite: a energia, as texturas e o peso deste disco, valem muito a pena.