Para celebrar o encontro potente do samba de Eliane Faria e Gordinho de Surdo com o piano de André Mehmari, numa ideia genial de J.C. Botezelli, o Pelão, o Sesc Pompeia recebeu o lançamento do disco Três no Samba, dia 23 de março de 2016. Para ouvir o álbum e conhecer mais dessa inusitada e delicada mistura, continue conosco!
A arte do bom disco é similar à arte da boa cozinha: a capacidade de combinar bons ingredientes e tirar um prato totalmente novo. É o caso da arte de José Carlos Botezelli, o Pelão, o mais importante produtor brasileiro dos anos 70 para cá.
O primeiro ingrediente é a voz serena de Eliane Faria, que consegue revestir seu timbre suave com o sincopado marcante do samba, uma maestria que herdou do avô, o sete cordas Benedito César Ramos de Faria, e de seu pai Paulinho da Viola. Eliane é pastora da Portela, do grupo das cantoras que cantam na quadra da Escola, e filha de Alcinéia Pereira, irmã do sambista Anescarzinho do Salgueiro, a mais linda passista que Salgueiro já teve.
Eliane é uma sambista de ambientes pequenos, seletos, dos que conseguem identificar as nuances discretas das grandes cantoras.
O segundo ingrediente é o piano excepcional de André Mehmari, uma usina de criatividade que transita por todos os campos da música. Só quem é do ramo consegue avaliar o desafio de gerar no piano recursos de acompanhamento para 12 faixas, mais 4 extras.
Ao contrário dos instrumentos típicos de acompanhamento, como o violão e o cavaquinho, não há como manter um mesmo padrão no piano. Mehmari abre seu baú de sons e vai tirando as marteladas do bordão, como se fossem batidas de surdo, escalas em vários tons, citações de choros, arpejos.
O terceiro ingrediente, o ritmo discreto de Gordinho, capaz de reforçar sem sair do segundo plano, mesmo no acompanhamento de uma formação tão enxuta, de piano e voz. No meio do samba, Gordinho é o indiscutível rei do surdo, que já acompanhou Clara Nunes, Beth Carvalho e todos os grandes do samba.
O quarto ingrediente, o repertório, sugerido por Eliane, endossado por Pelão e sua visão regional, com sambas de várias partes do Brasil, do centro Rio ao Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Menção especial para “Esses Moços”, de Lupicínio Rodrigues. Eliane sempre sonhou gravar a música com César Faria. Em homenagem ao silêncio da lembrança, a faixa foi gravada só com voz e piano.
Depois dessa bela apresentação feita por Luís Nassif, você também pode conferir a beleza da arte gráfica do encarte e todas as letras do repertório ímpar preparado por Pelão, executado por Eliane Faria, Gordinho do Surdo e André Mehmari com maestria. Divirta-se!