Se emprestássemos do visionário H.G. Wells a possibilidade de atingir a dimensão do tempo e rebobinar a fita cassete da história até o início do século XIX, veríamos uma cidade de São Paulo muito diferente da selva ambulante que é hoje. Melhor ainda se pudéssemos transportar junto alguns microfones para entender donde veio essa gênese caótica da metrópole. Que sons faziam a cabeça dos paulistanos? Quem eram os artistas de rua? Quem tirava o sono do PSIU? Sem dúvida, esse foi o maior desafio de Anna Maria Kieffer, musicóloga e pesquisadora, ao propor um painel sonoro da cidade entre os anos de 1830 a 1880.
Em 2019, o Selo abre o ano com São Paulo: paisagens sonoras (1830-1880), um trabalho que nasceu de um esboço sonoro, gravado em 1996 por Anna, em colaboração com Julio de Paula, no qual foram reunidas cantigas relacionadas às ruas da cidade de São Paulo no século XIX. Nos vinte anos que se seguiram, novos materiais foram coletados ou sugeridos, possibilitando estender o projeto até a forma atual: um painel sonoro da capital entre 1830 e 1880, seguindo sua transformação a partir de um vilarejo de tropeiros, passando a importante centro de estudantes e chegando à beira da expansão industrial, urbanística e cultural que a caracterizará a partir da década de 1880.
O CD que acompanha um livreto traz um arcabouço de sons dividido em seis partes, mantendo-se, na medida do possível, uma ordem cronológica das peças musicais completadas por paisagens sonoras recriadas com materiais captados da natureza e com pequenos ruídos do cotidiano.
O Selo aproveita e adianta por aqui, trazendo neste mapa o contraponto entre o antigo e o moderno contado por Anna, como aquecimento para o show de lançamento que ocorrerá no dia 25 de janeiro no Sesc Vila Mariana. No mês de janeiro, o mapa será acrescido das canções que compõe o disco na intenção de situá-los nos dias atuais. Fique por aqui e acompanhe!