Fôssemos traçar um panorama entre João Donato, Projeto Coisa Fina e o Selo Sesc, no mínimo daria pra dizer que, numa festa, já bebemos do mesmo copo de cerveja. Seja na mesma festa, in loco, ao sabor das circunstâncias que colocaram a trupe na mesma roda ou, na mesma edição da festa em tempos diferentes, afinal, coisa boa deve ser celebrada várias vezes.
O Projeto Coisa Fina, nasceu em dezembro de 2005 (veja só há quase 15 anos), a partir da iniciativa de dois músicos: o saxofonista Daniel Nogueira e o contrabaixista Vinicius Pereira. Em 2001, tiveram seu primeiro contato com a música do maestro Moacir Santos e, desde então, surgiu o desejo de montar uma big band para tocar, dentre outras coisas, a obra do mestre, a qual possui nuances e camadas até agora redescoberta por instrumentistas de diferentes gerações.
Esse mergulho levou o grupo a ter o desejo de promover outros compositores brasileiros e, ao mesmo tempo, incentivar a produção de novos autores. O primeiro disco Homenagem a Moacir Santos foi considerado um dos melhores trabalhos de resgate da obra do maestro, conforme crítica de Lucas Nobile em matéria de capa do Caderno 2 para O Estado de São Paulo.
Depois de realizar diversas turnês pelo Brasil e pelo mundo, dez anos depois, em 2015, topamos com o Coisa Fina na ocasião de lançamento do seu segundo disco. Juntamos a tropa toda no mítico Estúdio Gargolândia e de lá saimos com um belo retrato da música instrumental brasileira, com composições de ícones essenciais como Jacob do Bandolim, Moacir Santos, Laércio de Freitas, Theo de Barros, Guinga e Mozar Terra; e ainda compositores talentosos da nova geração como Henrique Band. Estava feito e consolidado, música para aprender e passar pra novas gerações nessa tão difícil cena instrumental brasileira.
Corta para o ano seguinte e, em 2016, num papo com o produtor Ronaldo Evangelista, descobrimos que João Donato (que convenhamos, aqui dispensa apresentações) não lançou "oficialmente" um de seus mais emblemáticos discos, "Quem é Quem?" de 1973. Ronaldo se encarregou de explorar o disco todo e fazer o lançamento do álbum, dois anos antes, no Sesc Pinheiros, em 2014. O resultado: a mistura entre Donato, parte dos músicos do Bixiga 70 e Evangelista deu liga e, o incansável lançou um discaço instrumental com o Selo. "Donato Elétrico", no qual Donato volta com tudo aos sintetizadores, teclados, Rhodes e outras parafernálias maravilhosas que pareciam estar por ali desde sempre, somente aguardando uma alma inquieta para dar conta das possibilidades todas. Aliás, caso você queira entender a genialidade de Donato, além dos discos aqui citados nesse parágrafo, dedique-se também a "Lugar Comum", desenhado muito bem neste texto de Leonardo Lichote pra Zumbido.
Pois bem, estamos em 2020 e celebramos a sétima edição do Sessões Selo Sesc da melhor maneira possível, juntando essas duas gerações. Donato, com 85 anos; Coisa Fina, nascido por conta da obra de Moacir, um dos professores de João e que, lá no passado, fora aluno de Hans Joachin Koellreutter e Radamés Gnattali, provando que conhecimento, como dizia Aristóteles, não está no intelecto antes de ter passado pelos sentidos.
Ouça "Sessões Selo Sesc #7: João Donato e Projeto Coisa Fina" nas plataformas digitais
Gravado em 28 de julho de 2019 no Sesc Pinheiros por Audiomobile
Piano Elétrico: João Donato
Piano: Fábio Leandro e Chamis
Trombone Baixo: Adib Santiago
Trombone: Douglas Felicio
Trompete: Diogo Duarte e Rubens Antunes
Sax Barítono: Henrique Band
Sax Tenor: Daniel Nogueira e Walmer Carvalho
Sax Alto: Ivan de Andrade
Guitarra: Marcelo Lemos
Bateria: Mauricio Caetano
Percussão: Matheus Prado
Baixo: Rafael Ferrari
Captação - Audiomobile: André Sangiacomo, Fernando Ferrari e Lucas Silva
Mixado e Masterizado por Renato Copolli no AudioFreaks!
Edição, Mixagem e masterização: Renato Coppoli
Assessoria de Imprensa: Guilherme Zambonini
Produção gráfica: Alexandre Calderero
Imagens/Videos: Renan Abreu e Aylton Lélis (Pelé)
Produção executivo: Raul Lorenzeti