Gilberto Mendes, como compositor versátil que foi, escreveu para inúmeras formações instrumentais, mas sobretudo possui um número bastante significativo de obras corais e vocais com ou sem acompanhamento. A íntima relação do compositor com a literatura brasileira, com destaque para a poesia concreta e a existência, em Santos, do Madrigal Ars Viva que serviu em tempo real de laboratório ao compositor, talvez possa explicar esse apreço pela música vocal. Para além disso, podemos observar a relevância de suas músicas para coro pela quantidade de vezes que as encontramos nos programas de grupos corais de todas as partes do Brasil. 

O compositor santista considerava que sua música coral estava mais avançada em relação ao que se produzia na Europa, pois ele já usava em suas composições a poesia concreta, que só começou a ser utilizada por lá, muito tempo depois. Além da poesia de vanguarda, sua música sempre teve inspirações, segundo ele, na literatura, no cinema, nas artes plásticas etc. Ao mesmo tempo em que incorpora elementos da cultura de massa em suas peças, um tanto pela temática das próprias poesias utilizadas, o compositor santista rechaça com veemência essa indústria cultural e mercantilista, desenhando um discurso musical bastante crítico.

PROGRAMA 

Parte 1
TV GRAMA I (Tombeau de Mallarmé, 1995) – Poema de Augusto de Campos
O Sol de Maiakóviski (1995) – Poema de Augusto de Campos
Enigmao (1984) – Texto de Florivaldo Menezes
Ave Maria (2009) 
Cântico da Verônica (1967) – Arranjo sobre melodia de Frei Jesuíno Monte Carmelo (1764-1819)
Salada de Frutas (1989) – Texto de Gil Nuno Vaz
Um Vez, Uma Vala (1993) – Poema de Augusto de Campos

Parte 2
O anjo Esquerdo da História (1997) – Poema de Haroldo de Campos
Vila Socó Meu Amor (1984, in memoriam). Texto de Gilberto Mendes
Beba Coca-Cola – Texto de Décio Pignatari 

 Parte 3
” Ashtmatour” – Texto de Antônio José Mendes