O curso propõe práticas teatrais que têm como ponto de partida a ideia de reescrever o mundo, inspirando-se nas histórias e obras de diversas mulheres artistas.

Como destaca Chimamanda Ngozi Adichie, é perigoso enxergar o mundo por meio de uma única narrativa. Esse é o nosso ponto de partida: se a palavra, as artes e a produção de conhecimento foram historicamente dominadas por um único gênero e raça, como podemos criar espaços para reescrever o mundo? A proposta é vivenciar um ambiente onde as referências e participações especiais sejam exclusivamente femininas, buscando dar protagonismo a quem permaneceu à margem da história. Queremos, na prática, experimentar essa reescrita e compreender o que emerge quando nos reunimos em um espaço dedicado ao feminino.

Nos cursos do Programa Juventudes no Sesc Consolação, trabalhamos com grupos mistos, valorizando a troca gerada pelas diferenças de raça, gênero, classe e experiências de vida. No entanto, percebemos que certos comportamentos se repetem, refletindo desigualdades presentes na sociedade. Lidamos constantemente com machismo, racismo, preconceitos e falta de conhecimento, e isso faz parte do nosso trabalho de formação.

Apesar da riqueza dessas trocas, identificamos limites para aprofundar algumas discussões, pois cada pessoa tem um tempo diferente no processo de aprendizado. Diante disso, surgiu a ideia de criar, além do grupo misto, um grupo auto-organizado feminino. Esse espaço acolherá mulheres cis, trans e pessoas não binárias, permitindo-nos pesquisar quais novas fricções e descobertas emergem quando trabalhamos exclusivamente com esse recorte.

Um dos pilares desse processo de reescrita é resgatar nomes de mulheres históricas que foram invisibilizadas ou apenas recentemente reconhecidas. Além disso, vamos mapear mulheres reais, ampliando o imaginário de figuras femininas admiráveis em toda a sua diversidade: de corpos, raças, profissões, estilos de vida, interesses, classes sociais, vestimentas e posturas. Dessa forma, expandimos as possibilidades de existência no mundo.

O curso será baseado em pesquisa e experimentação, tendo como referência a obra Há mais futuro do que passado: um documentário de ficção, de Clarisse Zarvos, Daniele Avila Small e Mariana Barcelos. As atividades envolverão práticas corporais e exercícios cênicos voltados para o encontro consigo e com o grupo. Experimentaremos performances, escrita e expressões plásticas; realizaremos intervenções urbanas, explorando a relação do corpo com o espaço; escreveremos cartas e diários; pesquisaremos histórias de mulheres da família; criaremos rituais coletivos; e trabalharemos com recorte, colagem e sequências de imagens construídas com o corpo.

* Atividade voltada para jovens de 13 a 17 anos