Uma interpretação do trágico incidente do Circo Vostok transforma os leões sacrificados em metáfora da condição humana de aprisionamento. Explorando cativeiros sociais, políticos e psicológicos, o espetáculo convida o público a refletir: quem realmente vive preso, os animais nas grades ou nós, em nossas próprias limitações?

“Leão, vodka e um sapato 23” faz uma releitura ficcional da tragédia ocorrida no Circo Vostok, em Pernambuco, em abril de 2000. Naquele domingo, um garoto do público foi atacado e devorado por Bongo, um dos cinco leões mantidos pelo circo. Quatro deles acabaram executados pela polícia. Foi o fim do Vostok.

O espetáculo retrata o cotidiano de quatro artistas miseráveis na busca pela sobrevivência, assombrados pelos fantasmas dos leões. Daí surgem questões existenciais sobre a condição do ser humano, como liberdade, fome e morte, explica Jonas di Paula, que integra o elenco. “Criamos um paralelo implícito com as tragédias do nosso país, que são sempre esquecidas”. Os personagens são retratados como bufões da Idade Média, que eram miseráveis. Os artistas utilizam técnicas de palhaçaria, como as cascatas (quando simulam uma queda para provocar o riso da plateia), além de inserções musicais para criar uma narrativa tragicômica.

Ficha Técnica
Elenco: Adriano Laureano, Jean de Oliveira, Jonas di Paula e Guilherme Padilha
Direção: Daniela Biancardi
Direção musical: Mateus Guimarães
Figurinos: Chris Galvan
Iluminação: Renato Junior
Orientação dramaturgica: Suzana Aragão
Cenografia: Cia de 2 e Daniela Biancardi
Confecção de cenário: Willian Alves e Orlando Sales
Edição de som: DJ Evelyn Cristina
Adereços: Marcio Douglas e Orlando Sales
Fotos: Miguel Ramos
Arte gráfica: Marcio Douglas

Sobre a Cia
A Cia. de 2, fundada em 2006 em São José dos Campos, SP, desenvolve uma pesquisa focada no universo cômico, ancorada no existencialismo, na verdade cênica e no estado visceral do ator. Ao longo de 18 anos, a companhia participou de festivais e recebeu prêmios, sempre explorando novas direções artísticas. Seu primeiro espetáculo, “Pé na Curva”, trouxe influências de Samuel Beckett e um humor ácido. Em 2014, o grupo realizou seu desejo de criar um trabalho de rua com “A Nau dos Desterrados”. Em 2019, estreou “Leões, Vodka e um Sapato 23”, inspirado na tragédia do Circo Vostok, refletindo sobre a condição humana. Em 2023, apresentou “Moby Dick & os Caçadores de Baleia”, em parceria com a diretora Marcela Rodrigues, explorando o universo do palhaço para abordar questões filosóficas e patéticas da natureza humana. A maior parte de suas produções é feita de forma independente, alinhada aos anseios do grupo.