Tem como objetivo estimular o resgate de memórias dos participantes, indo além, ajudá-los a encontrar uma forma de materializar essas imagens e histórias que trazem consigo. A partir de dinâmicas que envolvem a sensibilização às histórias, inclusive as que são aparentemente sem importância, de referências de produções memorialísticas e arquivísticas, explanação de técnicas para resgate de informações e produção material, ao final da oficina, os alunos terão condições de levar para casa, um registro concreto de uma história ou personagem real relacionada ao universo esportivo.

Sabemos que o esporte movimenta não só a emoção da conquista individual ou coletiva, mas é também uma das engrenagens sociais que trazem identidade, pertencimento e valores que implicam afetos familiares e formação de cidadania. Atletas se inspiram em seus ídolos e, por consequência, podem inspirar novos esportistas, mas também seus torcedores e admiradores. Para todos os casos, todas as memórias são importantes, indo muito além de vitórias e derrotas. Do dia em que fomos pentacampeões mundiais no futebol, ou de quando o pai goleiro fez do filho artilheiro na pelada; do triste domingo em que choramos incrédulos a despedida de Ayrton Senna; do dia em que voltamos donos do mundo depois de bater o recorde da corrida do bairro; ou quando a filha trocou de faixa no judô.

“Somos importantes, nossa vida é importante. Magnífica, eu diria. E todos os detalhes de nossa existência merecem ser registrados.”, diz Natalie Goldberg, alinhada à ideia e prática de que “toda memória é material”, da escritora Annie Ernaux. Ambas lidam com o olhar sensível que permite desde encontrar o mítico no ordinário, quanto o social na história de um indivíduo. Dessa forma, a oficina acolhe todas as propostas de memórias, orientando para que se explore o elemento mais verdadeiro que carregamos: o fator humano.

Promovendo um ambiente de confiança e acolhimento (afinal, memória é um material tão valioso quanto, muitas vezes, vulnerável), os ministrantes vão lançar mão de técnicas de oficinas de criatividade. As aulas são compostas de rodas de conversa para dinâmicas de escrita ou anotações, compartilhamento oral das histórias a serem registradas, bem como exposição de conteúdo. Neste, incluem-se textos sobre técnicas de elaboração de memórias, bem como referências a título de exemplo, de modo que os participantes se inspirem em suas produções originais.

Propomos tanto a diversidade temática quanto as inúmeras possibilidades do suporte para a construção do arquivo pessoal. Um simples lápis e papel, que podem gerar o registro de um depoimento, de uma poesia, bem como colagens, pintura, gravação sonora, um podcast, ou até mesmo uma produção audiovisual – de acordo com as possibilidades e acessos de cada um.

Atentos ao fato de que a memória é também algo vivo e em constante construção, atentaremos aos alunos que o tempo presente também será memória. Dessa forma, a liberdade se amplia também para o registro das atividades que fazem hoje. Por exemplo, o diário de um atleta, com suas práticas de treino, suas angústias, seu entorno social. A proposta é para que tenham liberdade sobre como focar o conteúdo, para que tenhamos as maiores possibilidades para a criação de registros genuínos e autorais.

Como serão dois encontros, o primeiro será focado no aquecimento da memória, em leituras e referências práticas, bem como a discussão de ideias para o projeto a ser realizado ao longo da semana e compartilhado e trazido na segunda aula. Nesta, os participantes vão compartilhar o produto que elaboraram, assim como a experiência que tiveram ao fazê-lo.

Com Carlos Durães é jornalista e escritor e Fred Linardi é mestre e doutor em escrita criativa – PUCRS.