Foto Guilardo Veloso
Foto Guilardo Veloso

Musicalidades Afro-mineiras – Congados e Reisados

com Paulo Dias

Consolação

16

atividade presencial

R$ 12,00 Credencial Plena
R$ 20,00 Meia entrada
R$ 40,00 Inteira

Local: Centro de Música - 1º andar

Inscrições 30/4 (credencial plena) e 2/5 (público em geral) às 14h

Data e horário

De 07/05 a 25/06

Quarta

Das 14h às 16h30

Foto Guilardo Veloso
Foto Guilardo Veloso

Curso teórico/prático que aprofunda no universo das tradições populares afro-mineiras. Serão apresentadas as origens do reisado e congado, bem como suas ligações com as Irmandades Negras em Minas Gerais. Além de materiais em vídeo e texto apresentando algumas manifestações, ocorrerá a prática de ritmos, cantos e coreografias.

Congados e Reinados foram reconhecidos em outubro de 2024 como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais. No processo de registro, cerca de 900 grupos foram cadastrados, mas o número é provavelmente bem maior, visto que muitos cadastros foram feitos para mais de um grupo, as chamadas guardas que integram as irmandades católicas negras em MG. Em paralelo, está em andamento o processo de reconhecimento pelo IPHAN dos Congados e Reinados a nível nacional, identificados em praticamente todos os estados brasileiros.

Em Minas Gerais houve a especificidade histórica da predominância do catolicismo de confraria, implantado desde antes da mineração, ainda no século 16. Nessa província, por decreto régio, as ordens regulares do clero católico foram proibidas de se instalar a partir do século 18. A coroa portuguesa temia o contrabando de metais e pedras preciosos extraídos nas minas. Assim, conventos e templos foram erigidos exclusivamente por Irmandades Leigas, Confrarias e Ordens Terceiras, organizadas por leigos católicos (que não têm a ordenação de padre). Essas instituições, moldadas no catolicismo estamental europeu, passaram a se ocupar de toda a vida religiosa nas cidades mineiras da Colônia e do Império. Nesse território, as Irmandades Leigas se multiplicam sob o signo da separação, conforme à divisão sócio-racial da sociedade escravista, com instituições separadas para negros africanos, negros nascidos no Brasil, pardos e brancos. As confrarias de Homens Pretos, presentes com anterioridade em Portugal e na África, comumente se puseram sob o patronato de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Efigênia, NS. Das Mercês – santos negros.

Historicamente, as Irmandades funcionaram como associações de apoio mútuo entre africanos e afrodescendentes brasileiros, regidas por compromissos, códigos de funcionamento coletivo inspirados em modelos religiosos/administrativos europeus porém modulados e modificados por uma visão africana de mundo que privilegia continuidades e intersecções espirituais entre ancestrais e viventes. Bem como de aportes culturais e artísticos ligados às matrizes étnicas africanas e outras em diferentes graus de hibridação. Surge assim um “novo” catolicismo, reorganizado e redirecionado pelo contato com tradições religiosas e artísticas milenares de África -a que alguns pesquisadores chamaram catolicismo negro-confrarial .Um catolicismo que cultua a Undamba berê berê-Nossa Senhora do Rosário, Zambi o Rei do Mundo e os Pretos Velhos espirituais, e que louva o seu Reinado Ancestral que chegou de além-mar nos navios negreiros.

No espaço das Irmandades Negras das Minas Gerais atuavam conselhos de representantes mais-velhos dos diferentes povos de África escravizados no Brasil, incluindo por vezes nações indígenas locais. Entre os africanos, a maioria provinha da África Central – povos bantu do Kongo, do Ndongo, do Monomotapa . Uma tradição de monarquias ancestrais africanas se instala no Brasil negociando o espaço social pela irtermediação da confraria à qual pertencia, em contextos-chave como festas e cortejos com grande impacto arte-religioso, os quais impressionaram bastante a crônica colonial. Ao assumirem liderança perante seus nacionais tornados irmãos do Rosário de Maria, os Reis Congos celebram a autoridade e a antiguidade de suas coroas, e convocam seus ancestrais espirituais a se posicionarem na retaguarda do cortejo. Porque, diz a voz reinadeira, nesta vida ninguém pode andar sozinho.

Paulo dias é formado em piano e informado em percussão brasileira. Atua como músico, pesquisador e produtor musical. Fundou e dirige a Associação Cultural Cachuera!, voltada para a divulgação, documentação e reflexão sobre as culturas populares tradicionais brasileiras.

 

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