O circo moderno foi contemporâneo às revoluções europeias, à Industrial inglesa e à Francesa. A independência dos Estados Unidos da América, no mesmo período (segunda metade do século XVIII), também pode compor, tangencialmente, essa lista. Tais movimentos trouxeram mudanças significativas para o Ocidente. Na Grã-Bretanha forjava-se um novo ordenamento produtivo, projetando-se para uma escalada mundial, substituindo a produção artesanal manufatureira pela produção industrial em larga escala. A Revolução Francesa projetou-se marcadamente no campo da política, selando o fim da monarquia e da ordenação social de matriz feudal e aristocrática. A Independência Americana, também chamada de Revolução Americana, intensificou o sentido nacionalista e de independência nas colônias que se espalhavam pelos vários continentes.

O circo tem a peculiaridade do diverso, do plural. Seu espetáculo comporta os mais variados atos acrobáticos, em solo e nos ares, excentricidades diversas, animais amestrados, jogos cômicos, teatro, música, dança etc. Trata-se de uma exposição espetacular das habilidades humanas e tende a reafirmar, no âmbito do ideário burguês no qual nasceu e do qual é filho legítimo, a supremacia do homem diante das demais espécies de animais e da natureza. No espectro ideológico burguês, o circo é, por excelência, o espetáculo da maioridade da espécie humana na história. Tal característica também foi adotada pela ideologia comunista que se implantou na extinta União Soviética.

As bases estruturais do espetáculo de atrações, que se consolidaram no período das revoluções, foram cultivadas por séculos (dois, ao menos) nas práticas dos teatros das feiras, que aglutinou diversas formas de expressão artística em um espetáculo, a saber, o enredo, desenvolvido por atores e atrizes sem o uso de diálogos, portanto, com tônica pantomímica predominante, a apresentação de números de habilidades dos saltimbancos, incluindo quadros com animais, domésticos ou não, e a música, levada adiante por uma pequena orquestra, que tinha a especial função de ser a regente estrutural, dramatúrgica e emocional do espetáculo. Ao lado da experiência parisiense das feiras, as pantomimas levadas à cena em Londres, em período similar, também foram determinantes para a consolidação do circo moderno, em especial porque elas contribuíram, a partir de suas arlequinadas, para a cristalização de uma personagem fundamental para o espetáculo circense: o palhaço.

O alinhamento do espetáculo circense aos ideários das revoluções europeias de fins do século XVIII, com significativas transformações nas ordens econômicas, sociais e políticas, foram marcantes, tanto com as representações de enredos baseados na história, como foram os casos dos hipodramas, como com os espetáculos de performances corporais e de atrações, quando as habilidades humanas se postam como dominantes sobre a natureza.

O curso se desenvolverá em três encontros, com as seguintes temáticas:
-O contexto das revoluções e as mudanças na política econômica da cultura
– As bases estruturais do espetáculo circense e o Teatro de Feira
– As pantomimas e arlequinadas londrinas no nascer do circo moderno

Com Mario Fernando Bolognesi, professor, ator e diretor. No circo, foi trapezista e palhaço, nos anos de 1980. Doutor em Artes/Teatro pela USP. Livre-Docente em Estética e História da Arte pela UNESP. Foi professor titula no curso de Artes Cênicas na UNESP, onde se aposentou.