Sesc SP

postado em 17/08/2015

Uma reunião de coisas finíssimas

capa coisa fina

Lançado em 21/08/2015, no Jazz na Fábrica, Coisa Fina é um sucesso desde então! Confira os bastidores e uma amostra do disco nesta matéria ;) 

Você dá o play e uma melodia sinistra, meio quebrada, um ostinato do baixo e do piano te perguntando - "Você está atento? Você está ouvindo com atenção?" - e, antes que seja possível responder, uma big band inteira ataca e leva para outro lugar essa sua cabeça cansada de ouvir aquele sonzinho achatado de mp3 e correlatos. Está tocando uma bela bolacha, amigo. Dificilmente, você ficará imune a ela.

Coisa Fina, segundo disco do Projeto Coisa Fina, abre com Alforria, de Henrique Band. Um passo quase diferente para a big band que nasceu com o intuito de dar vistas à obra do maestro Moacir Santos, pernambucano porreta, famoso pelo disco "Coisas", de 1965: uma estreia que chapou a música brasileira dali em diante, não sendo diferente com Daniel Nogueira, um dos fundadores do Projeto Coisa Fina.

Daniel Nogueira durante as gravações do making of na Gargolândia

"O grande lance, quando a gente começou a tocar Moacir Santos, é que a consideramos ele um compositor muito acima, a ponto de achar um absurdo ele não ser mais conhecido no Brasil. Naturalmente, na pesquisa por coisas do Moacir, você vai conhecendo outros caminhos e referências apontados pelas pessoas, 'ah, você gosta de Moacir? Vai gostar de Mozar Terra'", explica.

Assim, a banda se desprendeu do cancioneiro do maestro - mas nem tanto, "Amalgamation", que fecha o disco, é composição de Santos -, avançando no desbravamento da música instrumental brasileira, carregando, junto com um time de 13 músicos, compositores consagrados e em busca de reconhecimento, todos devotos dos ritmos e harmonias que compõem o cenário musical deste país quase continente, dando peso às palavras de Benjamin Taubkin no texto de apresentação do disco, "a Big Band é o futebol de várzea da música brasileira: um lugar de paixão e doação em que a arte está preservada" - quer ler o texto na íntegra? É só clicar no encarte abaixo.

 

 

Juntar essa tropa para gravar um disco não é das tarefas mais simples, ainda mais se pensarmos na dinâmica particular que as cidades costumam impor a seus habitantes - você não chega no seu trabalho em menos de 40 minutos, chega? Se chegar, sorte sua. O Projeto Coisa Fina então, se isolou no estúdio Gargolândia, a duas horas de São Paulo e lá montou acampamento - bacana, não? Se você der o play no making of, além de aprender de fato como as coisas funcionam numa big band, irá desfrutar do clima da música no sítio: tranquilidade criativa que dá gosto de ver!
 

 

Cada faixa é, de fato, uma surpresa. Talvez, a maior delas, seja o que o pessoal fez com o hino nacional (ainda citando Taubkin), Asa Branca. Uma construção em modo menor para uma música executada e conhecida no modo maior. É possível extrair daí o desenho de uma big band mergulhada nas entranhas da música de Gonzagão e Humberto Teixeira, saindo de lá com uma nova costura, um jeito diferente de juntar as partes que já conhecemos, ao novo - no fim do post, uma amostra da música para ilustrar e dar razão a este parágrafo amalucado. 

Formado em 2005, o Projeto Coisa Fina apareceu num momento em que as big bands estavam retomando um espaço na cena cultural paulistana. Daniel Nogueira e Vinícius Pereira - também fundador da banda - estão ligados ao início do Movimento Elefantes, um coletivo de big bands que iniciou as atividades em 2008, ocupando o Teatro da Vila. Foi um período intenso e interessante, todavia, pouco perene, conta Daniel.

"Houve um boom em 2008 [de big bands em São Paulo]. Conseguimos algumas coisas legais, as pessoas se interessavam, era possível vender projetos, mas, no fundo, infelizmente, a onda passou como uma moda. De todo jeito, para formar público é preciso continuar tocando. A gente conseguiu formar público no "Cedo e Sentado" que rolava no Studio SP e era de graça: durante uns 2 ou 3 anos a gente tocou lá direto. Hoje, você tem internet, redes sociais a seu favor, etc, mas é preciso continuar tocando".

Para acompanhar a banda, fique ligado na programação da Terça Open House, no Mundo Pensante, segundo Daniel, "tem ajudado bastante" no quesito formação de público para big bands. 

De qualquer jeito, aproveite: a energia, as texturas e o peso deste disco, valem muito a pena.

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