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Entrevista com Amy Allen

CPF: A Teoria Crítica é a espinha dorsal do pensamento feminista.  Você poderia explicar, em termos gerais, para nossos leitores, o que é a Teoria Crítica Feminista?


Amy Allen: Essa é uma ótima questão. Acho que o termo “Teoria Crítica” pode ser definido de várias maneiras, e uma delas definitivamente inclui o feminismo, mas outras podem não incluir. Nos EUA, falamos em Teoria Crítica tanto em termos de qualquer teoria que faça crítica aos mecanismos sociais vigentes – como o feminismo, a Teoria Queer, a Filosofia Crítica da Raça, a Teoria Pós-Colonial... neste sentido, todas essas são consideradas teorias críticas (e são diferentes de, por exemplo, abordagens
teóricas mais abstratas ou utópicas que estão interessadas em falar sobre como a sociedade deveria ser, sem olhar para como ela realmente é) – quanto em termos mais tradicionais, que se refere à tradição alemã da Escola de Frankfurt da Teoria Crítica Social. Então, o termo “teoria crítica” tem aplicações mais abrangentes ou mais restritas, e eu acho que as da tradição da Escola de Frankfurt não têm sido tão abertas ao feminismo e às questões de gênero nem, especialmente, às teorias críticas mais
recentes, como a Teoria Queer e a Teoria Pós-Colonial, quanto talvez devessem ou pudessem ser.


CPF: Como a Teoria Crítica Feminista dialoga com a Teoria Queer? Qual é a relação entre as duas correntes?


Amy Allen: Eu acho que, no que diz respeito aos estudos de gênero e aos estudos da mulher nos EUA, o trabalho mais estimulante sendo feito nesse campo atualmente é da Teoria Queer e dos estudos da sexualidade. Dentro do, digamos, feminismo como uma abordagem mais ampla da Teoria Crítica, acho que a Teoria Queer tem sido uma parte muito importante do desenvolvimento daquele corpo de trabalho e tem sido, como eu disse, o trabalho mais estimulante que vem sendo feito dentro dos estudos da
mulher e de gênero nos últimos quinze a vinte anos. Então, eu faria uma distinção entre um tipo de teoria crítica feminista no sentido amplo de que as pessoas que trabalham com feminismo estão desenvolvendo uma crítica das relações de gênero existentes e, neste sentido, estão fazendo teoria crítica, e uma tradição mais específica da teoria crítica social na qual eu fui formada e que não incorporou a Teoria Queer tanto quanto deveria.
Quer dizer, alguém como Judith Butler, que é muito importante do ponto de vista dos estudos de gênero e também uma pensadora fundamental no desenvolvimento da tradição da Teoria Crítica, seria, num sentido mais restrito, um ótimo contraexemplo de alguém cujo trabalho realmente colocou a Teoria Queer meio que no centro de tudo. Mas, no que concerne à tradição alemã da Escola de Frankfurt na Teoria Crítica Social, eu acho que não houve tanta assimilação ou reação às reflexões de Butler quanto deveria ter havido. E isso é algo que eu tentei fazer em parte do meu próprio trabalho: simular uma conversa entre as abordagens queer e feministas de alguém como Judith Butler e essa tradição mais alemã, da qual fazem parte Adorno, Habermas, Axel Honneth, entre outros.

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