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Entrevista: Luciana Brites

Luciana Brites fala sobre o processo de criação do espetáculo A Origem Animal de Deus
Luciana Brites fala sobre o processo de criação do espetáculo A Origem Animal de Deus

Luciana Brites se formou em dança contemporânea pelo Diplome D'etad de France - Paris e já participou de projetos como Alice (HBO), Aline (Rede Globo) e Descolados (MTV). Foi coreógrafa de diversas peças, entre elas Credores (Nelson Baskerville) e Dinheiro Grátis (Michel Melamed), e de vídeo clipes de artistas como Djavan, Sidney Magal, Marina Lima, Carlinhos Brown e Zélia Duncan. Luciana desenvolve também pesquisa na preparação corporal e direção de movimento junto a grupos de teatro e dança. Sua trajetória passa pela Cia. Deborah Colker, em trabalhos com os circenses da Intrépida Trupe e com o grupo Uzyna Uzona, do Teatro Oficina.

Em entrevista concedida ao Sesc Pompeia, ela conta sobre o processo de criação do espetáculo Origem Animal de Deus.

EOnline: O Cavallaria Cênicas já apresentou, anteriormente, trechos de outras obras de Flávio de Carvalho. Por que a escolha desse artista?

Luciana Brites: Flávio foi considerado por Oswald Andrade o antropófago perfeito. Esta alcunha nós reconhecemos também. A liberdade e amplitude da obra de Flávio vão da moda à performance, da engenharia à pintura, do teatro à mitologia.

Há nele o grão do contemporâneo, "tudo ao mesmo tempo agora". Quando, em 1933, à revelia da polícia de costumes da época, cria o Teatro da Experiência, inaugura o processo da arte experimental brasileira. Avança numa direção anárquica e fundamenta suas vivências em estudos particulares. Este autonomia que Flávio tinha nos interessa. A linhagem a qual ele inaugura nos interessa. A Cavallaria Cênicas faz questão deste alinhamento com a brasilidade dos modernistas e tropicalistas.

Eonline: De que maneira o grupo buscou traduzir para a linguagem da dança um tema trabalhado originalmente por um viés literário?

L.B: Na instalação coreográfica que montamos na 29ª Bienal de São Paulo, realizamos primeiramente leituras encenadas de cada um dos capítulos do livro A Origem Animal de Deus: o Fome, o Medo e o Sexo. Também do texto a Cidade do Homem Nu, (este sob a perseguição do organizador Emílio Kalil que nos proibira de trabalhar com nu, o que foi inevitável). Após o período de leituras cada um dos intérpretes escolheu um pequeno trecho do livro como título da obra que exporia com "escultura em movimento" dentro do labirinto de papelão criado pelo arquiteto mineiro Carlos Teixeira. Era a gênese das personagens que estão em cena agora, nesta versão para palco apresentada no Sesc. Depois, nosso trabalho foi o de cruzar a essência dos pensamentos que sustentavam cada uma das personagens e através de sessões de viewpoints fazer emergir a dramaturgia. Hoje temos textos, coreografia e cenas que nasceram destes cruzamentos.

EOnline: Além de seu questionamento central "Deus inventou o homem? Ou o homem inventou Deus?", a apresentação busca trazer à tona quais outros temas relacionados a isso?

L.B: A grande questão aqui, tratada de forma totalmente poética, portanto apreendida de forma absolutamente pessoal, é a ideia de que ao longo da história o lugar possível de reunir a ideia de Deus é sempre o desconhecido. Neste caso, a cada passo dado pelo conhecimento, a humanidade recria uma nova forma de adorar Deus ou Deuses. Para Flávio de Carvalho, o ato de devorar é a primeira religião do homem. Isto quer dizer que para cada nova fome humana um novo deus emplaca. Em Origem Animal de Deus, elegemos um super anti-herói como um deus a ser observado, um deus animal que detém a força do território e determina quem caça e quem é caçado, uma índia que é violentada gerando um desequilíbrio tamanho que evoca uma nova ordem social, um novo nivelamento entre homem e natureza.

EOnline: Qual a trilha sonora utilizada em Origem Animal de Deus e como as coreografias do espetáculo se relacionam entre si?

L.B: A trilha é variada entre canções conhecidas e composições, tudo muito vibrante. A relação entre as coreografias acontece pela relação entre as histórias das personagens. Há uma estrutura básica em que todos os personagens fazem parte de um coro composto por indivíduos ecléticos e eles se destacam para viverem suas trajetórias de protagonistas e voltam a integrar o coro, para apoiarem as cenas dos parceiros.

site da artista Luciana Brites
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