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Arte da (Re)Invenção


Arte da re(invenção)

Em tempos de novas tecnologias, o circo continua a produzir encantamento no público


Circulando por espaços da cultura erudita e popular, o circo se apresentou como arte ainda na Antiguidade. Mas apenas no século 18 é que o picadeiro e as mais conhecidas atrações circenses se consolidaram. Trazido ao Brasil por famílias ciganas vindas da Europa que faziam apresentações teatrais, no século 19, o circo passou por algumas adaptações ao estilo brasileiro. O palhaço europeu, por exemplo, era menos falante, tendo a mímica como base, enquanto o brasileiro se utiliza da comédia e, muitas vezes, de instrumentos musicais para encantar o público.
Para manter a tradição ao longo dos anos, a arte circense precisou inovar. Ainda hoje, mesmo com o surgimento de novas tecnologias e com a velocidade de ação exigida pelo dia a dia, ela continua a se reinventar, garantindo seu espaço no imaginário de pessoas de todas as idades. Uma das características é o intercâmbio com outras artes. “Em toda a sua história, o circo esteve continuamente traçando diálogos com outras áreas, de modo que diversas linguagens artísticas faziam parte do espetáculo circense”, explica a pesquisadora do circo e integrante da escola Picolino, Bia Simões.
A disseminação das escolas de circo nos anos de 1970 deu novo sopro de vida ao picadeiro. Assim, parte da sobrevivência dessa manifestação cultural se deve ao ensino. “O fato de a arte circense estar sendo ensinada em escolas se apresenta como mais um componente do diálogo do circo com o novo, um aspecto fundamental e desencadeador do surgimento de diversos modos de organização para essa arte na atualidade”, afirma a pesquisadora.
Dança, teatro e música se encontram nas acrobacias circenses, possibilitando novas formas de fazer arte. “Não há um modelo de corpo, padrão de movimento ou uma técnica universal. Cada artista, em sua investigação cênica, pode estabelecer parâmetros e procedimentos corporais de acordo com suas ideias, desejos e possibilidades”, completa Bia.
No circo contemporâneo, há também um movimento de trabalhos que olham para a virtuose e a desconstroem, como a dança contemporânea já fez com o balé. “Existe uma tendência muito forte de trazer os bastidores para a cena, utilizar os equipamentos e realizar os movimentos de uma forma não habitual, criando um modo diferente de ‘tirar o fôlego’ do público”, define uma das coordenadora do CIRCOS, o Festival Internacional Sesc de Circo, Ligia Azevedo.

Encontro internacional
Entre 23 de maio e 1º de junho, 23 espetáculos do CIRCOS – dos quais oito são internacionais e 15 nacionais – devem humanizar artistas e aproximá-los do público, dando margem a um novo tipo de encantamento. Em sua 2ª edição, que será realizada em 13 unidades do Sesc na Grande São Paulo, o festival propõe novos olhares para a virtuose e o conceito de perfeição, revelando os bastidores do espetáculo e o cotidiano fora do picadeiro. “O festival é resultado de um processo que o Sesc já vem trabalhando, e se propõe a lançar um olhar mais aprofundado sobre o circo e servir como um espaço de fomento, com encontro de artistas, pesquisadores e ainda realizadores de outros festivais”, esclarece Ligia.
No processo de humanização da imagem dos artistas circenses, o espetáculo S, da australiana cia. Circa, por exemplo, vai mostrá-los em seu limite físico. O público será levado a perceber que os participantes da cena produzem obras imperfeitas – não são portadores de habilidades “sobre-humanas” – e, mesmo assim, continuam a encantar. Seguindo uma linha semelhante, o Fecha de Caducidad, da companhia Organización Efímera discute a natureza do homem e seus dilemas, fazendo dos artistas e do espetáculo amostras de uma experiência humana.
Para conhecer a programação completa do festival, consulte o Em Cartaz desta edição.