Le Bizu | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Foto: Sergio Fernandes

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Entrevista com Kelson Barros | Direção-geral e criação Clarin Cia. de Dança

Le Bizu é uma referência à boate criada em 1974 em Poção de Pedras, no Maranhão. De que maneira a casa noturna guiou a criação do espetáculo?
A boate Le Bizu foi um ponto de encontro social e afetivo marcante para a comunidade local. Ela representava não apenas um espaço de diversão, mas também um símbolo de inovação, liberdade e modernidade para a época. Em um cenário interiorano, no qual poucas opções culturais existiam, a Le Bizu oferecia um ambiente dançante onde as pessoas podiam se expressar. Esses elementos foram fundamentais para guiar a criação. A memória do espaço físico – as luzes, a pista de dança, os figurinos exuberantes – foi transposta para o palco como matéria coreográfica, dramatúrgica e afetiva. A trilha sonora funciona como motor emocional da cena, e o cancioneiro é o fio condutor da narrativa e não apenas um acompanhamento sonoro. As letras das músicas – canções famosas na voz de artistas como Alcione, Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Tim Maia, Jane & Herondy e Peninha – funcionam como pequenas dramaturgias.

O espetáculo constrói sua poética no cruzamento entre o rigor corporal e o improviso, criando uma coreografia que traduz as emoções que as canções carregam

Le Bizu. Foto: Brum Catarine
Le Bizu. Foto: Brum Catarine

A Clarin desenvolve pesquisa em torno da dança popular e é composta de artistas de diferentes linguagens da dança. Como foi a criação coreográfica do espetáculo?
Embora a Clarin mantenha um repertório plural, Le Bizu foi pensado com uma fisicalidade específica: tem um elenco de bailarinos vindos da dança contemporânea e do balé clássico. A obra foi coreografada por Richard Pessoa e Rivaldo Ferreira, que desenvolveram a movimentação cênica a partir das atmosferas emocionais do cancioneiro romântico das décadas de 1970 e 1980. O ponto de partida foi o próprio repertório musical da peça, que guiou o trabalho de composição das cenas. As linguagens transitam entre a precisão técnica do balé, a expressividade da dança contemporânea e as gestualidades cotidianas das pistas de dança da época. O espetáculo constrói sua poética no cruzamento entre o rigor corporal e a liberdade do improviso, criando uma coreografia que não apenas acompanha a música, mas evoca, traduz e tensiona as emoções que as canções carregam.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
A dança ocupa um lugar essencial como linguagem de expressão coletiva, afetiva e política. Ela revela o corpo como território de memória, resistência e criação – um corpo que sente, pensa e propõe. Em tempos marcados por polarizações, apagamentos e desigualdades, a dança se apresenta como um gesto poético de reconstrução, capaz de mobilizar afetos, provocar reflexão e gerar pertencimento. No trabalho da Clarin Cia. de Dança, enxergamos a dança como uma ponte entre o popular e o contemporâneo, entre tradição e invenção, entre o palco e a rua. Acreditamos que o gesto dançado é capaz de reescrever histórias que foram marginalizadas ou silenciadas. A dança, portanto, ativa no corpo aquilo que ainda não foi dito com palavras, criando brechas para novos modos de existir e conviver em sociedade.

Le Bizu. Foto: Brum Catarine
Le Bizu. Foto: Brum Catarine

Sinopse

Le Bizu

O diretor Kelson Barros, à frente da Clarin Cia. de Dança, busca na sua história familiar a inspiração deste espetáculo. Ele se baseia na boate Le Bizu (aportuguesamento de le bisou, “o beijo”, em francês), inaugurada em 1974, em Poção de Pedras, interior do Maranhão, pelos avós do encenador. Para isso, o espaço cênico recria uma pista de dança, como num grande baile-cena. Músicos tocam ao vivo canções populares dos anos 1970 e 1980, enquanto os bailarinos se alternam em cenas solo, em duos ou em momentos corais. Os intérpretes partem de movimentos da dança contemporânea, do balé clássico e de gestos de bailes populares, além de se apoiarem nas músicas – suas letras e melodias – para tecer a dramaturgia e percorrer temas como a memória familiar, o afeto e a experiência coletiva da dança.


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Interview with Kelson Barros | General Direction and Creation, Clarin Dance Company

Le Bizu references a nightclub opened in 1974 in Poção de Pedras, Maranhão. How did this venue shape the creation of the piece?
Le Bizu was a key social and emotional gathering place for the local community. It represented not only a place to have fun, but a symbol of innovation, freedom, and modernity for its time. In a small town with few cultural offerings, Le Bizu was a place where people could dance and express themselves. These elements were central to our creative process. The physical space — its lights, dance floor, and flamboyant costumes — was translated into material for choreography, dramaturgy, and emotional expression. The soundtrack functions as the emotional engine of the work and the popular songbook serves as the narrative’s guiding thread, not merely a sonic accompaniment. The song lyrics — hits performed by Alcione, Reginaldo Rossi, Waldick Soriano, Tim Maia, Jane & Herondy, and Peninha — serve as miniature dramaturgies.

The work finds its poetics at the intersection of bodily rigor and improvisational freedom — translating the emotions embedded in the songs

Le Bizu. Foto: Sergio Fernandes
Le Bizu. Credit: Sergio Fernandes

Clarin focuses on popular dance and includes artists from diverse dance backgrounds. What was the choreographic process like?
Though Clarin has a plural repertoire, Le Bizu was created with a specific physicality in mind: it features dancers trained in contemporary dance and classical ballet. Choreographers Richard Pessoa and Rivaldo Ferreira developed the movement based on the emotional atmosphere of 1970s and ’80s romantic popular songs. The musical repertoire guided the structure of the scenes. The piece blends the technical precision of ballet, the expressiveness of contemporary dance, and everyday gestures from the dance halls of that era. The work finds its poetics at the intersection of bodily rigor and improvisational freedom, forming choreography that not only accompanies the music but evokes, translates, and tensions the emotions embedded in the songs.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
Dance is a vital language of collective, emotional, and political expression. It reveals the body as a site of memory, resistance, and creation — a body that feels, thinks, and proposes. In an era marked by polarization, erasure, and inequality, dance becomes a poetic gesture of rebuilding. It can mobilize emotion, spark reflection, and foster a sense of belonging. At Clarin Cia. de Dança, we see dance as a bridge between the popular and the contemporary, between tradition and invention, between stage and street. We believe dancing gestures can rewrite histories that have been marginalized or silenced. Dance activates what has yet to be said in words, opening space for new ways of being and relating in society.

Synopsis

Le Bizu

Director Kelson Barros, of Clarin Cia. de Dança, draws inspiration from his own family history for this piece. It is based on Le Bizu nightclub (from the French le bisou, “the kiss”), founded in 1974 in Poção de Pedras, Maranhão, by his grandparents. The stage is transformed into a dance floor, evoking a grand ball. Popular songs from the 1970s and ’80s are performed live as dancers alternate between solos, duets, and ensemble scenes. Drawing from contemporary dance, classical ballet, and gestures from popular dance halls, the performers follow the melodies and lyrics to shape a dramaturgy that explores family memory, affection, and the collective experience of dance.

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