
O espetáculo se baseia nas brincadeiras de criança para despertar memórias e celebrar vínculos. Quais jogos de infância permeiam o processo criativo?
Ao longo do processo, colhemos da nossa memória e de pesquisas das culturas da infância e popular algumas brincadeiras, além de outros cantados e ritmados, como brincadeiras de mão, de roda e de colo. Pinhé é um tradicional brinco que dá nome ao espetáculo, e Parara Parati é um popular jogo de mão presente na obra. Assim, levamos para a cena a prática do brincar popular, que se faz com o corpo, o movimento, a música, a palavra, a natureza e com o outro. Com o público, celebramos o brincar, o estar junto, a proximidade e a presença que superam o distanciamento dos corpos. Entendemos que os vínculos entre bebês, crianças e seus cuidadores não é uma condição dada, mas um desafio a ser conquistado. Na brincadeira em que o adulto se coloca em um estado de presença verdadeiro e de escuta à criança, os vínculos se constroem, se fortalecem e se tornam profundos.
Lidamos com o desafio de romper ideias preestabelecidas de como bebês e crianças devem se comportar em um espetáculo

De que maneira a obra busca instaurar um ambiente convidativo para o contato do público?
O jogo cênico é construído a partir dos tempos, cuidados e particularidades que os bebês e as crianças pequenas requerem ao adentrar um espaço novo. Assim, no início, há o convite para a contemplação e apreciação. As bailarinas direcionam olhares, sorrisos, movimentações sutis e no nível baixo, que vão tornando o ambiente acolhedor, seguro e instigante para os pequenos. Com o passar das cenas, há uma gradação das interações, a partir de provocações lúdicas e jogos de palavras, que convidam todos a adentrar o espaço cênico, a participar das movimentações e a se expressar. Construímos esta obra pensando nos pequenos, mas compreendendo que os adultos são participantes importantes, fruidores e não apenas acompanhantes. Lidamos com o desafio de romper ideias preestabelecidas de como bebês e crianças devem se comportar em um espetáculo, e estabelecemos uma relação de abertura e acolhimento às manifestações de todos. Os elásticos, por serem objetos não estruturados, permitem uma infinitude de exploração compatível com as diferentes idades. Do mesmo modo, a trilha sonora, principalmente as canções, busca alcançar todos os presentes, ainda que cada um faça as suas associações.
Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
O papel da dança é complexo e amplo, ainda mais considerando as tantas faces que pode assumir. Eu e o Núcleo Nascedouro acreditamos que a dança, como linguagem artística, tem o poder de romper com a habitual anestesia que nossos corpos são submetidos pela massificação, virtualização e aceleração que caracterizam o tempo atual. Assim, destacamos seu papel em devolver a dimensão estética para a vida das pessoas. Ela evoca a atitude sensível, a crítica, a esperança, a experimentação, o novo, o lúdico, seja nos adultos ou nos pequenos, nos artistas ou no público.

A partir de uma pesquisa em torno da cultura da infância e popular, este espetáculo para crianças, bebês e seus cuidadores busca celebrar vínculos e resgatar memórias afetivas. O espaço em formato de arena, a iluminação suave e a trilha sonora, permeada por canções de tom popular, propõem um ambiente acolhedor para o público, que se acomoda ao redor da cena. As bailarinas dançam e apresentam jogos cantados, de roda, de mãos e de colos. Também fazem uso de uma série de elásticos, objetos maleáveis que vão sendo manipulados de distintas maneiras e formas ao longo da encenação. Aos poucos, o público – crianças e adultos – vai sendo convidado a adentrar a cena e participar, cada qual a seu modo, das danças, brincadeiras e composições musicais.
The performance is based on children’s games to evoke memories and celebrate connection. What childhood games inspired the creative process?
Throughout the process, we drew from our memories and research on childhood and folk culture to explore various games, including rhythmic and sung ones — clapping, circle, and lap games. Pinhé is a traditional chant that lends its name to the piece, and Parara Parati is a well-known hand game featured in the performance. These practices bring to the stage the essence of popular play, rooted in the body, movement, music, language, nature — and the presence of others. With the audience, we celebrate play, togetherness, closeness, and the kind of presence that transcends physical distance. We understand that the bonds between babies, children, and their caregivers are not a given — they must be cultivated. When adults engage in play with true presence and deep listening, those bonds are formed, strengthened, and deepened.
We challenge pre-established concepts about how babies and children should behave during a performance

How does the piece aim to create an inviting atmosphere for audience interaction?
The stage experience is shaped around the pace, care, and unique needs of babies and toddlers as they enter a new space. At first, we invite quiet observation. The dancers offer glances, smiles, and subtle, grounded movements that help build a safe, welcoming, and intriguing environment for the little ones. As the performance unfolds, interactions gradually increase through playful prompts and word games that invite everyone into the space to move and express themselves. Though created with young children in mind, the piece embraces adults as active participants — not just companions. We challenge pre-established concepts about how babies and children should behave during a performance, fostering openness and receptivity to all kinds of responses. The elastic bands, being open-ended resources, allow for endless exploration across different ages. Similarly, the soundtrack — especially the songs — resonates with all audience members, each forming their own associations.
How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
Dance plays a complex and expansive role, especially given its many possible forms. For me and for Núcleo Nascedouro, dance — as an artistic language — has the power to break through the numbness imposed on our bodies by the massification, virtualization, and speed that define our era. We see dance as a way of restoring aesthetic experience to people’s lives. It evokes sensitivity, critique, hope, experimentation, play — in both adults and children, artists and audiences.
Inspired by childhood and folk cultures, this piece for babies, toddlers, children, and their caregivers celebrates bonds and reawakens emotional memories. An arena-like setting, soft lighting, and a soundtrack featuring folk-inspired melodies create a warm, welcoming atmosphere where the audience is seated around the action. The dancers perform singing, circle, clapping, and lap games, using elastic bands — flexible objects shaped and reshaped throughout the piece. Gradually, the audience — children and adults — is invited to join in, each in their own way, taking part in the dances, games, and musical compositions.
Confira a entrevista com com DJ Michell.
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