Verga | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Foto: Divulgação

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Entrevista com Inês Amaral | Direção artística e coreográfica

O trabalho foi concebido coletivamente pelo grupo, sem a participação de uma pessoa convidada para criar a coreografia, como é costumeiro na trajetória da companhia. Como foi esse processo?
A construção de Verga é um marco para o grupo: com a característica de sempre se reinventar e transitar por diversos espaços, o Camaleão Grupo de Dança não tem diretor coreográfico residente, o que dá o tom de seu repertório diversificado. Verga é o primeiro espetáculo construído apenas por membros da equipe. Tudo começou quando a nossa diretora-geral, Marjorie Quast, me passou a missão de dirigir um trabalho para rua, praças e espaços alternativos. Foi um grande desafio, pois foram inúmeras questões a serem consideradas para a criação deste trabalho. Para discuti-las, o grupo se apoiou nas linguagens que vinha investigando, principalmente a capoeira e o Continuum Training System, técnica criada pelo mexicano Omar Carrum, com a qual trabalho desde que me tornei professora membro desta rede em 2017. O Camaleão investiga a linguagem da capoeira desde 2014. Durante o processo, logo entendemos sua força dentro do trabalho. Não apenas como movimentação e corpo cênico, mas especialmente como pensamento diante da discussão proposta: a capoeira traz em si o signo forte de liberdade e de resistência. A construção da trilha também é algo que considero como uma “pérola” neste processo, pois foi realizada em tempo real, a cada ensaio, pelo bailarino Índio Oliveira, que teve total sintonia com as nossas ideias e sensações, de acordo com o que a própria obra apontava.

A dança é uma forma de comunicação e expressão capaz de transcender barreiras linguísticas e culturais

Foto: Yuji Ueharo
Foto: Yuji Ueharo

O espetáculo transita entre a resistência e a liberdade. De que maneira trabalharam essas questões e outras dualidades (como força e leveza) vistas em cena?
Com base nas características únicas de cada uma, a partir das linguagens que o grupo estava investigando, discutimos essas questões por meio de experimentações e exploração de movimentos. Durante esse processo, consideramos diferentes dinâmicas, texturas, velocidades e níveis de fluidez. Posteriormente, aprofundamos a investigação na dramaturgia do movimento de cada cena.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
A dança é uma expressão cultural fundamental que desempenha diversos papéis na sociedade atual. Ela exerce um grande poder de preservação cultural, pois reflete a história, as tradições, os costumes e os valores da nossa sociedade ao longo dos tempos. É uma forma de comunicação e expressão capaz de transcender barreiras linguísticas e culturais. E também atua como uma ferramenta poderosa de inclusão social, de expressão individual e coletiva e de desenvolvimento pessoal e social. Sinto que a dança atualmente tem o potencial de refletir cada vez mais a diversidade cultural, social e econômica e de revelar profundamente a nossa sociedade como um todo.

Foto: Samuca Fischer
Foto: Samuca Fischer

Sinopse

Verga

A luta e a dança se encontram neste espetáculo do Camaleão Grupo de Dança. Estruturado a partir de um processo de criação coletiva, o trabalho tem como base a pesquisa de quatro anos realizada pela companhia de dança mineira sobre os movimentos da capoeira, conduzida por Mestre Agostinho. Esse mergulho, somado a outras linguagens investigadas pelos artistas, orienta a dança, que transita entre a resistência e a liberdade, entre a força e a leveza de corpos que se envergam pelo espaço público. Em meio a giros, elevações e movimentos rasteiros, os bailarinos se articulam em fluxo contínuo, fundindo conhecimento e ação, profano e sagrado, feminino e masculino – dualidades que levantam reflexões sobre os modos possíveis de seguir em meio às adversidades do nosso tempo.


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Interview with Inês Amaral | Artistic and choreographic direction

The piece was created collectively by the company, without a guest choreographer — a different step for Camaleão. What was that process like?
Verga [Bow]marks a turning point for the company. Camaleão has always reinvented itself and navigated different spaces, but without a resident choreographer, which shapes our diverse repertoire. Verga [Bow] is the first piece created entirely by our team. It began when our general director, Marjorie Quast, entrusted me with the mission of directing a piece for outdoor and alternative spaces. It was a major challenge, as many aspects had to be considered. To guide us, we relied on movement languages we had been researching — especially capoeira and the Continuum Training System, developed by Mexican artist Omar Carrum, with whom I’ve worked since becoming part of the network in 2017. We’ve been exploring capoeira since 2014, and it became clear early on how powerful it would be in this piece — not just as movement, but as a way of thinking about the project. Capoeira carries strong symbols of freedom and resistance. Another gem in the process was the soundtrack, which was created live during rehearsals by dancer Índio Oliveira. He was completely in tune with our ideas and emotions, shaping the music in real time as the piece evolved.

Dance is a form of communication and expression that transcends linguistic and cultural boundaries

Foto: Yuji Ueharo
Foto: Yuji Ueharo

The performance navigates resistance and freedom. How did you explore these and other dualities, like strength and lightness, on stage?
We started by looking at each dancer’s unique qualities through the lenses we were researching. We explored movement through different textures, speeds, dynamics, and fluidities. Later, we deepened the dramaturgical development of each scene’s movement.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
Dance is a vital cultural expression that plays many roles in contemporary society. It helps preserve culture, carrying history, traditions, customs, and values across generations. It is a form of communication and expression that transcends linguistic and cultural boundaries. It also promotes inclusion, individual and collective expression, and personal and social development. I believe that today, dance has even greater potential to reflect cultural, social, and economic diversity — and to reveal the depth of our society.

Synopsis

Bow

Dance and martial art meet in this piece by Camaleão Grupo de Dança. Developed through a collective creative process, the work draws on a four-year research project on capoeira movements, guided by Mestre Agostinho. This exploration, combined with other movement practices studied by the artists, shapes a choreography that moves between resistance and freedom, between strength and lightness of bodies that bow through public space. The dancers twist, lift, and sweep the floor in a continuous flow, merging knowledge with action, the sacred with the profane, and the feminine with the masculine — dualities that invite reflection on how to move forward creatively amid today’s challenges.

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