Vogue Funk | Bienal Sesc de Dança

02/09/2025

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Foto: Divulgação

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Entrevista com Patfudyda

Para você, quais são as principais aproximações e diferenças entre as culturas do funk e do ballroom e qual seu desejo ao friccioná-las em cena?
A cultura ballroom e a cultura dos bailes funk ativam o espaço através da presença. Pensar essas potências culturais como um movimento popular de criação dinâmica e furtiva, mas também de abertura de debate para lutas e necessidades locais, de reivindicar espaços de protagonismo e afetar de forma transformadora vidas em fuga. É possível notar semelhanças estéticas e coreográficas em danças que atravessam continentes para permanecer existindo; esses códigos nos conectam através do espaço e do tempo. Meus trabalhos refletem momentos e fases da minha vida e das pessoas que criam comigo, e as pesquisas que nos interessam partem também das referências que nos rondam e, às vezes, nos atravessam. Com Vogue Funk não foi diferente: uma obra que retrata e evidencia a excelência de seu elenco, referências não somente no Brasil, mas também internacionalmente. Meu desejo neste trabalho era conseguir celebrar as artistas que somos, sem o peso de dar conta de carregar a cultura à qual pertencemos. Este espetáculo é uma das possíveis formas de existir e se pensar nessas culturas.

Meu desejo neste trabalho era conseguir celebrar as artistas que somos, sem o peso de dar conta de carregar a cultura à qual pertencemos

Foto: Charles Pereira
Foto: Charles Pereira

Há um movimento de a arte tida como periférica sair das ruas e tomar os palcos . O que isso provoca, desloca e reinventa?
A rua é o lugar onde a vida acontece. Se alguém deseja saber para onde está caminhando o futuro das artes no Brasil, a resposta está nas ruas, na periferia. Enxergo esse movimento de tomar os palcos com muitos cuidados e sentidos aguçados para entender o que está em jogo, dando botes e tentando escapar viva. Como deslocar para o palco sem matar a realidade dessas culturas é uma pergunta que eu sigo me questionando. Manter viva as urgências e escapar das expectativas.

Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
Acredito que a dança tem se eximido de questionar o seu lugar e sua responsabilidade com a sociedade atual, e isso se reflete nas programações dos festivais. Colocar o corpo como agente do tempo deveria posicionar a dança como expoente no diálogo para a mobilização da sociedade, mas muitas vezes chegamos atrasadas nessa conversa em comparação aos outros meios de expressão artística. Talvez o medo de desaparecer no tempo faça com que a dança acredite mais na repetição do que no deslocamento.

Foto: Charles Pereira

Sinopse

Vogue Funk

Das vielas para os palcos, das batalhas nas ruas para os holofotes, dos fios emaranhados dos postes ao fio dental das gatas: baile funk e vogue ball se cruzam no espetáculo de dança dirigido por Patfudyda. Originados em contextos geográficos e cronológicos distintos, os movimentos têm em comum a origem periférica e predominantemente preta, além de serem símbolos de resistência cultural, política e social. O trabalho, que reúne performers de ambas as expressões artísticas, explora a atitude coreográfica dos dois universos e aposta na sobreposição dos gestos já codificados para corpos periféricos em imagens que criam brechas nos valores e sentidos, buscando disputar novos significados. Em cena, poses e passos desafiam convenções e elaboram novas relações históricas e culturais.


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Interview with Patfudyda

Ballroom and funk have both similarities and differences. What was your intention in bringing them together on stage?
Ballroom culture and funk culture activate space through presence. I see these cultural forces as popular movements that are dynamic, subversive, and able to open conversations about local struggles and needs, claiming space for protagonism and reshaping the lives of people in flight from oppression. There are aesthetic and choreographic similarities in dances that cross continents to keep existing — these codes connect us across space and time. My works reflect moments and phases of my life and of the people I create with. Our research stems from the references surrounding and influencing us. With Vogue Funk, it was no different — a piece that highlights and celebrates the excellence of its cast, who are renowned both in Brazil and internationally. My aim was to celebrate the artists we are, without carrying the burden of representing an entire culture. This piece is one of the many possible ways of existing and imagining within these cultures.

My aim was to celebrate the artists we are, without carrying the burden of representing an entire culture

Foto: Charles Pereira
Foto: Charles Pereira

There is a movement of so‑called peripheral art leaving the streets and taking over the stage. What does this shift provoke or transform?
The street is where life happens. If you want to know where the future of Brazilian art is headed, the answer lies in the streets, in the periphery. I approach this move to the stage with care and heightened awareness, always questioning what is at stake — dodging traps and trying to survive. The big question I keep asking myself is how to bring this to the stage without killing the reality of these cultures. It’s about staying true to their urgencies while resisting expectations.

How do you see the role of dance in today’s society and what can it mobilize or reveal about our times?
I believe dance has often avoided questioning its place and responsibility in contemporary society, and this is reflected in festival programming. Placing the body as an agent of its time should position dance as a leading voice in driving social change. Yet we often arrive late to this conversation compared with other art forms. Perhaps it is fear of disappearing that makes dance rely on repetition rather than embracing transformation.

Synopsis

Vogue Funk

From alleyways to stages, from street battles to spotlights, from tangled power lines to fiodental (G-string) bikinis — funk balls and vogue balls collide in this dance performance directed by Patfudyda. Although they emerged in different geographic and historical contexts, both movements have in common their peripheral and predominantly Black origins, as well as their role as symbols of cultural, political, and social resistance. Featuring performers from both artistic expressions, the work explores their choreographic attitude and layers codified gestures of peripheral bodies into images that disrupt conventional meanings, opening space for new narratives. On stage, poses and steps defy norms while forging new historical and cultural connections.

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