02/09/2025
A pesquisa da companhia está conectada à cultura hip-hop, mas busca também outras técnicas. De que maneira essas linguagens se combinam e como a batalha contribui para a inventividade em cena?
Dentro das nossas pesquisas, buscamos manter vivas as estéticas de danças como locking, popping, breaking, hip-hop e krumping. A escolha dessas linguagens se dá em diálogo com o conceito de cada obra. Além disso, as outras linguagens que integram os processos de criação – sejam elas dança-teatro, ginástica acrobática e circo – alimentam principalmente a preparação corporal e ampliam o vocabulário motor. A cultura hip-hop e seus elementos (especialmente a dança, o breaking, o MC e o DJ) têm uma forte conexão com as batalhas, as competições e a improvisação. Entendemos que o ambiente das batalhas, das rodas e dos desafios diretos entre artistas mantém viva a essência do hip-hop, criando um espaço potente de troca, estímulo e criação. Esse ambiente é fértil por provocar o desejo de superação. A todo momento, somos desafiados a apresentar o nosso melhor, a criar no instante. É nesse contexto – de improviso e confronto construtivo – que novos passos e possibilidades surgem. A batalha não é apenas uma competição, mas um motor criativo que mantém a dança ativa, viva e em constante transformação.
Quando ritmo e atitude se encontram, a dança se torna linguagem. Não é só execução, é expressão.
O showcase é o encontro do flow com o flava – o ritmo com a atitude. Como se articulam esses conceitos?
Flow e flava fazem parte do vocabulário da cultura hip-hop. Resumidamente, o flow é a fluidez com que o corpo se desloca dentro do ritmo. É o caminho entre um passo e outro, a cadência com que se ocupa o tempo musical. Um bom flow não é só saber o tempo certo de entrar ou sair de um movimento, mas como isso é feito, como se “navega” pela música. Já a flava (ou flavor) é o tempero, a personalidade no gesto. É o detalhe que transforma um movimento comum em algo autêntico e memorável. A flava é o estilo, a alma, a vivência que artistas imprimem no corpo em movimento. É o que faz com que dois corpos, no mesmo passo, transmitam mensagens diferentes. Quando ritmo e atitude se encontram, a dança se torna linguagem. Não é só execução, é expressão. É o momento em que o corpo não apenas acompanha a música, mas conversa com ela.
Como você enxerga o papel da dança na sociedade atual e o que ela pode mobilizar ou revelar sobre nossos tempos?
No contexto atual, a dança se torna uma maneira de nos mantermos vivos e ativos. Ela é uma das principais formas de conectarmos nossos sentidos e de percebermos o mundo, aguçando também o nosso sexto sentido: a propriocepção e a cinestesia que colaboram com a consciência corporal. A dança é uma forma de sentir nosso corpo no mundo. Ao dançar, ampliamos uma inteligência múltipla que nasce do corpo em movimento. Em um mundo contemporâneo cada vez mais tecnológico, que tende a reduzir o movimento, a dança se torna essencial. Ela promove autoconhecimento, qualidade de vida, e mantém vivas as tradições culturais.
Nesta tarde de encontros, apresentações e batalhas, os intérpretes da Cia. Eclipse Cultura e Arte se lançam em movimentos performáticos e, por vezes, acrobáticos. Cria-se, assim, um espaço para que os participantes improvisem em estilo livre, respondendo à música e bebendo nos movimentos da cultura hip-hop. Durante toda a apresentação, buscam um equilíbrio entre o flow (a fluidez do corpo e sua cadência dentro de um ritmo) e o flava (ou flavor, o tempero e a personalidade em cada gesto). Assim, os corpos não apenas acompanham a música, mas criam um diálogo com ela. Trazem gestos que visam à originalidade, à potência, à diversidade e à criatividade. Já na batalha, um júri acompanha o campo de combate, celebrando a autenticidade de cada performer. A batalha ultrapassa a arena competitiva e transforma-se em um motor criativo que mantém a dança ativa, viva e em constante transformação.
Your company’s research is rooted in hip-hop culture but also draws from other techniques. How do these languages intersect, and how does the battle contribute to inventiveness on stage
In our research, we seek to keep alive the aesthetics of dances such as locking, popping, breaking, hip-hop, and krumping. The choice of languages is guided by the concept of each piece. Other forms that integrate the creative process — dance-theatre, acrobatics, circus — mainly feed body preparation and expand our movement vocabulary. Hip-hop culture and its elements (especially dance, breaking, the MC, and the DJ) have a strong connection with battles, competitions, and improvisation. We understand battles, cyphers, and direct challenges between artists as vital spaces that keep hip-hop’s essence alive, generating exchange, stimulation, and creativity. This environment is fertile precisely because it provokes the desire to surpass oneself. We are constantly challenged to give our best, to create in the moment. In this context — of improvisation and constructive confrontation — new steps and possibilities arise. A battle is not just competition; it is a creative engine that keeps dance active, alive, and in constant transformation.
When rhythm and attitude meet, dance becomes language. It’s not just execution — it’s expression.
The showcase is the encounter of flow and flava — rhythm and attitude. How do these concepts articulate with each other?
Flow and flava are part of hip-hop’s vocabulary. Flow is the fluidity with which the body moves within rhythm. It’s the pathway between one step and the next, the cadence with which musical time is occupied. Good flow isn’t just knowing the right time to enter or exit a move, but how it is done, how one “navigates” the music. Flava (or flavor) is the seasoning, the personality in the gesture. It’s the detail that transforms an ordinary move into something authentic and memorable. Flava is style, soul, lived experience imprinted on the body in motion. It’s what makes two dancers performing the same step transmit different messages. When rhythm and attitude meet, dance becomes language. It’s not just execution — it’s expression. It’s the moment when the body doesn’t just follow the music but speaks with it.
How do you see the role of dance in today’s society, and what can it mobilize or reveal about our times?
Today, dance is a way to stay alive and active. It is one of the main forms of connecting our senses and perceiving the world, sharpening also our sixth sense: proprioception and kinesthesia, which build body awareness. Dance is how we feel our own bodies in the world. When we dance, we expand a multiple intelligence born of the moving body. In an increasingly technological world that tends to reduce movement, dance becomes essential. It fosters self-knowledge, quality of life, and keeps cultural traditions alive.
In this afternoon of encounters, showcases, and battles, the performers of Cia. Eclipse Cultura e Arte launch into movements that are both performative and, at times, acrobatic. The result is a space where participants improvise freely, responding to the music and drawing from hip-hop culture’s vocabulary of movement. Throughout the presentation, they seek a balance between flow — the body’s fluidity and cadence within rhythm — and flava (or flavor) — the “seasoning”, personality, and attitude behind each gesture. The bodies don’t just follow the music; they engage in dialogue with it. Their gestures strive for originality, power, diversity, and creativity. During the battles, a jury presides over the arena, celebrating each performer’s authenticity. The battle goes beyond competition, transforming into a creative engine that keeps dance active, alive, and in constant transformation.
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