
A exposição Gainsbourg, artista, cantor, poeta etc., desenvolvida pela Cité de la Musique de Paris e exibida no Sesc Avenida Paulista em 2009. Foto: Piu Dip
Do teatro da diretora Ariane Mnouchkine à exposição Levantes, concebida pelo filósofo e historiador da arte Georges Didi-Huberman; dos mergulhos científicos nos universos de Louis Pasteur (1822-1895) e Charles Darwin (1809-1882), promovidos em parceria com o Universcience, à inventividade performática da artista ORLAN. Por diversas vias e linguagens, as relações de cooperação com a França marcam profundamente as últimas décadas de história do Sesc São Paulo em uma trajetória profícua de trocas, intercâmbios e realizações.
Fruto de uma construção de longo prazo envolvendo agentes, instituições e órgãos diplomáticos franceses, essas e tantas atividades desenvolvidas fazem parte de uma história que tem nos anos de 2005 e 2009 dois de seus capítulos fundamentais. Ao percorrer a programação da Temporada França-Brasil 2025, é imprescindível mencionar a temporada bilateral anterior e os legados que dela derivaram – conexões, intercâmbios e espetáculos que, passados mais de 15 anos, permanecem vivos na memória de muitos de seus espectadores e participantes.
Em 2005, por ação conjunta do governo federal brasileiro e do governo francês, a realização do Ano do Brasil na França foi considerada um sucesso. Parte das chamadas Saisons Culturelles Étrangères en France [temporadas culturais estrangeiras na França] – que, desde 1985, homenagearam diferentes países como China, Japão, Índia, Egito, Argélia e Polônia –, a programação sob o título “Brésil, Brésis” primava pela multiplicidade, procurando romper com os clichês e visões estereotipadas do Brasil. Para além da tríade café-futebol-carnaval, entrava em cena a produção cultural de um país cheio de especificidades e nuances, profundamente engajado na construção de seu futuro.
Na ocasião, cerca de 400 projetos artísticos, científicos e acadêmicos foram levados à França, entre eles, dois grandes destaques da programação do Sesc São Paulo: o espetáculo de dança Samwaad – Rua do Encontro, de Ivaldo Bertazzo, e a exposição de Bidules (Geringonças) de Mestre Molina (1917-1998), parte do Acervo Sesc de Arte. Poucos anos depois, os governos se juntavam novamente para estabelecer uma cooperação em sentido inverso. Nascia o Ano da França no Brasil.
Lançada em 2008 e ocorrida entre 21 de abril e 15 de novembro de 2009, a conjunção de eventos tinha por objetivo aprofundar laços bilaterais por meio da promoção da cultura francesa contemporânea em solo brasileiro, em uma iniciativa que envolveu também o setor privado, instituições culturais e universidades de ambos os países. A convite dos então ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Cultura, Gilberto Gil, o então diretor do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda (1943-2023), foi nomeado presidente do Comissariado Brasileiro, o que contribuiu para fazer da instituição uma das principais protagonistas da temporada. Por meses, o dirigente do Sesc São Paulo e equipes trabalharam em parceria com a Comissária Geral Francesa Anne Louyot – que assume novamente a temporada atual – na articulação dos 560 projetos que integraram a programação oficial intensiva.
A atuação do Sesc, à época, enfatizou a importância de uma temporada não apenas diplomática, mas também democrática, que permitisse ao maior número possível de brasileiros o contato com o que havia de mais inovador na França nas diversas artes e em domínios como tecnologia, gastronomia e moda, com ênfase no intercâmbio entre artistas e nos debates que pulsavam naquele momento.
Como manter as identidades e especificidades culturais vivas em um mundo cada vez mais globalizado e ameaçado pela homogeneização? Para a primeira década do século 21, essa parecia ser uma das questões centrais. Louyot, na ocasião, chegou a comentar sobre o desejo comum dos dois países em manter a originalidade e diversidade de seus costumes contra o perigo de uma globalização cultural.
Embora discussões sobre a representatividade de minorias – negros, mulheres, comunidade LGBTQIA+ – e crise ambiental já existissem, elas não desempenhavam, nem de longe, o protagonismo que têm hoje na agenda política, social e cultural e na produção artística das mais variadas linguagens.

Entre os destaques da programação do Ano da França de 2009 no Sesc, vale mencionar o espetáculo Os reis preguiçosos, da Cia. Transe Express – um imenso cortejo teatral que ocupou o Parque da Independência; a exposição Gainsbourg, artista, cantor, poeta etc., desenvolvida pela Cité de la Musique de Paris e exibida no Sesc Avenida Paulista; as montagens O grande inquisidor e A dor, ambas dirigidas por Patrice Chéreau (1944-2013); a mostra Henri Cartier-Bresson: Fotógrafo, no Sesc Pinheiros; e a instalação Prenez soin de vous (Cuide de você), da artista Sophie Calle, apresentada no Sesc Pompeia, entre outras.
Separadas por 16 anos, tantos acontecimentos e tantas mudanças nos modos de olhar, é impossível não comparar sonhos, aspirações e ameaças que atravessam os dois momentos. Que venha a Temporada França-Brasil 2025 com seus diálogos expandidos com o continente africano, com o protagonismo das mulheres e com a construção de novas pontes. Diante de temas e desafios renovados, persiste a amizade, a admiração mútua e a colaboração criativa para construção de futuros possíveis permeados pela afirmação dos valores democráticos.
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Acompanhe a programação da Temporada França-Brasil 2025 em www.sescsp.org.br/francabrasil2025
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