Somos todos bailarinos

02/09/2025

Compartilhe:

Leia a edição de SETEMBRO/25 da Revista E na íntegra

Ato 1   

A primeira lembrança que tenho da dança sou eu, muito pequeno, dançando em frente à televisão. Lembrança essa confirmada pela minha mãe. Depois vieram os bailes nas festas de casamento, aniversários, escola e festas juninas. Eu, sempre dançando. Daí para uma sala de aula de dança clássica (não havia outras práticas àquela época) foi um passo. O primeiro espetáculo de dança a que assisti, num teatro, foi Do homem ao poeta, da Cisne Negro Cia. de Dança. Na época, década de 1980, eu já fazia aulas de dança e meu contato se deu, primeiramente, pela prática. Depois, pela experiência como público. No começo, eu mais dançava do que assistia à dança. Falta de informação, questões econômicas e de locomoção, entre outros fatores, dificultavam o acesso aos espetáculos. Depois, comecei a frequentar os teatros, mais como público do que como praticante de dança e, aos poucos, descobri outros modos de vivenciar a dança, seja praticando, assistindo, discutindo, pensando ou escrevendo a respeito. 

Ato II 

Cena 1 – Sesc Interlagos (1999/2000) 

Após uma apresentação dos alunos da Escola Municipal de Bailado de um espetáculo do repertório dos balés românticos, uma senhora, saindo do teatro, aos prantos, me confessou: 

― Foi a coisa mais linda que vi em toda a minha vida! 

Cena 2 – Sesc Pompeia (2001/2002) 

Um menino que vendia balas em frente ao Sesc, na área de Convivência, sentado no chão, ao lado da caixa de balas, assistia, com os olhos vidrados, à Ruth Rachou falando sobre Martha Graham, enquanto bailarinos demonstravam a técnica moderna desenvolvida pela artista. 

Cena 3 – Sesc Santo Amaro (2018/2019) 

Numa intervenção de dança, durante a Virada Cultural, vários cadeirantes e pessoas neurodivergentes dançavam com os bailarinos, com as crianças e funcionários em um grande baile. 

Cena 4 – Em qualquer lugar e em qualquer tempo do século 20/21 

Após um espetáculo de dança(s) contemporânea(s): 

― Não entendi nada! 

― Eu também não, mas adorei! 

Ato III 

Há diversas maneiras pelas quais as pessoas podem se relacionar com a(s) dança(s). A relação pode começar pela experiência sensível, no sentido da beleza percebida pelo espectador. Pode partir de uma vivência corporal, ou seja, pela prática do movimento; pode se dar pela busca de um entendimento, ao querer dar um sentido àquela manifestação, ali apresentada, e que, por sua vez, provoca e exige outras formas de entendimento. Não importa por qual entrada a dança nos afeta, o que importa é que ela nos faz sentir – bem ou mal; gostar ou não; entender ou instigar sentidos. Pensar, experimentar, ler e escrever, assistir à dança são as diversas maneiras da dança existir e resistir. Assim, somos todos bailarinos. 

Ato IV 

Termino esse experimento coreográfico-discursivo pois preciso ir para a aula de dança. Até o próximo ato e a próxima dança.   

  • Marcos Villas Boas é praticante, público e pensador de dança. Formado em filosofia e linguística, mestre em comunicação e semiótica. Atua na área de programação de dança do Sesc São Paulo desde 1998. 

A EDIÇÃO DE SETEMBRO DE 2025 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Para ler a versão digital da Revista E e ficar por dentro de outros conteúdos exclusivos, acesse a nossa página no Portal do Sesc ou baixe grátis o app Sesc SP no seu celular! (download disponível para aparelhos Android ou IOS).

Siga a Revista E nas redes sociais:
Instagram / Facebook / Youtube

A seguir, leia a edição de SETEMBRO na íntegra. Se preferir, baixe o PDF para levar a Revista E contigo para onde você quiser!

Conteúdo relacionado

Utilizamos cookies essenciais para personalizar e aprimorar sua experiência neste site. Ao continuar navegando você concorda com estas condições, detalhadas na nossa Política de Cookies de acordo com a nossa Política de Privacidade.