Um Recanto Aprazível

27/10/2025

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Em uma organização como o Sesc, as fotos e vídeos institucionais cumprem um papel relevante: não apenas registram e narram sua trajetória, como também são fundamentais para divulgar ações e serviços oferecidos aos públicos. Além disso, exercem uma função de transparência, servindo como evidência do trabalho realizado perante a sociedade, empresas mantenedoras, poder público e a população em geral.  

O relatório anual de 1949 registra a criação de um departamento para cuidar de “Serviços de Divulgação” dos recém-fundados Sesc e Senac. A premissa de fotografias e filmagens como prestação de contas já constavam no texto (páginas 85 a 88)

Hoje em dia, o Sesc São Paulo mantém um Centro de Produção Audiovisual próprio, estruturado para garantir o registro e divulgação das ações. Equipamentos de captação e edição facilitam o trabalho de registro e posterior difusão das ações da instituição. Essa prática ocorre desde o início da atuação da instituição, com fotos e filmagens das primeiras ações.

Acima, registro fotográfico de 1947 documenta a construção do Colônia de Férias Ruy Fonseca.

Nessa época, sem os recursos digitais atuais, era mais custoso e complexo produzir material audiovisual. E isso valia tanto para empresas que precisassem produzir vídeos institucionais quanto para empresas cinematográficas que queriam executar suas próprias produções. 
 
Juntando os dois lados, não é de se estranhar que tenham sido realizadas eventuais permutas de serviço. 
 
Um exemplo dessa situação aconteceu no começo da década de 1960, envolvendo o Sesc e a empresa Kamera Produções em torno da Colônia de Férias Ruy Fonseca, atual Sesc Bertioga. 

A motivação dessa história foi a produção do filme “A Ilha”, de Walter Hugo Khouri (1). O filme de longa-metragem narra a história de um grupo de milionários que, fugindo do tédio, decide partir em uma aventura de fim de semana: uma caçada a um tesouro lendário em uma ilha deserta. No entanto, o desaparecimento do iate que os transportava os prende à ilha e à libertação de suas verdadeiras personalidades.

O roteiro tinha o cenário como ponto de partida, o que encarecia sua produção. Manter uma equipe completa no litoral durante o período de filmagens envolvia custos elevados e uma logística complexa. É importante ressaltar que, há mais de 60 anos, as alternativas de locomoção e hospedagem eram bem menos disponíveis na região do que são hoje. Mas o Sesc já estava instalado por lá desde 1948. 

Foi daí que surgiu a permuta. Os produtores de Khouri fecharam um acordo: o Sesc providenciaria hospedagem para a equipe durante as filmagens e os produtores retribuiriam com um vídeo sobre a Colônia. E assim nasce o curta-metragem “Um Recanto Aprazível”, feito em película 35mm. 

Tanto o longa de ficção quanto o curta institucional compartilharam equipamentos e parte da equipe. Khouri, por exemplo, dirigiu apenas a produção da Kamera. Já “Um Recanto Aprazível” ficou sob responsabilidade e assinatura do jovem assistente de direção Alfredo Sternheim (2), que depois fez carreira na “Boca do Lixo”, região do centro de São Paulo que ficou conhecida pelo chamado Cinema Marginal.

O filme, de sete minutos e meio, apresenta brevemente a região de Bertioga/SP antes de destacar a Colônia de Férias Ruy Fonseca e alterna trechos de narração em tom institucional com cenas mais lentas com trilha orquestral. Tudo isso era acompanhado de sequências de filmagem longas e idílicas, mostrando a tranquilidade e alegria de férias no litoral e as belezas da região e das instalações do Sesc. A montagem, de característica vagarosa e contemplativa, foi realizada por Máximo Barro (3). 
 
Tanto no estilo artístico e acabamento técnico como na história de sua produção, “Um Recanto Aprazível” acaba refletindo a época e as condições em que foi produzido. É um filme que traz mais história nos bastidores do que nos revelam seus fotogramas.

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