VESTIR A CENA | Passeio fotográfico por figurinos de Antunes Filho

01/05/2022

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 Leia a edição de maio/22 da Revista E na íntegra 

No palco, o figurino torna-se a segunda pele do artista. Para o diretor Antunes Filho (1929-2019), criador, em 1982, do Centro de Pesquisa Teatral – CPT_SESC, os trajes cênicos eram os responsáveis por emular o imaginário necessário à criação dos personagens e da cena. “O figurino é isso, é o toque. Através da roupa que você toca é que se entra no subcutâneo, no espírito da coisa, não somente na aparência. Você está além da parte física”, disse no depoimento em vídeo Restauro do Acervo de Figurino do Centro de Pesquisa Teatral_CPT_SESC, disponível na plataforma Sesc Digital.  

Assistente do diretor no CPT_SESC por 23 anos, o diretor, ator e produtor Emerson Danesi recorda a importância do figurino na obra e na pesquisa de Antunes Filho. “Desde o princípio dos ensaios, ele pedia para que escolhêssemos no acervo as vestes que, de alguma forma, trariam algo do universo da personagem, algo que já nos colocasse na metáfora, na poesia, na experiência dramática/dramatúrgica. Para Antunes, o figurino era como uma continuidade da pele, da alma, da energia das personagens”, conta.

Desde as cores, as texturas e as formas até a sobreposição dos acessórios etc. Cada elemento tinha seu papel, segundo Danesi. “Era bonito, também, perceber a evolução ou a transformação dessas indumentárias, saindo de um plano mais geral e caminhando para a síntese, para o detalhe que revelava cada caráter, cada personalidade. Falo do ponto de vista do ator, que estava nos processos do lado de dentro, percebendo que cada detalhe que ia surgindo na vestimenta revelava um tantinho a mais das personagens, mostrava mais uma camada, expressando a existência daqueles seres”, complementa Emerson Danesi, que também é assistente técnico do Sesc Consolação.

Do restauro à preservação

A fim de preservar essa memória em costuras, sapatos e acessórios desde a criação do CPT_SESC em 2010, o Sesc Memórias concentrou esforços sobre esse acervo. O ponto de partida foi um diagnóstico que permitiu levantar informações acerca do estado de conservação dos trajes cênicos. Em seguida, foi realizado um trabalho em conjunto com o CPT_SESC nas seguintes etapas: pesquisa em documentos textuais e iconográficos; separação e identificação dos trajes; reorganização do espaço e das condições do acervo; higienização, reparos ou restauro, quando necessário; inventário; produção de registro fotográfico das peças e sua divulgação.

Em 2016, teve início a higienização e os reparos do conjunto de figurinos sob supervisão de Rosângela Ribeiro, que trabalhou como figurinista do CPT_SESC por mais de uma década. Depois, foram registrados pelo fotógrafo Bob Sousa, ao todo, 150 trajes cênicos de 13 espetáculos, compostos por 470 itens. Desse acervo fazem parte: A Hora e Vez de Augusto Matraga, Antígona, Foi Carmen, Fragmentos Troianos, Gilgamesh, Medeia, Medeia 2, Nossa Cidade, Toda Nudez Será Castigada, Trono de Sangue, A Pedra do Reino, Vereda da Salvação e, parcialmente, Xica da Silva. Os registros dos figurinos, além de peças gráficas (a exemplo de cartazes e filipetas), fotos de cena e relatos em vídeo do diretor e do elenco podem ser visitados, e ser material de pesquisa para o público, na plataforma Sesc Digital. 

Neste ano, a segunda etapa de restauração dos trajes cênicos começou a ser realizada, desta vez sob condução do cenógrafo e figurinista J.C. Serroni – ele próprio criador de muitos figurinos do CPT_SESC. A previsão é de que seja concluída até setembro.

Passado, presente e futuro

Elemento seminal para o espetáculo, o figurino das montagens de Antunes Filho no CPT_SESC ainda preserva a memória deste que é um dos grandes personagens da história do teatro brasileiro. “Aprendemos muito através dos ensinamentos, da memória do teatro. O teatro, como qualquer outra atividade humana, vem de um passado e vai para um futuro, então é fundamental a memória. Nós temos que ter a memória permanentemente presente para que você possa dar o próximo passo, o passo de responsabilidade”, já disse Antunes Filho.  

Para a historiadora Marta Colabone, gerente da Gerência de Estudos e Desenvolvimento do Sesc São Paulo, a escolha da instituição de ter um Centro de Pesquisa Teatral, “um local aglutinador de encontros, produções, experimentos e gerações”, também implica a preservação de suas memórias. “Preservar os figurinos dos espetáculos produzidos pelo CPT_SESC é uma forma de deixar latente o que se passou em cena; é evocar uma personagem; é conhecer técnicas e materiais de um determinado período.

Enfim, é uma forma de preservação de certos elementos da cultura material e, ao mesmo tempo, as imaterialidades que ela carrega. Nesse sentido, podemos dizer que contribuímos também para a preservação das memórias do teatro e, numa perspectiva expandida, da própria sociedade”, analisa.

Faça um passeio fotográfico por 15 figurinos dos espetáculos encenados por Antunes Filho que compõem o repertório do CPT_SESC (Centro de Pesquisa Teatral):

Acesse o acervo do Centro de Pesquisa Teatral – CPT_SESC na íntegra

A EDIÇÃO DE MAIO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, refletimos sobre o retorno da atividade turística a partir de novos mapas que fomentam a economia local e valorizam a diversidade cultural de uma região. Ao repensar o turismo, convidamos você a dobrar a esquina, descobrir outras narrativas e visitar novos universos dentro da sua própria cidade. Aproveite para conferir as novidades do processo de retomada dos roteiros do Turismo Social do Sesc São Paulo.

Além disso, a Revista E traz outros destaques em maio: uma reportagem que defende a importância do livre brincar como ação essencial para o desenvolvimento das crianças; um papo com a atriz e performer Denise Stoklos sobre processo criativo, velhice e família; um passeio visual pelos figurinos do CPT_SESC, centro teatral criado por Antunes Filho no Sesc Consolação; um depoimento com Sebastião Salgado sobre sua imersão na floresta, o que gerou a exposição Amazônia, no Sesc Pompeia; um perfil de Maria Firmina dos Reis, fundadora da literatura abolicionista no Brasil; um encontro com Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e uma das principais vozes do empreendedorismo negro no país; um roteiro por espaços e projetos que praticam o acolhimento materno na capital paulista; o conto inédito As Substitutas, do escritor João Anzanello Carrascoza; e dois artigos que abordam conquistas e desafios da presença das mulheres indígenas na literatura.

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