Cursos de educação a distância democratizam o conhecimento

30/11/2022

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Confira a edição de dezembro/22 da Revista E na íntegra

Cursos livres de educação a distância democratizam acesso ao conhecimento e instigam aprendizado de saberes diversos   

Por Maria Júlia Lledó 

Algumas pessoas são guiadas pela curiosidade por novos saberes. Outras testam o interesse por um assunto, o que pode determinar a escolha por uma graduação ou curso de especialização, por exemplo. As razões são inúmeras e as motivações, as mais diversas possíveis. O fato é que há um número crescente de brasileiros que se matriculam em cursos livres de educação a distância (EAD), modalidade que ganha novos adeptos ano após ano. E esse processo foi impulsionado pela pandemia, quando escolas, universidades e instituições culturais tiveram que fechar as portas de suas instalações físicas, voltando seus olhares e investimentos para cursos remotos. 

“Com certeza, a pandemia acelerou esse tipo de formação. Curiosamente, o convite para que eu fizesse um curso EAD veio antes da pandemia, no início de 2020. Naquele momento, esse formato não era tão comum e pretendia dar conta de um público distante das grandes capitais, como possibilidade de pulverização e democratização do conhecimento”, conta a iluminadora cênica Marisa Bentivegna, que realizou o curso Iluminação Cênica, disponível na plataforma EAD do Sesc São Paulo  [Leia mais em Multiplicar conhecimento]. “Logo depois, com o início da pandemia, o contato não presencial virou uma necessidade concreta, então, muitos cursos regulares, como em escolas e universidades, e cursos livres, precisaram aderir ao formato online”, relembra. 


No curso Construindo o futuro: introdução alimentar para bebês até dois anos, disponível na plataforma de educação a distância do Sesc São Paulo, a nutricionista Rachel Francischi compartilha conhecimentos de nutrição infantil para promover a saúde da criança.

A relação das pessoas com a internet se intensificou, trazendo uma mudança de hábitos e ampliando a frequência de acessos ao universo digital. Como resultado dessa hiperconexão, muita gente buscou ocupar o tempo livre aprendendo novos conteúdos, segundo observa Leonardo Martins, professor colaborador do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “Muitas pessoas, preocupadas em ‘não parar a vida’, viram na EAD a oportunidade  de continuar se aprimorando. Eu também me engajei nisso”, compartilha Martins, que conduziu o curso Pensando bem: lógica, razão e fake news, disponível na plataforma EAD do Sesc São Paulo.

De acordo com o pesquisador em educação online Márcio Rafael Cruz, essa oferta de cursos remotos também foi incrementada pelo número de professores que ficaram inviabilizados de ministrar aulas presenciais durante a pandemia. “Sem dúvida, o surgimento de mais cursos online seria inevitável. Mas, as condições geradas pela pandemia catalisaram esse cenário por vários motivos: minhas pesquisas sugerem que esse aumento esteja diretamente relacionado, prioritariamente, à possibilidade de gerar renda ao produtor do referido conteúdo. Ou seja, a necessidade também gerou e potencializou a oportunidade”, analisa o especialista, que é doutorando em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

BENEFÍCIOS À VISTA

Aprender um idioma ou uma nova área de conhecimento é uma prática recomendada por especialistas da saúde por estimular conexões através de um processo chamado neuroplasticidade – em regiões cerebrais envolvidas na memória e na atenção.  Dessa forma, o interesse que nos move a conhecer conteúdos diversos, que não necessariamente estejam ligados à nossa profissão ou área de estudo, contribui para aumentar nossa reserva cognitiva. Algo essencial no processo de envelhecimento, já que há perda de neurônios com o passar dos anos. Por isso, entre outras modalidades de ensino, cursos livres no ambiente digital também estão alinhados à busca por bem-estar e longevidade. 

São muitas as opções oferecidas por instituições culturais que procuram encurtar a distância entre quem deseja aprender e especialistas. É o caso do Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Museu da Imagem e do Som (MIS), a Casa das Rosas, o Instituto Tomie Ohtake, o Itaú Cultural e a Plataforma Veduca – que hospeda alguns cursos livres da Universidade de São Paulo (USP). A partir de videoaulas gravadas, ou transmitidas ao vivo (em plataformas de videochamadas e lives), desvelam-se conteúdos como: história da arte, cinema e literatura. “A gratuidade de boa parte desses cursos é um incentivo a mais para que as pessoas continuem estudando e aprendendo”, pondera Leonardo Martins. 

A iluminadora cênica e professora Marisa Bentivegna também destaca que esses cursos representam a possibilidade de um aprendizado específico em regiões do país onde não existem escolas profissionalizantes. “Também é a chance de um jovem experimentar uma área de trabalho antes de se dedicar a uma formação mais aprofundada”, observa. Para o pesquisador Márcio Rafael Cruz, “esses modelos de curso podem revelar novas formas de entender o desenvolvimento do profissional do futuro”. 

É A CHANCE DE UM JOVEM EXPERIMENTAR UMA ÁREA DE TRABALHO ANTES DE SE DEDICAR A UMA FORMAÇÃO MAIS APROFUNDADA
Marisa Bentivegna, iluminadora cênica e professora

O curso Iluminação cênica, ministrado por Marisa Bentivegna, aproxima os participantes das questões técnicas e artísticas mais relevantes dessa área de atuação.

Isso porque, ele complementa, “o desenvolvimento de competências e habilidades está cada vez mais diverso, e não apenas nas mãos de instituições de ensino”. Dessa forma, muitos desses cursos servem, inclusive, como “porta de entrada” para quem aspira uma graduação, mestrado ou especialização, mas ainda tem dúvidas. 

FIQUE ATENTO

O ensino de cursos livres a distância também impõe seus desafios. “Como tudo isso é meio novo, nós, professores, normalmente não fomos preparados para o formato virtual. Vamos desenvolvendo a nossa didática adaptada à EAD, predominantemente na base da tentativa e erro”, nota Martins. O professor também aponta que a interação com os alunos é muito mais difícil. “Se na sala de aula vemos os seus rostos e conseguimos inferir se eles estão entendendo ou não, se eles acharam graça ou não de uma piada feita pelo professor etc., no formato EAD, nós costumeiramente não fazemos ideia do que está acontecendo do outro lado da tela”, alerta. Soma-se ainda, em alguns casos, a necessidade de aulas presenciais. “Em áreas mais técnicas, como a iluminação cênica, é necessária uma experiência presencial complementar para o aprendizado da manipulação dos equipamentos, o que é inviável remotamente”, sinaliza a iluminadora cênica Marisa Bentivegna.

Também é preciso separar o joio do trigo antes de se inscrever naquele curso pelo qual você se interessou. Para isso, busque informações sobre a instituição ou organização que o oferece, pesquise sobre quem vai ministrar as aulas e cheque se o conteúdo oferecido tem como base fontes seguras. “Precisamos ter cuidado nessa escolha. Vemos muitos cursos disponíveis e aqueles que chegam até nós não são, necessariamente, os melhores, mas sim aqueles que fazem mais investimento em tráfego pago. Esse é outro cuidado que precisamos ter”, orienta o pesquisador em educação online Márcio Rafael Cruz.

O professor Leonardo Martins percebe, no retorno que recebe de seus alunos, os benefícios da oferta de cursos livres no formato EAD. “Como a internet torna o acesso mais fácil, nossa expectativa é que pessoas que talvez nunca teriam acesso a esses conteúdos tenham mais chance de estudar e aprender. Eu recebo, com frequência, mensagens de alunos que se inspiraram a partir dali a estudar mais e a fazer um mestrado ou outro aprimoramento. É um trabalho árduo, mas recompensador”, acrescenta. 

Multiplicar conhecimento

Que tal aprender e replicar conteúdos disponíveis na plataforma de educação a distância do Sesc São Paulo? 

Em consonância com o caráter de educação permanente que pauta todas as atividades realizadas pelo Sesc São Paulo, a plataforma de educação a distância (EAD) concentra e organiza, desde 2020, diferentes conteúdos em cursos nas áreas de artes visuais e cênicas, cinema, sustentabilidade, arte-educação, lazer, alimentação, música, entre outras. Hoje, mais de 43 mil pessoas estão cadastradas na plataforma, que já recebeu pedidos de universidades para que seu conteúdo seja incluído como material complementar em cursos de graduação.

“A Plataforma EAD do Sesc São Paulo é um convite para que mais pessoas ampliem seu repertório cultural. São cursos que promovem o primeiro contato do participante com um determinado assunto. Os inscritos também têm acesso a apostilas para que possam replicar o conteúdo apreendido, e esse é outro braço da plataforma. Esperamos que a pessoa que fez um de nossos cursos se sinta apropriada do conteúdo para poder multiplicá-lo”, explica Cláudia Dias Perez, coordenadora do núcleo de Conteúdo Integrado do Sesc.Digital. 

Atualmente, 13 cursos estão disponíveis – quatro deles lançados em 2020, três em 2021 e seis em 2022, nos quais 35 mil pessoas estão matriculadas. Neste mês, mais um curso será lançado: Ciclismo e Lazer, com o cicloativista Willian Cruz, idealizador do portal Vá de Bike. E, para 2023, estão previstos cursos de fotografia e de noções básicas de Língua Brasileira de Sinais (Libras). 

Confira alguns dos cursos livres e gratuitos disponíveis na Plataforma EAD do Sesc São Paulo:

Noções básicas de desenhos e narrativas de quadrinhos

O desenhista e quadrinista Rafael Coutinho convida os alunos para uma viagem pelas etapas de construção de uma HQ: conceitos básicos, materiais, linguagens e as principais técnicas, com demonstrações práticas do roteiro à arte final. 

Viola caipira

O instrumentista Ivan Vilela apresenta técnicas e dicas para tocar viola, utilizando elementos e ritmos da música caipira para estimular a prática associada à autonomia, com improvisos e incentivo à composição.

Iluminação cênica

Ministrado pela iluminadora cênica Marisa Bentivegna, o curso apresenta entrevistas com Chico César, Nelson Baskerville, Marcelo Romagnoli e Cristiane Paoli Quito, especialistas nas áreas de música, teatro e dança. Os relatos são mesclados com informações técnicas sobre  refletores e outros equipamentos mais encontrados nos espaços artísticos. 

Abordagem triangular e o ensino de arte na educação infantil

Como trabalhar as artes visuais com crianças de 3 a 5 anos? O curso tem como eixo norteador a Abordagem Triangular, proposta de ensino de arte para crianças sistematizada, há 30 anos por Ana Mae Barbosa, pioneira na arte-educação. As seis aulas, elaboradas por Ana Mae e Sidiney Peterson Lima, são conduzidas juntamente às arte-educadoras Analice Dutra Pillar, Valéria Peixoto de Alencar e Rita Noguera e o artista Moacir Simplício.

Consumo, resíduos e sustentabilidade

A Fubá Educação Ambiental, startup especializada em criar experiências socioambientais inclusivas, elaborou o curso que tem o objetivo de ajudar os alunos a terem atitudes mais sustentáveis no cotidiano. A apresentação é da atriz Thainá Duarte. 

Pensando bem: lógica, razão e fake news

Como o bom uso da racionalidade pode nos ajudar em variadas situações: das conversas
cotidianas à tomada de decisão sobre que produto comprar ou em que candidato votar.
O pesquisador Leonardo Martins apresenta o básico sobre interpretação de gráficos e tabelas, probabilidade, causalidade e outras técnicas lógicas conectadas a situações cotidianas.

Arquitetura e cidade no Brasil
O arquiteto, crítico e curador Guilherme Wisnik aborda a questão da modernidade arquitetônica e urbana no Brasil. Entre os temas das seis aulas, estão a busca pela identidade nacional, a luta pela habitação social e as práticas ativistas pelo direito à cidade. 

Construindo o futuro: introdução alimentar para bebês até 2 anos
A nutricionista Rachel Francischi compartilha conhecimentos de nutrição infantil para a promoção do crescimento saudável, desenvolvimento e saúde das crianças.

Como estamos envelhecendo?
Com apresentação da atriz e cantora Zezé Motta, o curso convida à reflexão sobre a cultura da longevidade e o envelhecimento ativo, desmistificando estereótipos ligados à velhice e apontando-a como uma fase de novas experiências, aprendizados e oportunidades.

Ciclismo e lazer
Elaborado por Willian Cruz, cicloativista e idealizador do portal Vá de Bike, o curso de seis videoaulas incentiva o uso da “magrela” no meio urbano. Disponível a partir de 8/12. 

O Pintor letrista
Em seis aulas, o designer e letrista Filipe Grimaldi apresenta noções básicas da pintura de letras. Os participantes têm contato com técnicas e métodos que permitem que qualquer pessoa consiga replicar, em casa, a elaboração de letreiros populares. 

Cinema brasileiro: o clássico e o moderno
Em seis aulas, elaboradas pelo pesquisador e crítico Ismail Xavier, os alunos percorrem o cinema brasileiro dos anos 1950 e 60, a fim de compreenderem como se deu a transição entre os estilos clássico e moderno.
Fundamentos de palhaçaria e comicidade física
Os atores-palhaços da Companhia LaMínima dão  dicas práticas, relatos inspiradores, pinceladas históricas e reflexões que ajudam os interessados a dar os primeiros passos nessa arte e a criar seus próprios espetáculos. 

Técnicas básicas de áudio e gravação
Voltado a quem se interessa pelo universo da produção musical, o curso é ministrado pelo engenheiro de som e músico Renato Coppoli, que  ensina o aluno a gravar e finalizar suas próprias músicas.

A EDIÇÃO DE DEZEMBRO/22 DA REVISTA E ESTÁ NO AR!

Neste mês, discutimos como os cursos livres de EAD (educação a distância) democratizam o acesso ao conhecimento, aproximam especialistas em diversas áreas de alunos interessados em se capacitar em novos saberes, e com isso ampliam o repertório cultural. A reportagem principal de dezembro aproveita o crescente número de matriculados em espaços de educação a distância, principalmente depois da pandemia, para apresentar a plataforma EAD do Sesc São Paulo, onde estão disponíveis, gratuitamente, 13 cursos livres.

Além disso, a Revista E de dezembro/22 traz outros conteúdos: uma reportagem que mostra como manuscritos borram a fronteira entre documento e obra de arte, propondo um olhar possível por entre frestas do tempo; uma entrevista com o diretor Miguel Rubio Zapata sobre as convergências do teatro peruano com o Brasil e a defesa da criação coletiva como atitude, e não método; um depoimento com a atriz Julia Lemmertz sobre os 40 anos de carreira e a dedicação ao teatro; um passeio visual por imagens que celebram o legado do pensador utópico Darcy Ribeiro no ano em que ele faria um século de vida; um perfil do romancista Lima Barreto, morto há 100 anos e um dos mais brilhantes nomes da nossa literatura; um encontro com o canto sagrado da cantora Virgínia Rodrigues; um roteiro por cinco espaços culturais da capital paulista que mantêm lojas e livrarias abertas ao público; um conto inédito da escritora e poeta Eliane Potiguara; e dois artigos que refletem sobre a coragem.

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